O divórcio é uma questão de adultos e as crianças devem ser mantidas à parte.
Todos já demos conta do aumento brutal de casos de divórcio ocorrido nos últimos anos. Por cada casal que decide juntar os trapinhos, existem dois ou três que optaram por seguir caminhos divergentes. Porém, antes da ruptura, há todo um processo mais ou menos doloroso, mais ou menos conflituoso, pelo qual o casal tem de passar.
Em alguns casos nem sequer há um motivo palpável. Ergueu-se uma cortina de silêncio e com ela veio a distância e a ausência de cumplicidade. O diálogo deixou de existir e os dois seres que juraram partilhar corpos e almas, acabam apenas por conviver num espaço físico comum.
Quando tal acontece, a dor foi há muito substituída por uma sensação de vazio, que vai aumentando até se tornar insuportável. Vive-se uma espécie de guerra fria, em que cada um faz a sua vida sem olhar para o lado. Virá o dia em que o elo mais fraco acabará por quebrar e o divórcio surge.
Não existem divórcios felizes
Noutros casos, o conflito instala-se e as discussões são a toda a hora e por qualquer motivo. Ocorre-me pensar que, apesar de tudo, é melhor haver conflito que vazio, mas as sequelas psicológicas de uma coisa e de outra são difíceis de quantificar já que variam de pessoa para pessoa.
Perante o vazio pouco há a fazer. O vazio é primo da indiferença e não existe pior sentimento que a indiferença. O amor pode transformar-se em ódio e vice-versa. A indiferença não se transforma em nada porque, na essência, ela não é coisa nenhuma!
Certo é que não existem divórcios felizes. Mais que não seja porque o divórcio pressupõe o falhanço total de um projecto erguido a dois. Ataca a auto-estima, fragiliza o ego e tem repercussões nas relações futuras.
Há vida após divórcio
Ao verem-se livres, muitos juram não repetir a experiência por medo de se voltarem a magoar. Outros fazem fugas para a frente , coleccionam relações frustradas pelo simples motivo de não serem capazes de aguentar com a solidão.
Estar sozinho implica alguma capacidade de se debruçar sobre si mesmo e esse processo pode vir a ser doloroso. A dor emocional é sempre construtiva, mas nem todos estão dispostos a viver primeiro o luto da relação, festas, bens materiais e romances ocasionais que funcionam como muletas.
Para além de tudo, não nos podemos esquecer das crianças, já que elas são sempre as maiores vitimas.
É preciso proteger os mais novos
Ainda que muitas vezes tudo se faça de um modo inconsciente, certo é que as crianças são utilizadas como arma contra um dos progenitores. E, se ao longo do ano a questão se vai colocando, acaba por se acentuar no período de férias, seja de Natal, Páscoa ou mesmo nas férias grandes do Verão.
Os motivos podem ser os mais variados possível. Contestam o local escolhido pelo pai, dizem mal da madrasta, querem controlar a situação à distancia via telefone … acontece de tudo um pouco e há que manter alguma calma por forma a ser possível driblar os obstáculos que se vão erguendo.
Possivelmente, a solução passa por ditar as regras desde o início, manter bem presente que a paternidade é um estatuto vitalício e o divórcio é uma questão de adultos!
Teresa Paula Marques é psicóloga clínica, especialista em Psicologia Infantil.
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