“A mulher da casa abandonada” é o nome de um podcast que viralizou recentemente. Ele conta a história de Margarida Bonetti, uma moradora do bairro Higienópolis que se tornou uma espécie de “lenda urbana” por morar em uma mansão abandonada, além de sair na rua com o rosto coberto por pomadas e, segundo investigações, ser até mesmo procurada pelo FBI por ter mantido uma funcionária em condições análogas à escravidão nos EUA. O podcast, de Chico Felitti, foi produzido para a Folha de São Paulo.
Após a ampla repercussão do podcast, inúmeros acontecimentos tiveram sequência. Dentre eles, cães da casa foram resgatados e Margarida Bonetti passou a ser investigada pela Polícia Civil de São Paulo que, dentre outras coisas, analisa a possibilidade que ela também é um caso de “abandono de incapaz”, uma vez que, além de morar em uma residência em condições insalubres (sem água, luz ou esgoto), apresenta falas com conteúdo possivelmente delirante, o que a tornaria inapta para responder por seus próprios atos.
O abandono de incapaz é crime previsto no Código penam e, a grosso modo, está relacionado a pessoas que necessitam de cuidados especiais por não serem capazes de cuidar de si mesmas sem auxílio de outrem. Nesse caso, podemos pensar em pessoas que são inaptas para cuidarem de si de sua higiene pessoal, alimentação, organização financeira, entre outras coisas. Para que o crime seja caracterizado é preciso que as pessoas que seriam as responsáveis, tais como cônjuges e familiares, tenham a intenção ou mesmo o desejo de abandonar alguém que ficará exposto a perigo.
Para o UOL, a polícia civil informou que o filho e a irmã da mulher serão intimados para que seja possível constatar se ela possui algum tipo de distúrbio psiquiátrico — o que, se for o caso, pode caracterizar o abandono de incapaz.
O psicanalista Christian Dunker, em entrevista, diz que vê sinais de transtornos mentais em ações atribuídas à Margarida, e avalia que “há indícios de um processo delirante. Isso pode acontecer em vários transtornos mentais”. Ele ainda cita o isolamento como forma de “proteção” encontrada por Margarida, que possivelmente pensa estar sendo vítima de perseguição
Nesse contexto, a casa vira uma espécie de bunker [estruturas no subsolo para resistir a projéteis de guerra] para uma pessoa que pensa que tem sempre algo ou alguém querendo prejudicá-la. Quem entra, vai trazer veneno ou vai mexer naquela ordem delirante que está ali. […] Qualquer um que se aproximar, seja um médico, um psicólogo ou o próprio familiar, vai assumir o lugar do ‘perseguidor'”, disse.
Ou seja, se corretamente diagnosticada, tratada e supervisionada, Margarida poderia ter sido impedida de cometer o crime que cometeu? Aguardemos pelo desdobramento da hisória.
Com informações de Uol e Aventuras na História
Imagem de capa: Uol – imagem de Margarida tirada há cerca de 10 anos, sem pomada no rosto, e no interior da casa.
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