No Rio de Janeiro, um grupo de homens se reúne com frequência, e não é para falar sobre futebol, mulher gostosa nem carros. Nessas reuniões, afinal, não há espaço para preconceitos, clichês e rótulos. A iniciativa Memoh (homem, ao contrário) partiu do publicitário Pedro de Figueiredo, de 31 anos, e reúne grupos de homens machos o suficiente para questionar, justamente, suas atitudes e crenças enquanto homens, em sessões de terapia sobre o próprio machismo.
Segundo Pedro, a ideia é promover o debate entre os homens sobre comportamentos que não gostariam mais de replicar. “Queremos apoiar a luta das mulheres, sem roubar o protagonismo delas.”, explica o publicitário.
Os três grupos fixos reúnem até 20 homens, cada um, na Glória, no Centro e em Copacabana. Graças a uma parceria com o Circo Voador, a partir do próximo dia 19, haverá mais dois círculos na Lapa.
“Debatemos ainda temas machistas que também prejudicam o homem, como a dificuldade em pedir ajuda, a ausência de uma figura paterna, por que homens brocham, por que sexualizamos as amizades com mulheres, por que temos medo do feminismo e promovemos o machismo no ambiente profissional. O homem violenta mulheres, minorias, outros homens e até ele mesmo. O Memoh existe para que isso tudo seja questionado.”
O professor Faber Paganoto, de 36 anos, soube da iniciativa através de um amigo, ficou intrigado com a ideia e resolveu aderir:
“O primeiro impacto foi perceber muitos homens com as mesmas angústias que eu, querendo falar e ouvir, mas que também não encontravam brecha pra isso nos espaços masculinos que frequentavam. Diz-se que homem não pode sentir.” , resume Faber. “O grupo ampliou minha consciência para comportamentos machistas meus. E então, consciente deles, é mais simples transformar. A transformação tem que partir de nós, as mulheres já têm responsabilidade demais para se preocupar com nossas limitações.”
A mulher de Faber, a publicitária Marina Gomes, de 36 anos, notou mudanças no comportamento do marido:
“A alimentação da nossa filha ficava a meu cargo porque ele não gosta de cozinhar e já tinha outras tarefas domésticas. Sinalizei que me sentia sobrecarregada por ter essa responsabilidade. Agora o planejamento parte dele.”
O professor também notou mudanças na relação com o pai. “Era sem conflitos, mas também sem uma conexão”.profunda.
A iniciativa é deles, mas graças a elas
É claro que iniciativas como essas só são possíveis graças à luta das mulheres, adverte a pesquisadora de feminismo Patrícia D’Abreu, associada do Nepcom/ECO-UFRJ.
— A tomada de consciência é bacana, mas não cai do céu. Ela é resultado de uma valente luta das mulheres, que se cansaram da opressão — pondera Patrícia, que elogia a iniciativa: — Parte de uma questão fundamental para enfrentar preconceitos: assumir responsabilidade. Diante de um comportamento machista não adianta buscar justificativas, “ah, fui criado assim”, “não tive a intenção”, “é a cultura em que a gente está”.
Pedro sente essa tomada de consciência no dia a dia, “Atravesso a rua quando cruzo com uma mulher à noite porque minha presença pode representar para ela uma ameaça, mesmo não sendo. Como gosto de falar, notei que interrompia muito as mulheres durante a conversa. Parei”.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Jornal Extra.
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