Em 8 de junho de 1983, a polícia encontrou Rita Patiño Quintero, uma indígena Rarámuri, no porão de uma igreja metodista em Manter, Kansas, nos Estados Unidos. A mulher estava suja, com os pés machucados e visivelmente confusa, falando uma língua que ninguém compreendia. Incapaz de se comunicar em inglês, ela foi considerada mentalmente incapacitada e, após um confronto com um policial, foi internada em um hospital psiquiátrico por 12 anos.
Rita, nascida em 1930 no estado de Chihuahua, no México, era pastora, parteira, fitoterapeuta, artesã e lavadeira, vivendo uma vida autossuficiente em sua comunidade. Contudo, sua vida mudou drasticamente quando foi acusada injustamente de matar seu marido e teve seus rebanhos roubados. Após essas acusações, começou a vagar com seu filho, sendo rejeitada por sua comunidade. Posteriormente, também teve seu filho tomado pelas autoridades locais.
Nos Estados Unidos, Rota foi descoberta por um pastor. Ela estava comendo ovos crus no porão da igreja. Acredita-se que a mulher tenha chegado diretamente do México, uma vez que os Rarámuri, conhecidos como “corredores leves”, possuem uma forte tradição de corrida devido à geografia desafiadora da Serra Tarahumara.
Durante sua institucionalização, Rita apresentou um isolamento extremo. Sua condição foi finalmente reavaliada em 1994, quando a organização Serviços de Defesa e Proteção do Kansas revisou casos de pacientes internados há mais de cinco anos. A advogada Toria Mroz, designada para examinar o caso de Rita, encontrou registros históricos de que ela era uma indígena Tarahumara de Chihuahua.
O processo judicial contra o hospital resultou em uma indenização de US$ 90 mil, dos quais Rita teve que destinar US$ 32.641 a ONG que a ajudou e seus advogados. A maior parte do dinheiro restante foi desviada por uma freira, Beatriz Zapata, que administrava os fundos de Rita. Apenas US$ 10 mil foram devolvidos após intervenção judicial.
De volta ao México em 1995, Rita viveu com a ajuda de sua sobrinha, Juanita, enfrentando pobreza apesar da indenização. Seu retorno às montanhas da Serra Tarahumara trouxe algum conforto, mas ainda marcado pelo isolamento.
O documentário “La Mujer de Estrellas y Montañas”, lançado em abril de 2024 pelo cineasta Santiago Esteinou, narra a vida de Rita, destacando as múltiplas formas de discriminação e violência institucional que ela sofreu. O filme revela como Rita, uma mulher rica em cultura e habilidades, foi marginalizada devido a barreiras linguísticas e culturais.
Rita Patiño Quinteromorreu em 2018, e sua comunidade celebrou sua vida com uma festa de despedida, uma tradição rarámuri que acredita que celebrar a morte ajuda a pessoa a passar para o próximo plano de existência.
O documentário de Esteinou, resultado de uma longa apuração e entrevistas, traz à luz a complexa história de Rita, uma mulher que viveu entre estrelas e montanhas, mas cuja vida foi marcada pela injustiça e pelo isolamento.
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Fonte: BBC.
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