Foi aos 5 anos de idade que o pequeno Miguel conseguiu ficar em pé pela primeira vez, durante tratamento com o fisioterapeuta Hugo Quatrochi A cena comovente foi registrada em um vídeo gravado em 2018 em Limeira, no interior de São Paulo.
Miguel hoje tem 6 anos e o mesmo fisioterapeuta mostra a evolução do menino. Ele deu os primeiros passos sozinho em 2019 e agora já consegue até jogar bola.
A fisioterapia todos os dias ajuda o menino a ter firmeza nas perninhas e a superar as limitações impostas pela mielomeningocele, um problema congênito que afeta a coluna e a medula espinhal e não permite que elas se desenvolvam adequadamente.
A mãe dele, Thaís Araújo, de 28 anos – que é de Brasília e hoje vive no interior de São Paulo – descobriu o problema quando estava grávida, na 17ª semana, após um exame morfológico.
Questionada pela equipe médica se queria interromper a gestação, ela optou pela vida… e não se arrepende.
“A médica me disse que ele nem iria sobreviver.. que minha gravidez não iria pra frente. Que se ele nascesse iria vegetar o resto da vida. Me ofereceu abortar.. porque pela lei eu estava amparada”, afirmou Thaís em entrevista ao SóNotíciaBoa.
A cirurgia
Miguel passou por uma operação quando ainda estava dentro da barriga da mãe, na 25ª semana de gestação, para evitar a hidrocefalia.
A cirurgia funcionou e o menino nasceu em dezembro de 2013, com 35 semanas, sem problemas cognitivos, mas veio ao mundo com as perninhas molinhas e um pé torto congênito, problema que foi corrigido com o uso de gesso e botinhas.
“O fato de ele andar ou não, era uma incógnita. Só com o tempo a gente iria saber. Eles [os médicos] não podiam me dar essa certeza”, contou a mãe.
E Miguel surpreendeu a todos com sua persistência e vontade de andar.
“O Miguel sempre foi uma criança muito otimista. Claro, teve as suas frustrações, ficava bravo às vezes por não conseguir, mas ele nunca foi de desistir, ou ficar triste e não querer mais andar. Ele é uma criança muito persistente. E a fisioterapia pra ele é uma diversão”, contou a mãe.
Fisioterapia
Já faz 3 anos que Miguel se dedica a um tipo de fisioterapia chamado Therasuit, um tratamento intensivo diário com 3 horas de duração.
O fisioterapeuta Hugo Quatrochi, de 28 anos, que atende Miguel desde o início, disse que esse tratamento foi criado por um casal dos EUA.
“É um atendimento intensivo de fisioterapia, onde o paciente faz exercícios 3 horas diárias durante um mês. As crianças fazem de 3 a 4 tratamentos desses por ano, depois descansam e voltam”, explicou Hugo ao SóNotíciaBoa.
Fisioterapeuta formado pela Unesp em Marília, no interior de São Paulo, com, especialização em neurologia infantil pela Unicamp, Hugo conta que a relação dele com o Miguel vai além do trabalho dentro da Clínica Intensiva.
“Eu fiz o primeiro intensivo dele e a gente criou essa relação de amor, de amizade, de troca. A gente aprende muito com ele. Naquele vídeo ele estava começando a ficar em pé, a primeira etapa antes de treinar a marcha”.
Segredo
Hugo revela que trabalha para despertar a força interior da criança, inclusive com “gritos de guerra”.
“’Eu consigo’, ‘eu sou capaz’… [é preciso] buscar a força de dentro. O grito funciona! Buscar o leão, uma representação de força, de coragem… e o grito foi uma forma buscar isso dentro dele”, explicou o fisioterapeuta.
“Depois desse intensivo ele começou a ficar em pé, arriscou os primeiros passinhos.. Hoje ele tem uma marcha funcional, anda, joga bola… É um menino muito corajoso. E está bem diferente do que era antes”, afirmou o especialista.
E tem muito amor envolvido nesse trabalho, dos dois lados.
“O Hugo foi um presente de Deus pra nós. O Miguel já passou por muitos fisioterapeutas, mas como o Hugo nunca encontramos igual. Ele tem uma sensibilidade, um olhar que é de se admirar. Ele entra dentro do mundo do Miguel e faz o possível e impossível pra tirar um sorriso dele, e lógico, pra que ele alcance o objetivo, que é andar. É uma pessoa que ama o que faz, você percebe que ali não é pelo dinheiro, ou qualquer outra coisa, e sim pelo amor a profissão e pra que essas crianças tenham qualidade de vida”, afirmou a mãe do Miguel.
Próximos passos
Hugo tem planos para o Miguel, no esporte.
“Pacientes como ele têm que ser inseridos no esporte e continuar na fisioterapia pelo menos até a adolescência. E ele ama [a fisioterapia] porque é o lugar onde ele faz coisas novas, que ele achava que não ia conseguir… e elas acontecem. E a gente faz isso parecer uma coisa natural”, disse o fisioterapeuta.
Em casa, Thaís olha o medo que tinha da mielomeningocele pelo retrovisor e diz que é sim possível mudar diagnósticos.
“Eu sempre digo pra esses pais, que a mielomeningocele é sim assustadora no início, mas que não é um bicho de sete cabeças. Com o tempo vamos vendo o quão abençoados fomos por termos crianças assim. O quão transformador é, pra gente como ser humano, e o quanto aprendemos com eles. Diagnóstico não é destino, nem nunca será. Eu mudei o diagnostico que recebi, e hoje meu filho pode ir e vir pra onde quiser”, concluiu a mãe.
Veja o vídeo que mostra a evolução do Miguel, da primeira vez em que ficou de pé até agora, jogando bola:
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Só Notícia Boa.
Imagem destacada: Reprodução/Youtube.
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