O Ministro do Interior da França classificou o recente atentado terrorista em Paris como uma “falha da psiquiatria”, desencadeando debates no âmbito da saúde mental. O site Medscape entrevistou a Dra. Caroline Depuydt, psiquiatra e diretora médica assistente na Epsylon, na Bélgica, para obter insights sobre o tema. A especialista enfatizou a necessidade de analisar as nuances do caso.
“Não se pode negar que existem ligações entre o extremismo religioso e os transtornos psiquiátricos. Mas colocar tudo na conta dos transtornos psiquiátricos, e pensar que a radicalização religiosa é um distúrbio psiquiátrico em si, passível de tratamento, é totalmente ilusório e falso”, disse a Dra. Caroline. “É claro que, em alguns casos, trata-se de um distúrbio psiquiátrico; e é aí que os psiquiatras e os outros profissionais de saúde mental podem intervir”, continuou a psiquiátra.
No entanto, é importante saber diferenciar, disse a psiquiatra: “São duas coisas muito diferentes, mas que podem coexistir na mesma pessoa.” De acordo com a Dra. Caroline, a radicalização religiosa não é inteiramente uma patologia mental: “A radicalização é um movimento religioso de pessoas que podem acabar cometendo atos por inspiração religiosa ─ atos ilegais e terroristas. É um processo inteiramente independente da psiquiatria e da doença mental. Em paralelo, o que observamos — e a linha é tênue — são as ilusões místicas de inspiração religiosa”, continuou a especialista.
“O processo psicótico de desconexão da realidade é marcado pelo fato religioso e tem elementos delirantes que são chamados de ‘místicos’. É tipicamente a convicção, por exemplo, de ser a reencarnação de Jesus, de Alá ou de Maomé, variando de acordo com a origem religiosa e cultural [do indivíduo]. Obviamente, quando se trata de um distúrbio delirante, isso é tratado com neurolépticos”, disse a médica.
“Pode haver uma intersecção entre a radicalização religiosa e os transtornos psiquiátricos, porque as pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos são mais frágeis, mais vulneráveis e talvez mais influenciáveis e também muitas vezes vivem solitárias, em [situações de] precariedade social ou socioeconômica”, observou a Dra. Caroline. “Todos estes fatores tomados em conjunto, inclusive o fator psíquico, podem tornar a pessoa mais sensível e vulnerável a estímulos de radicalização. O indivíduo pode passar a ter menos discernimento, ser convencido e ter menor senso crítico, e talvez seja induzido a pensar que faz parte de um grupo ou de uma ação conjunta. Isto explica por que, visivelmente, existem mais pessoas com distúrbios psiquiátricos entre pessoas radicalizadas, mas é claro que não se trata de uma correspondência total. Há muitas pessoas radicalizadas que não sofrem de transtornos psiquiátricos e há muitas pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos que não são necessariamente radicalizadas”, acrescentou.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações do Medscape.
Imagem destacada: Reprodução.
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