Futuras mães: saiba a importância da psicoterapia durante o pré-natal

Uma mulher quando descobre que está grávida vive um turbilhão de emoções, seja por ser uma gravidez inesperada, ou simplesmente pela expectativa que se cria em relação ao futuro bebê. É uma mistura de sentimentos – bons e ruins -, que acabam gerando inseguranças para a futura mãe. Essas dúvidas envolvem questões relacionadas à gestação, ao parto e também a como vai ser quando a criança nascer.

Os cenários podem ser muito variados. Há mulheres que engravidam sem terem planejado, e isso pode gerar diversas preocupações, como aceitação desse filho pelo parceiro/família e até mesmo ansiedade pelas mudanças que irão ocorrer em sua vida. Outro exemplo são mulheres que estavam tentando engravidar há muito tempo. A descoberta da gravidez pode vir acompanhada de medo de uma possível perda ou até mesmo vir junto à uma expectativa muito alta em relação à gestação e ao futuro filho.

As possibilidades são muitas, mas todas elas envolvem uma enxurrada de sentimentos – muitas vezes confusos e ambíguos – que acabam deixando a mulher bastante estressada e ansiosa. Diante disso, esse texto visa esclarecer a importância do acompanhamento psicológico de mulheres durante a gestação, parto e também pós-parto. O objetivo da psicoterapia nesses momentos é manter o equilíbrio entre a saúde física e mental da mulher, como também do bebê.

Cuidado durante a gestação

Por ser considerada uma fase “mágica” na vida da mulher, muitos acreditam que durante a gestação elas experienciarão apenas emoções boas e gostosas, de amor e felicidade extremas. Mas na realidade, não é bem assim que funciona. A maioria das mulheres enfrenta grandes mudanças em suas vidas. É o corpo que muda – a barriga e os seios que começam a crescer, os hormônios que oscilam bastante – e também a dinâmica familiar e profissional. Elas terão que se afastar do trabalho por um tempo, a relação com o parceiro ganha um novo formato, e tudo isso deixa a mulher bastante insegura. “Será que terei meu emprego quando voltar? ” “Será que meu marido/namorado continuará sentindo prazer por mim depois que eu for mãe? ”.

São tantas dúvidas, medos e incertezas que as mulheres gestantes necessitam de um ambiente em que sejam igualmente ouvidas e compreendidas com naturalidade, sem julgamentos ou pré-conceitos que reforcem sentimentos de culpa desnecessários. No espaço terapêutico elas serão acolhidas e ouvidas de forma neutra e sigilosa. Muitas gestantes se sentem inseguras em falar com os parceiros ou com a mãe/pai, pois eles também estão vivendo esse momento junto com elas, e muitas vezes eles estão tão nervosos e ansiosos quanto elas, o que acaba prejudicando a escuta e o cuidado.

Outras questões importantes que também podem ser trabalhadas durante a psicoterapia são o eventual nascimento de um bebê com deficiência, nascimento prematuro, envolvimento emocional da família, o vínculo da gestante com o bebê, as dúvidas e dificuldades que surgirão após o parto, a idealização em contraste com a realidade da gestação, parto e pós-parto.

É importante também citar que o futuro pai também pode e deve realizar acompanhamento psicológico durante a fase da gestação da mulher. É possível pensar até mesmo em uma psicoterapia familiar para trabalhar as expectativas do casal em relação ao futuro filho e também sobre o vínculo do mesmo, que irá mudar após a chegada do bebê.

Parto

Outro momento que pede um olhar profissional é o momento do parto. As mulheres acabam criando muitas expectativas nos nove meses que antecedem essa experiência. Medo da dor, medo de que dê algo errado, espera de um parto normal/humanizado – que pode acabar sendo substituído por uma cesárea de emergência. Todas essas inseguranças podem ser trabalhas também durante o pré-natal psicológico, também conhecido como Psicologia Perinatal. Durante os nove meses suas expectativas vão sendo trabalhadas, para que a mulher consiga lidar melhor com possíveis imprevistos e conseguir viver o momento do parto de maneira integral e saudável.

Pós-parto

E quando o bebê nasce? Como fica a mulher nesse momento? Muitas mulheres vivenciam uma leve melancolia e dificuldade em se conectar ao bebê logo que ele nasce. Esses sentimentos são considerados normais até certo nível, uma vez que as oscilações hormonais são enormes durante o parto. No entanto, pouco se fala sobre isso e muitas mulheres se sentem angustiadas – e sozinhas – ao experienciarem esses sentimentos. É como se elas fossem “mães ruins” por não sentirem aquele amor instantâneo que todos falam. Por isso, a psicoterapia é fundamental para esse momento. Os sentimentos confusos são normais e é preciso tempo para que as mulheres se adaptem à nova vida.

Um outro fator importante após o parto é a mudança de foco do olhar daqueles à volta da mulher. Quando gestante, as atenções se voltavam a ela. Todos queriam passar a mão em sua barriga e cuidar dela. Após o nascimento do bebê, o foco e atenção se voltam para a criança. Como essa mudança acontece de forma muito rápida, muitas mulheres se sentem sozinhas e inseguras. Isso gera uma queda em suas autoestimas, o que propicia no aparecimento de possíveis sintomas depressivos e ansiosos.

Diante de todos esses fatores, é visível a importância de um cuidado voltado a essas mulheres. E uma informação importante: o acompanhamento psicológico não deve ocorrer apenas em casos com algum quadro patológico, como depressão pós-parto. Esse cuidado é necessário para todas as gestantes, desde o início da gravidez. Isso porque todas elas terão que lidar com a adaptação ao novo momento e a desconstrução de uma idealização. Assim, elas poderão viver a maternidade real, sem culpa e com muito amor.

Imagem de capa: Shutterstock/Africa Studio






Psicóloga graduada pela Universidade de Brasília, especialista em Psicologia Analítica pelo Instituto Numen. Atende em consultório particular em São Paulo. Busca com seu trabalho ajudar as pessoas a reencontraram o sentido de suas vidas. Acredita no potencial do ser humano e na sua capacidade de transformação. Através dos seus artigos, procura gerar reflexões e estimular o autoconhecimento.