Quando eu era pequena, por muitas vezes via minha mãe fazer cortes nos troncos das árvores frutíferas e não entendia bem aquele ato. Questionada sobre o porque fazia aquilo, minha mãe sempre dizia que era preciso machucar a árvore para que ela produzisse mais frutos e frutos melhores, mais saborosos.

Não sei de onde vinha essa sabedoria/conhecimento da minha mãe, mas o que de fato acontecia, é que as frutas realmente vinham muito saborosas na próxima época de produção.

Até hoje me pego pensando nisso e avaliando o quanto da natureza imitamos. A verdade por trás desse acontecimento nunca me foi explicado, mas o que percebo é que muitas pessoas, que sofreram muito, que passaram por grandes tormentas e provações, acabam por se tornarem melhores, mais fortes e mais inteiras após cada processo doloroso sofrido.

Não precisamos entender muito de biologia, ciência, medicina, para compreendermos a “magia” que acontece no processo da vida.

Também não é novidade que o impulso de vida é maior que tudo e onde a natureza quer brotar ela invade mesmo. Muitas plantas, por exemplo, buscam a luz solar e mudam seu crescimento de acordo com suas necessidades de sobrevivência.  Nascem nos locais mais improváveis, cumprindo seu papel de florescer, bem como, nos encantar com a beleza a vida onde nada poderia haver ali.

Nós humanos, enquanto seres vivos, também imitamos a natureza na busca pela manutenção da vida.

A homeostase, por exemplo, tem um efeito regulador no nosso organismo, buscando mantê-lo em níveis estáveis para condições de sobrevivência.  Sempre que nosso organismo sofre uma ameaça de qualquer espécie, nosso próprio organismo busca uma forma de fazê-lo voltar ao seu equilíbrio e, desta forma, todo nosso corpo trabalha no sentido de trazê-lo a “normalidade”.

Do ponto de vista psicológico, neste caso, particular aos seres humanos, temos a resiliência definida como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, traumas e estresse sem entrar em surto psicológico.

O termo resiliência foi retirado da física, a qual se diz de uma propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Muito bem adaptado à psicologia, o adjetivo é utilizado para pessoas podem até sofrer as pressões, desregular seu organismo momentaneamente, mas que resistirão ao processo de adoecimento. Contrariando os muitos discursos de que pessoas resilientes são menos propensas a sofrerem transtornos psicológicos, quando na verdade, os resilientes não chegam a adoecer. Podem sofrer os impactos dos problemas, podem deprimir momentaneamente, mas sua mente não adoecerá.

Apesar de tudo isso, voltando ao início, sobre sofrimento e transformação, é impossível alguém passar por tantas provações, mudanças, pressões e voltar a ser quem ou o que eram antes de cada evento em si. Após o estresse, certamente a homeostase dará conta de fazer o organismo voltar ao seu estado normal. Depois de sofrimentos, de certo que a capacidade de resiliência fará com que a pessoa retome as rédeas das suas emoções. Entretanto, todas as experiências que vivemos marcam em nós. Como dizia Freud “só a experiência própria é capaz de tornar sábio o ser humano“, desta forma, é impossível não haver uma autotransformação após eventos marcantes na vida.

É como se a experiência em si colocasse as coisas nos eixos. Antes de tudo acontecer é que estava bagunçado, errado, a visão estava torta, o foco estava descentralizado. E, tão somente, a partir do evento em si as pessoas começam a perceber o verdadeiro sentido de suas vidas. O melhor delas começa a emergir após descobrirem o que de fato importa na vida – que é viver em sua plenitude.

Não importa qual seja a experiência vivida; nascimento, morte, separação, doenças, traumas, feridas emocionais, decepções – de alguma forma, após sobreviver a essa experiência, você já não será mais a mesma. Mas espera-se, que assim como nas árvores frutíferas, você possa se transformar positivamente, produzindo mais frutos e mais saborosos, porque como já dizia Sartre “não importa o que fizeram com você, o que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.

E, por fim, não nos esqueçamos de uma grande verdade: “Se a gente crescer com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma.”

Aurea Maria Montanholli

Formada em psicologia tenho uma paixão enorme pela área da saúde, em especial, o trabalho com mães e filhos. Mas confesso que todo trabalho de transformação do ser humano me brilha aos olhos. Até por isso, costumo brincar que não escolhi a psicologia, ela me escolheu. Atualmente trabalho na clínica, mas já estive por 11 anos dentro de empresas na área de RH e Gestão de Pessoas. Escrevo como hobby e forma de expressar meus próprios sentimentos, pois quem sabe minhas ideias não encontre tantas outras ideias perdidas por aí.

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