A falta de humanidade é uma extensão da falta de empatia. Sim, vivemos em um mundo em que temos tudo a nosso dispor em tempo real. Tudo se resolve com mais facilidade e rapidez que em outros tempos. Existe uma certa acessibilidade do que é produzido em massa de quaisquer produtos ou bens de consumo. Tudo se modernizou, se tornou mais evoluído, mas parece que o ser humano não acompanhou esse ritmo. Quanto mais o tempo passa, mais as pessoas se distanciam delas próprias, e não me refiro necessariamente à distância física. E me desculpem a redundância, mas na prática qualquer pleonasmo não seria capaz de superar qualquer vício de linguagem diante da intolerância que prepondera entre os seres humanos. Isto porque os piores vícios que existem na terra chamam-se orgulho, arrogância, avidez e principalmente falta de empatia.
Vivemos tempos do fazer-se humanizado em um verniz de humanidade. Nunca, em nenhum tempo da história o ser humano se mostrou com tanta falta de empatia, falta de sintonia e sincronicidade. Cada um se ilhou em um isolamento patológico onde o “eu” e o “meu” predominam, onde as questões próprias de cada um são aquelas que merecem relevância, e o mais que vier certamente será pura projeção no outro do narcisismo egoísta que quer se expandir, explorando limites fronteiriços do outro sem o reconhecer como indivíduo inteiro.
Em outros tempos, tudo era escancarado e justificado pelo contexto socioeconômico e de conjunturas socioculturais. Hoje, estas não mais existem para justificar a falta de compaixão e amor que inexiste na maioria dos indivíduos, e pior: ainda temos a coragem de nos intitulamos humanizados.
Será que de fato evoluímos ou estamos utilizamos a máscara da evolução humana esculpida e pintada nas cores do amor incondicional que tanto proclamamos? Em alguns momentos esses bons sentimentos distorcem seus delineamentos e suas cores parecem tímidas e desbotadas.
Falta humanidade em um mundo que se diz humanizado, onde entre mantras e meditações, acreditamos estar na quinta dimensão, mas continuamos com os mesmos vícios. Em que sentido evoluímos exatamente se contraditoriamente intitulamos de tóxicas pessoas com feridas emocionais profundas e as exilamos de nosso convívio em vez de ajudá-las? Em que sentido evoluímos se rezamos em uníssono o “todos somos um”, mas não compreendemos os comprometimentos mentais e afetivo-emocionais dos nossos irmãos e que peremptoriamente são rotuladas de danosas e que devem ser eliminadas do nosso convívio para que possamos ter o nosso bem estar individualista de paz intocável?
Somos contraditórios.
Onde está a humanidade e a empatia que tanto se recomenda; onde está a evolução humana que tanto se doutrina, se sequer temos a capacidade de compreender que o toxico que existe no outro é a representação, o sintoma e a caricatura da humanidade inteira?
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