Por Daniella Freixo de Faria
Vale sempre muito a pena refletir sobre como estamos conduzindo a educação das crianças. O grito tem acontecido com bastante frequência. Parece funcionar, mas ao mesmo tempo o aprendizado das crianças não acontece e os gritos se repetem cada vez mais.
Funciona mais ou menos assim: as crianças começam a obedecer seus pais somente quando os gritos aparecem , como se tivessem criado um espaço de tempo entre o pedido e o grito. O pensamento acontece mais ou menos assim: “como sei que minha mãe ainda não gritou , entendo que tenho ainda mais tempo pra enrolar pra ir tomar banho”, por exemplo. Essa é a reflexão da criança que, muito inteligente, percebe o nosso funcionamento e se adequa a ele.
O grito funciona como um grande susto. A criança sente a pressão, a irritação ou até mesmo a raiva e sai em disparada, assustada para fazer o que lhe foi gritado. No grito não absorve o que foi dito, o conteúdo do grito, por isso o pequeno volta a repetir esse mesmo comportamento até que mais um grito acontece. Ou seja, pais e mães passam a gritar todos os dias.
A criança entende que é só no grito que tem realmente que fazer as coisas. Funciona como um grande ciclo vivo, alimentado por nós adultos e pelas crianças. Gritamos, as crianças fazem o que é preciso, sentimos culpa, pedimos desculpa e falamos de uma maneira melhor, mas, no dia seguinte, gritamos novamente e refazemos o mesmo processo de total incoerência na sua forma.
Essa incoerência conta que nossa missão de educadores esta totalmente a mercê de nosso estado interno. Variamos de acordo com o que ocorre em nossos corações, afinal somos humanos, mas essa variação dentro da educação faz com que a confusão na comunicação se instale e a condução tão necessária se perca no meio do caminho. Educar assim é bem mais difícil.
Cuidar de como nos comunicamos é o primeiro passo. Olhar nos olhos, ir até a criança e falar com clareza e cuidado do que precisa acontecer. Isso facilita o dia a dia nas tarefas necessárias e repetitivas. Para isso, começamos cuidando para afirmarmos, conduzirmos a criança ao invés de perguntarmos se ela quer ir tomar banho.
O que passa em nosso coração faz toda diferença. A irritação quando toma conta contamina esse ambiente e toda a nossa comunicação. O caminho é dizer isso ao filho. A criança não precisa saber de detalhes, mas quando contamos a ela que estamos irritados com alguma outra coisa e precisamos de sua ajuda, elas surpreendem e ajudam, fazem sua parte pra valer.
Além disso, só o fato de falarmos de nosso estado interno já nos possibilita acessar outro nível de consciência. Podemos sentir, perceber que aquela criança está ali nos olhando, aprendendo conosco, nos esperando e nós, os adultos, podemos sim cuidar melhor desse encontro. Às vezes é assim mesmo, basta ter consciência e a situação já não é mais a mesma, já esta transformada e aberta em novas e boas possibilidades. Não é raro nos surpreendermos com um belo colinho dos pequenos.
Existir, ser, perceber-se, cuidar de si mesmo para cuidarmos de que lugar encontramos nossos filhos faz toda a diferença nessa jornada de educação. Damos a eles o alívio de saberem que é desse lugar de respeito que também seguimos aprendendo. Afinal somos todos, crianças e adultos, eternos aprendizes.
Imagem de capa: Shutterstock/Sharomka
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