A droga na toxicomania entra como um produtor de obtenção de prazer e um “amortecedor” do desprazer. Com isso, a droga se torna sua única fonte de prazer, e o sujeito passa a ter uma relação de exclusividade com a mesma, passando a abandonar suas atividades da vida diária.

Na toxicomania, ocorre uma fixação dessa obtenção de prazer imediato, sendo inatingível por outros meios. Assim, esse aspecto se remete ao processo primário, sendo aquele que segue o princípio do prazer, no qual o desejo deverá ser satisfeito a qualquer custo, pois essa é a única finalidade da pulsão, a satisfação, provocando a diminuição da tensão. O princípio de realidade é então adiado e desviado, pois a energia libidinal da pulsão que ser satisfeita.

Freud, em seu artigo “Além do Princípio de Prazer”, publicado em 1920, menciona o fato de o aparelho mental tentar manter a excitação do organismo constante. A pulsão do ego irá “barrar” o prazer, mas as pulsões sexuais são mais difíceis de “educar”. As pulsões sexuais irão encontrar novos modos de satisfação que são sentidos pelo ego como desprazer. Então, na toxicomania o que irá ocorrer é que, mesmo sem o uso, o toxicômano quer reencontrar esse prazer, quer retomar o prazer sentido em seu primeiro uso. Assim, o sujeito sofre diante da falta de seu objeto externo.

Falamos não somente do princípio do prazer, em que o sujeito busca a satisfação perdida, mas também de algo que volta-se para a destrutividade quando o sujeito para o seu uso.

A partir do que foi exposto, podemos refletir diante da questão, por que o sujeito busca obter prazer através de um objeto externo que não lhe traz mais satisfação, e sim sintomas tidos como desagradáveis? Freud, em seu artigo “Recordar, repetir e elaborar”, publicado em 1914, irá mencionar pela primeira vez a compulsão à repetição. Diante disso, a repetição irá substituir o impulso a recordar, sendo assim quanto maior a resistência, maior a atuação e menor a recordação. Então, o que o sujeito repete ou atua? No caso da toxicomania, o sujeito toxicômano irá, através da repetição, tentar retomar a satisfação de seu primeiro uso.

Para que a elaboração ocorra, o sujeito precisa superar as suas resistências. O trabalho do analista em comum com o analisando é saber o impulso reprimido que está por trás desta atuação.

Podemos concluir que a respeito da toxicomania há diversos estudos relevantes a serem aprofundados. Acredito que haja dois conceitos que merecem ser destacados neste trabalho: a compulsão à repetição e a atuação excessiva. Podemos perceber o estado mais primitivo da pulsão ao repetir-se sem que se tenha um objetivo. Assim, a repetição se torna o seu meio de atuar diante daquele excesso pulsional. Assim, esse excesso pulsional não passa pelo processo de elaboração. Podemos falar de uma clínica do agir, onde o sujeito repete para não recordar.

REFERÊNCIAS:

Freud, S. (1914). Recordar, repetir e elaborar. Obras Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago,1996 , v. 12.

______. (1915) Instinto e suas Vicissitudes. In: Obras Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. 14.

______. (1920). Além do Princípio de Prazer. In: Obras Completas. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago,1996 , v. 18.

PEREIRA, D. Aspectos da Compulsão a Repetição na Clínica Psicanalítica: Resistências e Toxicomania. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013, 126p.

Nayara Liberato Romais

Graduada em Psicologia pela Faculdade Brasileira Multivix - Vitória. Possui experiência nas áreas Escolar, Social, Clínica e Saúde Mental. Exerce a prática clínica psicanalítica em consultório e não há um público específico a ser atendido, pois pela via da psicanálise trabalhamos com pacientes em sofrimento.

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