De acordo com um laudo do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (IMESC), o procurador que agrediu sua chefe durante o expediente na Prefeitura de Registro, interior de São Paulo, apresenta não apenas um quadro psiquiátrico compatível com esquizofrenia paranoide, mas também episódios psicóticos de frangofilia. Especialistas entrevistados pelo G1 explicaram que o termo se refere a um comportamento compulsivo de quebrar objetos e pode estar relacionado a outros transtornos.
Segundo o médico psiquiatra Fellipe Miranda Leal em entrevista ao G1, embora atos como quebrar ou rasgar objetos, especialmente roupas, travesseiros ou colchões, possam ser enquadrados como frangofilia, esse termo “não é uma doença e nem uma apresentação específica de algum diagnóstico”.
“Trata-se apenas da descrição de uma manifestação que, em geral, reflete um importante descontrole emocional”, esclareceu o especialista.
No dia 15 de novembro do ano passado, o procurador Demétrius de Oliveira Macedo, de 35 anos, usou o estrado da cama para bater na porta de sua cela, resultando na quebra do vidro de vigilância. No dia seguinte, novamente em um acesso de raiva, ele quebrou a pia e o prato de alimentação enquanto estava em isolamento na Penitenciária de Tremembé.
De acordo com Leal, é comum observar esse tipo de comportamento em transtornos de personalidade, especialmente em casos em que há um padrão mais pronunciado de impulsividade, como no transtorno borderline e no transtorno de personalidade antissocial.
“Nestes casos, de transtornos de personalidade, além de frangofilia também é possível que ocorram episódios de autoagressividade e heteroagressividade [conduta agressiva ao mundo externo, contra outras pessoas ou elementos]”.
De acordo com o psiquiatra, comportamentos semelhantes à frangofilia também podem ser observados em outros transtornos mentais, como a esquizofrenia. “No entanto, é importante ressaltar que esse tipo de comportamento não é específico da esquizofrenia. Pelo contrário, é mais comum ser observado em outros transtornos”, afirmou o especialista.
O especialista ainda acrescentou que a esquizofrenia é uma doença complexa, com uma evolução bem característica e que envolve uma multiplicidade de sintomas.
O psicólogo e professor de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Unimes, Paulo Muniz, reforçou que a frangofilia não é uma doença e sim um sintoma que, geralmente, está associado à algum transtorno mental, como bipolaridade e esquizofrenia e, assim como Leal, não descarta a ocorrência de frangofilia em outros transtornos de personalidade e de humor.
Segundo Muniz, por se tratar de um impulso, a pessoa não consegue controlá-lo. “É como um impulso súbito de destruir coisas que estão próximas à pessoa que tem esse problema, quebrando objetos, rasgando documentos, destruindo, estraçalhando coisas que estão ao redor dela ou dela própria. Esse comportamento é praticamente involuntário, a pessoa não consegue filtrar essa vontade, esse desejo que vem para destruir as coisas ao redor”.
O psicólogo explicou que a frangofilia pode ocorrer também em demências, como Alzheimer. “É muito comum que a pessoa idosa com Alzheimer tenha impulsos também de violência e passe a apresentar a frangofilia, mas comumente [ocorre] na esquizofrenia e no transtorno bipolar”.
Relembre o caso
O procurador Demétrius Oliveira Macedo agrediu violentamente a procuradora-geral do município de Registro, Gabriela Samadello Monteiro de Barro, dentro da prefeitura onde trabalhavam. As agressões, que incluíram socos e pontapés, foram registradas em vídeo por outra funcionária do setor. Demétrius foi preso dias depois, em 23 de junho de 2021, em São Paulo, após a Justiça determinar sua detenção. Durante a agressão, ele xingou a vítima e empurrou outros profissionais que tentavam detê-lo.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações do g1.
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