‘Mulheres de Areia’ é uma obra teatral do dramaturgo Humberto Robles. Traz o testemunho de diversas mulheres sobre o horror e tortura que é a crise de feminicídio, que ocorre na vida real em Ciudad Juárez, uma cidade no México. ‘Mulheres de Areia’ coloca em cena em forma de denúncia, a brutalidade com que vivem milhares de mulheres, com um profundo sentimento humano. A iniciativa é apoiar o movimento dos familiares das mulheres assassinadas.
Mas, não só no México a realidade é aterradora para algumas mulheres, aqui mesmo no Brasil, em um período não muito distante a morte de Stefhani Brito, de 22 anos, foi noticiada, fora carregada morta na garupa de moto por horas até ser abandonada às margens da Lagoa da Libânia, em Fortaleza. Segundo familiares, ela já sofria torturas do ex-companheiro, apontado como autor do crime. Nos últimos dez anos, o número de mulheres brasileiras assassinadas passou de 3.937 para 4.762, um crescimento de 21%. Um em cada três desses crimes foram cometidos por atuais, ou ex-companheiros.
Falar sobre o feminicídio, é estabelecer uma conexão que abrange desde o homicídio, a um conjunto de violações relacionadas a transgressões dos direitos humanos ,no caso, em específico contras mulheres por razões do seu gênero, que pode envolver desde maus-tratos, estupros, exploração sexual, trabalho escravo e por que não incluir, a diferença salarial quando as responsabilidades, função e tempo de exercício profissional são semelhantes ao do gênero oposto.
A violência praticada pelo patriarcado e a banalização da misoginia são práticas toleradas socialmente, inclusive introjetadas em muitas culturas mundo a fora inclusive na nossa. A questão é tão séria que o CFP elaborou, uma nota técnica para quebra de sigilo em casos de risco de feminicídio, se a vida da mulher – ou a de seus filhos, ou de pessoas próximas – estiverem seriamente ameaçadas. É certo que a misoginia foi criada nas relações sociais, reproduzida e mantida socialmente, fruto da desigualdade de força nas relações de poder entre homens e mulheres.
A OMS e a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres constataram que mais de 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo fora cometido por um parceiro íntimo.
Urge reforçarmos a urgência por políticas de combate à violência contra a mulher, crianças e outras minorias, que envolvam práticas de saúde, de assistência, de justiça e de educação não sexistas.
O comportamento misógino de um modo geral, ainda que sutil, traz um traço profundo de desconfiança em relação às mulheres, marcado por crises de ódio. As origens desse comportamento são complexas, o misógino acredita que todas as mulheres são cruéis e não valorizam sentimentos verdadeiros. Criam uma mulher abstrata, odiável, traiçoeira, egoísta e excludente, passando a vê-la em todas as outras mulheres com as quais se relacionam. Assumem geralmente posturas ultraconservadoras, no sentido das teorias da conspiração, onde agentes conscientes trabalham na destruição de valores como a família e da ordem social moral. Alimentando seu temperamento revoltado.
Em casos extremos de misóginos, há agressão física contra a mulher, por considerarem-na “vadia”, prostituta e outras considerações pejorativas. Os perfis dos agressores são os chamados “corajosos”. O arquétipo do cafajeste, os brigões, envolvem-se em combates físicos com outros homens, que julgam inferiorizá-los provando a própria hombridade e punindo a si mesmos por se considerarem alguém inferior.
O grande problema na vida de um misógino é que seu comportamento acaba afastando as mulheres, e até outros homens, pois é insuportável conviver com alguém radical, inflexível e intolerante. Mostrando-se raivoso toda vez que alguém ouse dizer ou manifestar algum comportamento que ofenda seus “valores”.
Infelizmente, para o comportamento misógino, não cabe sermos compreensivos ou tolerantes com suas manifestações machistas, inflamará ainda mais seu desejo por reparação da suposta ofensa, pois é isso que ele realmente deseja, ser tratado como injustiçado e ser “reparado”. O fim de uma relação para o misógino pode ser de muito ressentimento, faz a leitura do rompimento, como um fracasso identitário. Outro fator a ser considerado, no que se refere ao comportamento das mulheres vítimas de homens com o comportamento misógino é a persistência /permanência em relações abusivas. A mulher aceitar e permanecer em relações onde parece “tolerar” violências, agravando o quadro. Quanto mais cedo quebrar o ciclo, melhor. Antes que a relação tenha frutos, seus filhos. Tornando mais dramática a situação após tê-los.
Para os comportamentos misóginos, ainda que sutis, há que serem claramente rechaçados, que esses comportamentos não tragam nenhuma recompensa, ao contrário, que serão permanentemente excluídos de círculos sociais onde esse tipo de comportamento é inaceitável. Só assim essas pessoas, ao menos aparentemente, irão deixar de apregoar sua forma descompensada de ver e se relacionar com as mulheres em geral.
Romper com o silencio, nominar as violências, e não se omitir perante elas. E em casos graves de sério risco de feminicídio, deve ser realizada a comunicação externa aos órgãos públicos, para proteger a vida da própria mulher.
Quebrar o silêncio, buscar ajuda, quer seja em comunitários, em delegacias especializadas, na igreja, em grupos terapêuticos, partilhar com familiares. Pode trazer inúmeros benefícios para mulheres que sofrem agressões verbais e físicas. Inclusive os agressores se pudessem participar também de grupos de ajuda teriam muitos benefícios. É preciso ainda lembrar que o Amor e ódio são distintos, não há justificativa para agressões. Amar é cuidado, carinho e preocupação com o bem-estar, já o ódio, distante e com funções psicológicas ambíguas, é incapaz de estruturar o bem-estar seguro. E só caminharão para o futuro homens e mulheres que vivam, o que só é possível em uma relação estruturada pelo amor.
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