Por: Laila Wahab– psicóloga cognitiva
Temos observado despontando, há algum tempo, uma geração cercada de mimos. Possivelmente frutos de pais zelosos e superprotetores. Estes pais, extrapolam e muito no cuidado com os filhos. Acreditando que faça parte de suas atribuições, livrar seus filhos de quaisquer incômodos, empecilhos e/ou obstáculos naturais. Tais como: tédio, bagunça, normas sociais, etc. A vontade do filho não precisa ter limites.
Estes adultos podem ter sido mimados por seus pais, ou quererem oferecer aos seus filhos o que não tiveram em suas infâncias. Contudo, os efeitos negativos de suas ações se refletirá através do descontrole, traduzido no imediatismo. Precisam ser prontamente atendidos e ensinam seus filhos, a impaciência. Sendo que estes últimos terão ainda mais dificuldades em compreender e se inserirem de forma sadia no mundo, na atualidade.
Em razão deste apelo ao imediatismo, pais são pressionados a responder às demandas dos filhos de forma irrefletida. Consequências, jovens pouco preparados para lidarem com frustrações que surgirão e que surgem por diversas vezes no curso da vida. Não atender aos filhos de forma imediata tem-se transformado em um dos maiores desafios na educação de crianças e jovens.
Não podemos ignorar que a tecnologia contribua para a celeridade destes padrões de exigência, em todos os seus âmbitos. Basta o toque de um dedo na tela do celular, tablet ou algo do gênero, que a resposta para qualquer pergunta ou busca de informação seja obtida em alguns segundos.
Fato é que, a satisfação prontamente de nossas necessidades tornou-se o padrão vigente. Não temos conseguido sustentar revezes por muito tempo. Vemos alguns desafios como incômodos. Não temos conseguido lidar satisfatoriamente com nenhum mal-estar neste mundo, onde a falsa sensação de felicidade tornou-se um clamor.
A espera por vezes pode ser preciosa, nos ajuda na compreensão de situações através do tempo, na criança é particularmente importante para seu crescimento e a maturidade. O fato de não enxergarmos como danoso o hábito dos pais de entregarem aos filhos pequenos celulares e tablets reflete bem o ” Zeitgeist” em que vivemos. Pode ser benéfico, mas só ao adulto, pois equivale ao menor esforço, amordaçar o filho por alguns minutos ou horas. Oferecer um eletrônico ao invés de ensiná-los a se socializarem com a família e amigos não é senão um ato deliberado de comodismo.
Observe o comportamento de algumas crianças que podem servir de alerta para o chamado ” excesso de amor”, ou mimos. A criança recusa o alimento que seus pais estão ingerindo. Ou porque é temperado demais, ou porque tem vegetais. Nos restaurantes, o cardápio kids, composto por: hambúrgueres, macarrão, bife, batata frita. E se ainda assim a criança recusar o almoço, será oferecido algum alimento industrializados à base de achocolatados e sucos açucarados, para que o pimpolho não passe fome.
As pessoas se esquecem que as crianças sabem conversar e que podem fazer pequenos contratos. Mesmo as menorzinhas têm essa capacidade de compreensão. Os pais esquecem que viver de maneira urgente só trará impactos emocionais negativos para suas crianças. Que eles, mesmo de maneira não intencional, servirão como exemplo negativo aos filhos, que acabarão copiando as atitudes parentais. Precisamos entender e ensinar nossos filhos que não é o princípio do prazer que regerá suas vidas; mas, o princípio da realidade.
É de se esperar que ninguém queira filhos mimados. Mas, em geral, quando os pais dão tudo que a criança quer, não insistindo para ela cumpra com suas obrigações e ainda cedendo aos caprichos infantis afim de evitarem o choro, fatalmente estarão contribuindo para que apareçam as birras, chiliques e exigências imediatistas.
Embora pareça difícil, é possível e necessário que se reverta esse condicionamento. Torna-se imprescindível ensinar à criança a gratidão aos pais pelo que podem proporcionar a ela, ensinando-a também a valorizar suas conquistas, ao invés de exigir tudo de mão beijada. Interromper esse ciclo destrutivo é mostrar à criança que existe um adulto saudável ou adultos quando envolver pai e mãe e que são os adultos da relação.