COMPORTAMENTO

Grupos descobrem mentiras melhor do que uma pessoa sozinha

Nem sempre somos suficientemente habilidosos para identificar quando alguém conta uma lorota. A menos que estejamos a par de informações que contradizem diretamente uma falsa história, pesquisas já mostraram que, em média, percebemos apenas metade das mentiras que nos contam. Mas em equipe podemos ser mais perspicazes para descobrir se alguém está tentando esconder a verdade. Pelo menos é o que mostra um estudo publicado em junho na Proceedings of the National Academy of Sciences USA. Cientistas constataram, porém, que isso só ocorre quando os membros do grupo se consultam entre si antes de chegar a uma conclusão.

O psicólogo Nicholas Epley, pesquisador da área de negócios, e o doutorando Nadav Klein, ambos da Universidade de Chicago, realizaram quatro experimentos para comparar a percepção da mentira de pessoas sozinhas ou acompanhadas. Em cada cenário, centenas de voluntários foram distribuídos em grupos de três para assistir a uma série de dez clipes de vídeo que apresentavam alguns oradores que diziam a verdade e outros que tentavam enganá-los.

Então, os participantes ponderaram sobre quais acreditavam estar simulando – alguns julgaram individualmente e de imediato, enquanto outros optaram por discutir o caso com os membros da equipe antes de tudo. Em todos os cenários, os grupos tiveram vantagem e detectaram mentiras em até 62% do tempo em comparação com os que agiram de forma independente.

Os pesquisadores acreditam que os resultados não se resumem ao chamado efeito da “sabedoria popular” porque julgamentos não ajudaram a aumentar a habilidade para detectar engodos – isso só aconteceu quando houve discussão e várias opiniões foram consideradas. Os cientistas suspeitam que haja elementos sinérgicos envolvidos e pretendem aprofundar os estudos para compreender as condições e características grupais que favorecem esse fenômeno.

“As conclusões não significam, necessariamente, que avaliações grupais sejam mais eficientes do que individuais”, pondera Epley. Mas enfatiza que os resultados sugerem a importância de discussões em equipe em locais onde somos convidados a apurar mentiras – de deliberações em um júri a investigações de fraudes de seguro. (Por Andrea Anderson, jornalista científica)

EM BUSCA DA VERDADE

A análise de mais de 200 estudos sobre mentiras e capacidade de desvendá-las mostrou que pessoas sem nenhum tipo de treinamento tendem a distinguir engodos em pouco mais de 50% das vezes (aproximadamente o mesmo índice de acerto caso o indivíduo apenas “chutasse” um palpite, sem nenhuma convicção). Aqueles com formação mais específica, como psicologia clínica, se saem um pouco melhor e demonstram precisão em torno de 65%. Para ajudar na tarefa de chegar mais perto do que se acredita ser a verdade, especialistas desenvolveram diversos métodos de investigação, mas nenhuma técnica é infalível, até porque não há comportamentos que indiquem o ato de enganar. Veja cinco métodos promissores que ajudam a detectar mentiras:

 

 

Técnica

Como funciona

Precisão

O inconveniente

Polígrafo

Detecta respostas automáticas relacionadas ao estresse, como o aumento da condutividade da pele (que mede a transpiração), a frequência cardíaca e respiratória e a pressão arterial

Os estudos variam significativamente e mostram fidelidade de
60% a mais de 90%

Sentimos estresse por diversas razões — nervosismo, raiva, dor, surpresa; além disso, indivíduos culpados podem tentar enganar usando sedativos ou antiperspirantes

Análise de estresse
pela voz

Um programa de computador mede as flutuações nos padrões da fala, como os microtremores, o tom e a intensidade, na esperança de detectar níveis elevados de estresse, o que pode indicar mentira

Incerta

Um artigo de 2013 mostra que essa técnica identificou o estresse melhor do que um polígrafo, mas até que ponto isso significa que o método é um bom detector de mentiras permanece incerto

Microexpressões

Popularizados na série de televisão “Lie to Me” (Engana-me se puder, no Brasil), esses movimentos involuntários faciais quase imperceptíveis podem expor uma gama de emoções, assim como a tentativa de enganar

Ainda é muito cedo
para avaliar

Não há dados concretos que mostrem que as microexpressões são indicadores muito confiáveis de mentiras

Ressonância magnética
funciona

A fMRI aponta mudanças no funcionamento cerebral. Estudos mostram que, quando mentimos, exibimos maior atividade no córtex pré-frontal, que desempenha um papel na tomada de decisõeS

Obscura

Uma revisão publicada em 2013 na Frontiers in Human Neuroscience concluiu que as evidências científicas atuais ainda não são sólidas

Esta matéria foi publicada originalmente na edição de março da Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento: http://bit.ly/2mXdzU7

Imagem de capa: Shutterstock/igorstevanovic

TEXTO ORIGINAL DE MENTE E CEREBRO

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