Quando falamos sobre nós mesmos nos desperta uma sensação de recompensa primitiva, pois entre as maiores necessidades humanas é sentir-se importante diante dos outros. É uma carência que nasce conosco, um desejo saudável que move os nossos objetivos e relacionamentos.
Do ponto de vista psicológico isso não pode ser desconsiderado, porque em maior ou menor grau necessitamos de uma dose de aceitação externa.
Sentir-se importante fortalece a nossa autoestima, sendo que precisamos das pessoas para nos completar como seres sociais.
Entretanto, há uma linha tênue que separa a vontade benéfica de sentir-se importante, da necessidade patológica de aparentar que é alguém importante. Para entender os adultos que sofrem desse transtorno devemos retornar infância, onde pode ter ocorrido a falta de cuidado ou do seu excesso, tanto um quanto o outro pode influenciar de forma traumática a vida adulta.
Assim, certas pessoas sentem a necessidade de atenção exagerada ou exclusiva para si. O que as levam a se vangloriar nas relações cotidianas e digitais. Para o filósofo Byung-Chul Han: “Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”. O que representa uma forma de expor a sua particular visão de mundo, construída a partir da concepção de que os indivíduos se autoexploram e têm pavor do diferente.
Hoje, essa ostentação virou uma maldição, permitindo que até membros de gangues e de organizações criminosas se exibam como “vencedores” nas comunidades e nas redes sociais, como modo de realização da autoimagem, baseada nos códigos do submundo, que tencionam por aprovação social, seja pela ameaça ou pela violência.
Aliás, os piores nesses quesitos são os políticos demagogos que gostam de se gabar que são importantes, e de simular que são amigos de autoridades respeitáveis. Eles fazem micagem por holofotes, clamam por aplausos da platéia e mentem para os eleitores, um comportamento típico de falastrões.
Essa mania de se pavonear virtualmente despertou o interesse da ciência, que começou apontar os resultados de pesquisas destinadas a entender por que as redes sociais podem trazer à tona os instintos mais tenebrosos, inclusive os mal resolvidos na infância, amplificando os aspectos negativos de nossa personalidade.
Os estudos apontam que existem indivíduos que estão brigando por realização na sociedade. Contudo, é uma concorrência árdua, e quem não tiver inserção no mercado está fora da competição. Sentir excluído desse circuito impulsiona o consumo de ansiolíticos, como rivotril, diazepam e lexotan. E no corpo essas coisas se traduzem em anorexia, compulsão alimentar, tensão muscular, etc.
A preocupação desses sujeitos é com seu próprio ego: importam-se apenas com seus bens, com suas famílias, com seus sentimentos e com suas ideias. Han analisa que esse problema reside no fato de que o narcisista é cego na hora de ver o outro, sem esse outro, não podemos produzir o sentimento de autoestima.
É preciso dizer que não foi com a internet que surgiu a soberba, já que a necessidade de se gabar sempre existiu na história humana. Porém, com o ciberespaço o alcance da autopromoção é imenso, uma vez que na sociedade do hiperconsumismo todos precisam ser “comercializáveis”, o que causa muitas críticas.
Portanto, a saída é não reproduzir essa gabolice, que se degenerou em narcisismo, levando os indivíduos viverem com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito, para se tornarem “vencedores”, e se não conseguirem a culpa é deles, mas o “inferno” é os outros.
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Imagem Pexels
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