Por Petrus Evelyn
Lembro-me certa vez um professor de Análise do Comportamento, quando questionado por mim a respeito do que ele achava da hipnose, afirmar: “hipnose não existe porque seria admitir a existência da mente”. Questionado novamente como uma pessoa poderia, sob hipnose, levar uma facada no braço e não sentir nenhum tipo de dor, ouvi mais um absurdo: “a pessoa certamente está fingindo”.
Ignorando a capacidade do professor de achar que uma pessoa pode fingir altos níveis de dor sem ter nenhum motivo aparente, hipnose não é um “fenômeno mental”, tampouco necessita de explicações mentalistas – como atestam diversas obras da área: Atravessando e Ressignificando, de Richard Bandler e John Grinder, os criadores da famosa Programação Neurolinguística e Hipnose no Alívio da Dor, de Hilgard & Hilgard, pesquisadores sérios com embasamento científico; e o excelente livro brasileiro “Hipnose na Prática Clínica”, de Marlus Vinícius Costa Ferreira, que demonstra, em várias partes, a neurologia da hipnose e como o cérebro age de forma diferenciada durante o transe, em comparação com o estado de vigília e de sono.
Abaixo uma demonstração de hipnose, realizada por mim em um dos meus cursos, em que o sujeito fica com o corpo totalmente “duro”. Segundo o professor citado, ele estaria apenas fingindo…
Um dos nomes mais proeminentes da história da hipnose é Clark L. Hull, importante nome, também, dentro do próprio behaviorismo e um dos inspiradores do mais famoso hipnólogo contemporâneo: Milton H. Erickson.
Erickson evitava as técnicas clássicas de hipnose (como aquelas utilizando um pêndulo ou um relógio). Ele desenvolveu múltiplas técnicas para alcançar o transe hipnótico, utilizando qualquer tipo de informação trazida pelo paciente para alcançar esse estado.
Sabe-se que o transe hipnótico é um estado em que a pessoa fica mais sensível ao ambiente a seu redor, podendo receber de forma menos resistente os comandos verbais dados pelo terapeuta. Sabe-se também que a hipnose nada mais é que uma técnica de comunicação que se utiliza de determinadas formas de “montar uma frase” para que ela seja aceita com mais facilidade pela pessoa (FERREIRA, 2006).
Não existe nada de especial ou diferenciado na hipnose. Todos os comportamentos executados sob os comandos do hipnotizador podem ser realizados sem estar hipnotizado. A execução dos comandos e orientações correspondem a mandos específicos relacionados com o controle de estímulos oferecidos pelo hipnotizador (DIAZ, 1998). Por exemplo: pede-se para a pessoa olhar para um pêndulo balançando de um lado para o outro (o que naturalmente vai gerar cansaço) e então o hipnotizador diz: você sente seus olhos cansados e quando sentir que eles estão cansados, você vai dormir profundamente. Pronto: criou-se uma associação entre o cansaço natural com olhos com o comando de dormir. Após isso, o hipnotizador mantem-se reforçando comportamentos relacionados com relaxamento (ele mantem um ambiente confortável para o sujeito), solicita que o indivíduo imagine uma situação agradável (o que gerará sensações agradáveis) e, oportunamente, pode pedir para imaginar um problema específico (que dentro de um contexto de relaxamento pode surgir de uma forma muito menos aversiva).
Mas, por que a hipnose pode ser uma ferramenta importante dentro da clínica para um terapeuta que possui as poderosas ferramentas comportamentais? Simples: porque dentro da clínica, pode ser bastante eficiente a utilização de símbolos enquanto equivalência de estímulos. Operações simbólicas permitem uma certa autonomia em relação a objetos que não estão presentes (BORTOLOTI, 2007) e isso também pode ser bastante prático no contexto terapêutico.
Muitas pessoas não estão preparadas para enfrentar um objeto que causa medo, mas talvez estejam mais propensas a pensarem nesse objeto simbolizado de outra forma – principalmente se o hipnotizador for habilidoso o suficiente para controlar a forma como esse estímulo surgirá.
Sob uma perspectiva comportamental, o hipnotizador é o ambiente do hipnotizado. Ele não “entra na mente” e nem precisa do conceito de mente para entender a hipnose. O que ocorre é que o hipnotizador evoca determinados comportamentos através do seu comportamento verbal, desenvolvendo no repertório do cliente novas possibilidades de respostas diante dos mesmos estímulos.
Continuando a história com o professor: contei-lhe sobre a “cura de uma fobia” que eu realizei com uma pessoa de forma acidental, quando eu ainda aprendia hipnose. Realizei uma rápida indução ao transe hipnótico (que consistiu em orientar a pessoa para relaxar). Pedi para ela imaginar uma aranha (objeto que ela tinha medo) e notei, através de suas expressões faciais, que ela ficou com medo apenas pensando no bicho. Então disse para ela imaginar que a aranha era rosa com pintinhas amarelas, que possuía asas e parecia ser de pelúcia, mas estava viva. Então ela podia se imaginar subindo sobre a aranha e galopando pelos céus como uma aranha alada.
Dias depois recebi dessa pessoa duas aranhas de plástico e um bilhete dizendo que ela viu uma aranha gigante, mas que lembrou da aranha colorida e de pelúcia que eu mencionei e não sentiu medo.
O professor, insistindo em falar algo que ele ignorava totalmente, disse que isso não funcionaria com todas as pessoas e que uma mesma técnica poderia ser usada pelos Analistas do Comportamento. Apesar dos meus esforços em afirmar que não se usa as mesmas técnicas com todas as pessoas – tampouco se faz isso na clínica comportamental e é por isso que se faz uma análise do histórico de reforçamento do sujeito – desisti de tentar convencê-lo.
A hipnose já se mostrou uma técnica extremamente eficiente para se utilizar no contexto clínico de forma complementar com a análise comportamental envolvendo diversos comportamentos relacionados com a cognição, fobias, emoções, habilidades sociais etc. Imagine utilizar uma única sessão para fazer uma pessoa extremamente tímida abordar pessoas na rua ou fazer uma pessoa que deseja desenvolver o hábito de estudar passar horas na frente de um livro depois de uma primeira sessão com você, não é incrível? Além de incrível e rápida, é de fácil aprendizado.
A primeira vez que vi a hipnose percebi que seria uma excelente ferramenta para ser combinada com a Análise do Comportamento: a primeira oferecendo uma mudança rápida nos comportamentos da pessoa e a segunda trabalhando para que o ambiente seja modificado e, à longo prazo, os comportamentos aprendidos com a hipnose sejam estimulados para se manterem cada vez mais frequentes (ou menos frequentes, dependendo do caso) no dia a dia do sujeito.
Imagem de capa: Shutterstock/wavebreakmedia
TEXTO ORIGINAL DE COMPORTE-SE
BIBLIOGRAFIA:
BANDLER, Richard; GRINDER, John. Atravessando. Summus. São Paulo: 1984.
_______, Richard; _______, John. Ressignificando. Summus. São Paulo: 1986.
DIAZ, Adolfo Javier Cangas. Análisis conductual del comportamiento hipnótico. Acta Comportamentalia: 1998.
FERREIRA, Marlus Vinícius Costa. Hipnose na prática clínica. Editora Atheneu. São Paulo: 2006.
HANLON, William H. Raízes Profundas. Editorial Psy II. São Paulo: 1994.
HILGARD, Ernest R; HILGARD, Josephine R. La hypnosis en el alivio del dolor. Fondo de Cultura Económica. México.
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