Por Ricardo Coiro
A afirmação “eu não quero ter filhos” costuma provocar tantos olhares de reprovação quanto “eu gosto de Sucrilhos com salsicha”. Duvida? No próximo Natal, entre o clássico “é pavê ou pá cume?” e a descrição tediosa do amigo secreto de alguém, afirme que não deseja ter filhos.
Vão olhar para você como se fosse uma alienígena verde com mamilos na testa e, logo em seguida, dirão que sua cabeça ainda vai mudar e que, um dia, sonhará em ser mãe. “Toda mulher sonha, querida!”. E de nada adiantará afirmar que filhos não ornam com seus planos nômades e que não está nem um pouco a fim de ser responsável por mais uma vida, viu?
Pois tentarão convencê-la de que é possível ter filhos sem abrir mão de nada, de que é muito fácil viver quicando de país em país com um carequinha lacrimejante no colo, de que colocar uma pessoinha no mundo não exige tanta responsabilidade quanto dizem por aí…
E sabe por que agirão assim? Porque acham que a vida de todos os seres humanos precisa se resumir a nascer, crescer, casar, procriar e morrer.
E se continuar a demonstrar que não pretende ter filhos, perguntarão coisas como “mas e quando você ficar velha?” e “para quem deixará suas coisas?”, como se as principais funções dos filhos fossem: limpar nossas bundas quando ficarmos velhos e herdar aqueles jogos de facas que nunca usamos. Saca?
Talvez, até se esqueçam do quanto este planeta está abarrotado de gente e digam que você precisa ter filhos para a preservação da nossa espécie, como se o futuro da raça humana dependesse somente do seu útero. Mas não depende, eu juro. Se achar melhor não ser mãe, a humanidade sobreviverá numa boa, não se preocupe.
Preocupe-se, apenas, com a sua real vontade, aquela que vem de dentro. Aliás, você sabe o que realmente quer? Consegue separar seus verdadeiros sonhos daqueles que disseram que precisa ter?
Se o seu maior sonho é plantar uma sementinha humana neste mundo, vá em frente – e faça com muito amor e carinho, pois se assim fizer, será extremamente lindo.
Contudo, se o máximo que quer é ser mãe de um cachorro, não se sinta culpada por isso. Vou além: não se sinta obrigada a ser mãe só porque dizem que deve ser e porque a maioria das mulheres quer loucamente.
Você é você, elas são elas. Ponto.
Para algumas pessoas, o principal objetivo da existência é ter filhos. Para outras (o meu caso e, se pá, o seu), o grande objetivo deste negócio doido é acumular experiências que não combinam muito com fraldas, horários para amamentar e gastos brutais com escola, papinha, vacina etc.
E tudo bem, né? O que seria do azul se todos gostassem do amarelo, não é mesmo?
Respeito quem quer tê-los, mas eu, Ricardo, não quero ter filhos.
Imagem de capa: Shutterstock/Alinute Silzeviciute
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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