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Gentileza e Bem-estar Emocional

Um provérbio vietnamita nos diz: ‘Quando comeres uma fruta lembra-te de quem plantou a árvore. ‘ Esse provérbio é parte da sabedoria de um povo sofrido que precisou observar ainda mais, entre eles, as práticas da gratidão e da gentileza para sobreviver a um conflito violento.

A guerra aprofundou o aprendizado de que é preciso manter atitudes benéficas à solidariedade e à união  em todos os momentos, mas principalmente nas horas críticas, quando os piores afetos estão aflorados pelo medo da violência.

Na coexistência humana, são muitos os focos de discórdias e desajustes.

Por isso é impossível pensar em felicidade sem refletir sobre atos corriqueiros geradores de conflitos que consomem energia emocional  e nos seus opostos que podem trazer paz e equilíbrio. Os estudos sobre a hostilidade são vastos e em muitos deles, a disputa por recursos escassos, as relações opressoras e a resistência para aceitar as diferenças são apontados como suas principais fontes.

E, de fato, se olharmos para a história da violência humana, constatamos muitos episódios deflagrados pelas disputas e jogos de interesses, pelo estranhamento do que é diferente e pela busca do fim da opressão.

No dia a dia, a má vontade; a animosidade gratuita; as omissões; as frases mal pronunciadas; as atitudes descuidadas, rudes ou egocêntricas; a invasão da autonomia e da dignidade alheia e, ainda, a intolerância disparam o gatilho de afetos destrutivos que fazem a base emocional de brigas e fraturas relacionais.

Nós, seres humanos, convivemos com um paradoxo: as relações podem ser fontes de grande bem-estar  e acolhimento, mas os modelos de interação e formas de tratamento que escolhemos, não raro, provocam sentimentos opostos a essa possibilidade.

Se pudéssemos escutar as queixas ouvidas nos consultórios psicológicos, veríamos que a motivação de muitas discórdias e lamentações quanto às relações em geral, não raro, é originada da pouca gentileza e nenhuma gratidão mútua no tratamento diário.

A palavra gratidão vem da mesma raiz etimológica dos vocábulos: agradável, gratificante e graça. Nada mais oportuno, pois as condutas empáticas têm impacto na saúde  emocional pelo poder que têm de imprimir agradabilidade, satisfação e graça à convivência.

A gentileza, a gratidão e o cuidado são frutos do desprendimento e do compromisso mútuo. São antídotos contra ressentimentos que rompem alianças e provocam fraturas irrecuperáveis em relações que poderiam ser positivas.

Por isso, dizemos que a gentileza é a vitamina do companheirismo, da ajuda mútua e da sociabilidade edificante.

A gratidão está na base do comportamento de pessoas com elevado senso de justiça e capazes de interagir com reciprocidade. E esta, a reciprocidade ou comportamento justo e retributivo, é o mais forte pilar de sustentação da saúde nas relações.

Um provérbio francês diz: ‘a gratidão é o coração da memória’. 

Esse dito popular é um jeito poético de ensinar que devemos reconhecer o que recebemos de atenção e zelo de nossos pares. É sonora lição a ensinar que  devemos conferir mérito, reconhecendo o êxito e esforços alheios e agradecer o que recebemos de favores e bondade.

A ausência dessas atitudes leva à desconfiança mútua, impede-nos de criar e manter laços.

Laços que nos dão referências e nos sustentam como seres emocionais.

Daniel Goleman, psicólogo e neurocientista, ensina que as aptidões sociais são transmitidas no decorrer da vida, mas que precisamos dar atenção especial à infância.

Para ele, é preciso ensinar o alfabeto emocional e o gosto para continuar esse aprendizado, sob pena de eternizarmos o sofrimento oriundo das dificuldades de convivência.

Daniel Goleman diz que, hoje, esse aprendizado é ainda mais significativo, uma vez que estamos imersos numa realidade extremamente impactada pelo individualismo e com claros sinais de desintegração do senso comunitário e dos hábitos de civilidade.

Não é fortuito que tantos cientistas e profissionais estudem os impactos de uma convivência baseada na gentileza para a saúde mental.

Chogyam Trungpa, por exemplo, um sábio mestre budista prega que: ‘ Quando exprimimos gentileza e  gratidão sobre o ambiente, o poder e o brilho descem sobre a situação e transborda sobre nós’. Então, que pratiquemos a gentileza e a gratidão para que o poder, a serenidade e o brilho cheguem até nós e iluminem nossas relações.

Liduína Benigno Xavier

Psicóloga, Mestre em Educação, formação em Facilitação de Processos humanos nas organizações, a escritora é consultora organizacional há mais de vinte e cinco anos; É autora do livro: Itinerários da Educação no Banco do Brasil e Co-autora do livro: Didática do Ensino Corporativo - O ensino nas organizações. Mantém o site: BlogdoTriunfo que publica textos autorais voltados ao aperfeiçoamento pessoal dos leitores e propõe reflexões que ajudam o leitor a formar visão mais rica de inquietações impactantes da existência.

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