A história que o “eu-corpo” conta

É impressionante como nosso corpo conta uma história a nosso respeito. Como é literalmente um espelho do nosso jeito de estar no mundo e nas relações, afinal de contas, é o instrumento que temos para estar e ser no mundo. É por meio dele que nos comunicamos, seja com a fala, um olhar, um sorriso, com as mãos, um abraço, um gesto qualquer.

A verdade é que nós somos o nosso corpo (somos nosso rim, nosso pé, nossas mãos). Estamos tão impregnados dessa cultura extremamente racional, tão acostumados a desenvolver nossa lógica, tão presos à “cabeça” que todo o resto fica esquecido, anestesiado – nossa sensibilidade, fluidez, nossa leveza. Já repararam como os bebês respiram? Movimentos amplos, completos, que envolvem tórax e abdomem. Vamos aos poucos desaprendendo a respirar. A respiração torácica, aquela curtinha e presa no peito, que mal se nota que acontece, é a respiração da maioria das pessoas nos dias de hoje.

Recentemente tenho tido a oportunidade de experimentar a dança e pude começar a me dar conta mais claramente dessas coisas. Através da dança, por exemplo, pode aparecer nossa necessidade de controle e ansiedade na dificuldade em se deixar conduzir, em se entregar ao inesperado do próximo passo e às mãos de um outro alguém, nossa rigidez de movimentos, nossa insegurança. Como também há a possibilidade de nosso corpo nos mostrar nossa fluidez, força, agilidade, foco, receptividade. Todas essas coisas, que aparecem no momento da dança, não dizem respeito somente à dança, mas ao modo como nos relacionamos no mundo. Diz respeito a nós, a quem somos e como somos. A ansiedade que aparece ali, aparece em outras situações também, a fluidez e leveza que aparecem no momento da dança, também fazem parte de quem somos e com certeza se manifestam em outras situações da nossa vida cotidiana.

Volto a citar uma frase de Fritz Perls que já citei outras vezes e diz: “esqueça a razão e recupere os sentidos”. Quando a razão entra na dança, geralmente erramos os passo; tropeçamos em nosso próprios pés. E no entanto, quando nos deixamos sentir a música, a condução, o momento presente, o que nosso corpo nos mostra e tem vontade de fazer, tudo flui. Executamos passos que nunca aprendemos com a razão e a explicação.

Nossas dificuldades, entraves, podem ser percebidos e trabalhados também com e no nosso corpo. Por muito tempo cultivou-se a idéia de que é com a razão e a praticidade que se resolve e compreende tudo, mas o fato é que nós somos corpo-mente (e não corpo e mente); somos uma unidade, sentimos, falamos com cada párticula do nosso ser. Negligenciar isso é de uma violência sem tamanho para com nós mesmos.

Então proponho àqueles que puderem e quiserem, que busquem alguma atividade física não-mecânica (levantar peso não servirá a esse propósito) e tentem sentir e olhar pra esse espelho, e ouvir o que o seu corpo tem a dizer a seu respeito.

Aline Marques da Silva
Psicóloga

Fonte: http://gestaltizando.blogspot.com.br/

Psicologias do Brasil

Informações e dicas sobre Psicologia nos seus vários campos de atuação.

Recent Posts

Veja esta série na Netflix e ela não sairá mais da sua mente

Esta série que acumula mais de 30 indicações em premiações como Emmy e Globo de…

1 dia ago

Filme premiado em Cannes que fez público deixar as salas de cinema aos prantos estreia na Netflix

Vencedor do Grande Prêmio na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024 e um…

1 dia ago

Série ousada e provocante da Netflix vai te viciar um pouco mais a cada episódio

É impossível resistir aos encantos dessa série quentíssima que não pára de atrair novos espectadores…

2 dias ago

Influenciadora com doença rara que se tornou símbolo de resistência falece aos 19 anos

A influenciadora digital Beandri Booysen, conhecida por sua coragem e dedicação à conscientização sobre a…

2 dias ago

Tatá precisou de auxílio médico e passou noites sem dormir após acusação de assédio, diz colunista

"Ela ficou apavorada e disse que a dor de ser acusada injustamente é algo inimaginável",…

3 dias ago

Suspense psicológico fenomenal que acaba de estrear na Netflix vai “explodir sua mente”

Será que você é capaz de montar o complexo quebra-cabeça psicológico deste filme?

3 dias ago