Embora muitos não saibam, a depressão pós-parto não atinge apenas as mães. Pais de recém-nascido também estão sujeitos a sofrerem como problema. De acordo com estudos recentes, a taxa de homens que tem depressão pós-parto é semelhante a que ocorre entre as mulheres. Nas novas mães, o índice das que são diagnosticadas com o transtorno chega a 10% — número que pode ser ainda maior, já que muitas mulheres não percebem que alguns sintomas não são parte natural do processo da maternidade.
O diagnóstico no caso dos homens é mais difícil. Como os pais não gestam o bebê e não passam pelas mesmas alterações hormonais que as mulheres, eles não são considerados como possíveis pacientes pelos médicos. Outro problema é que a escala usada para avaliar o transtorno nas mães não é tão eficiente para realizar o diagnóstico nos homens. Esses empecilhos atrapalham o tratamento. Se não for tratado adequadamente, o transtorno pode colocar em risco a saúde da criança. Sabe-se que a depressão pós-parto é capaz de atrapalhar o desenvolvimento do bebê.
Profissionais de saúde sugeriram, durante uma convenção da Associação Americana de Psicologia, que a realização de exames para detectar a depressão pós-parto seja priorizada, tanto nos homens como nas mulheres. “Os pais precisam ser vistos como os parceiros que são; o sistema familiar é o que precisa ser avaliado e tratado sempre que houver um recém-nascido vindo para casa”, disse a psicóloga Sara Rosenquist ao The Guardian. A especialistas ainda revelou que os pais adotivos também podem enfrentar o transtorno.
Proposta semelhante foi feita também no Reino Unido. No final do ano passado, o grupo de campanha Fathers Reaching Out, – liderado por Mark Williams, que experimentou a depressão pós-parto, assim como a esposa -, apresentou o assunto a parte do parlamento inglês (Câmara dos Comuns). Já Andrew Mayers, especialista em saúde mental pré-natal, ressaltou a necessidade de considerar a possibilidade de que, além da depressão pós-parto, os homens possam sofrer da depressão pré-parto, que ocorre ainda durante a gestação.
O Institute for Health and Care Excellence (Nice), também no Reino Unido, informa que as diretrizes de reconhecimento, avaliação e tratamento de problemas de saúde mental em mulheres que estão passando pela fase de construção familiar (planejamento da gestação, gravidez e pós-nascimento) estão recebendo a atenção necessária.
Entretanto, ainda não há condutas de referência quanto à saúde dos parceiros, exceto no caso de nascimentos traumáticos. Por causa disso, o instituto recomenda que as famílias que enfrentarem aborto espontâneo ou o nascimento do bebê devem incentivar os parceiros a aceitar o apoio familiar e de amigos.
Para alguns, a depressão pós-parto costuma ser considerada uma questão hormonal e, por isso, não é vista como um problema que possa atingir os homens. “Uma pequena parte da depressão pós-parto é hormonal, mas há muitos outros fatores”, disse Mayers, que ainda salientou a existência de estudos que apresentaram evidências das mudanças nos níveis de testosterona diante da paternidade.
A ligação entre saúde mental e depressão pós-parto ocorre principalmente porque as pessoas costumam confundir o transtorno com o “baby blues”, termo em inglês que se refere às mudanças de humor drásticas que acontecem nos primeiros dias depois do nascimento do bebê e, apesar de em alguns casos serem muito intensas, tendem a desaparecer.
Já a depressão pós-parto é duradoura, começa mais tarde e é muito mais exaustiva, especialmente porque envolve diversos fatores – a maioria socioambientais – comuns a homens e mulheres. Outros fatores de risco para o problema podem envolver os mecanismos de enfrentamento da nova realidade, a realização de se tornar pai ou mãe e a mudança na relação entre o casal.
Mayers acrescentou que ressaltar a necessidade de tratamento para homens e mulheres não significa diminuir recursos para as novas mamães, Espera-se que recursos sejam disponibilizados para cuidar especificamente da condição masculina, mesmo que muitos homens ainda prefiram esconder os sintomas e ignorar o tratamento.
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Destaques Psicologias do Brasil. Com informações de: Veja.