Sigmund Freud foi decisivo nesta frase: “Não desejo suscitar convicções, o que desejo é estimular o pensamento e derrubar preconceitos”, que mostra que as suas ideias estão em de todas as formas de emancipações vividas pela sociedade do século 20, como por exemplo: o feminismo e a liberdade sexual.
Além disso, Freud afirmava que o único modo de impedir os crimes era a lei e a civilização, o que nos permitiu entender as barbáries cometidas pelo nazismo. A teoria freudiana tem o potencial de desmantelar os preconceitos, que impõem aos sujeitos a renúncia dos seus sentimentos sadios associados à sexualidade.
Por essas razões, Freud queria que a psicanálise fosse uma “neurologia da alma” com um vínculo com as ciências humanas, e não só com a biologia e a medicina. A histeria era um assunto frequente entre as mulheres do século 19, que apresentavam sintomas como paralisia, confusão mental, múltipla personalidade e apatia.
Mas Freud, o notável aluno do médico francês Jean-Martin Charcot, evidenciou que a origem da histeria estava ligada a um trauma sexual, que representava um grito de socorro das mulheres contra a repressão sexual. Enquanto a psiquiatria da época acreditava que a histeria era uma lesão orgânica ou fingimento das mulheres.
Outro tema que o criador da psicanálise trouxe à tona foi a homossexualidade. Freud respondeu a carta de uma mãe que pedia que ele curasse o seu filho homossexual, diz à missiva: “A homossexualidade não pode ser qualificada como uma doença e que não existem motivos para se envergonhar dela, já que isso não supõe vício nem degradação alguma”.
Entretanto, em pleno século 21, a repressão sexual contra mulheres ainda se reproduz por meio do machismo e a homofobia é uma violência constante. A gênese disso, é o autoritarismo na sociedade contemporânea, que converteu certos indivíduos em insanos que desprezam a vida.
Voltemos a Freud, que conectou o termo “fetiche” ao mundo da sexualidade, sendo algo que se venera e dá prazer, o que explica porque no Brasil há o fetiche por fardas e armas de fogo, que exibe o desejo de um grupo de controlar a vida e a morte – para a impor – a sua vontade ao povo.
Talvez essas criaturas tenham a fase anal e a fase fálica mal resolvidas, que se caracterizam pela inclinação ao sadismo como método para manter o controle, afetando as autoridades que deveriam zelar pelo bem comum, contudo, se colocam como se estivessem acima da lei.
Freud classificou essas atitudes violentas e intolerantes de perversão, que envenenam a alma e o corpo, por isso o desprezo em relação às mulheres e aos gays. Porém, para derrubarmos essa estrutura repressora é necessário um pacto social em oposição ao narcisismo maligno instalado no poder, que está levando ao adoecimento e à morte.
Por fim, concluímos por onde iniciamos, com Freud já em meio às violências inaceitáveis do nazismo: “A meu ver, a questão decisiva para a espécie humana é saber se, e em que medida, a sua evolução cultural poderá controlar as perturbações trazidas pelos instintos humanos de agressão e autodestruição”.
Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista