O caráter excludente na contemporaneidade está intrinsecamente relacionado aos conteúdos simbólicos e histórico-sociais provenientes da nossa sociedade ocidental. É um processo que vem de longas datas, como por exemplo, na antiga Esparta em que só sobreviviam aqueles que estivessem “aptos”, portanto, fossem fortes, saudáveis e úteis para atender às demandas daquela sociedade. Imediatamente após o nascimento, os bebês eram avaliados pelo conselho dos anciãos, e caso não correspondessem às expectativas vigentes daquela sociedade guerreira, eram automaticamente excluídos, jogados no abismo do monte Taygetus ou deixados morrer à míngua, de sede e fome.
Hoje observamos a exclusão social do deficiente físico como realidade cotidiana, em novas roupagens, apesar de suas conquistas em nome da inclusão, aquela continua existindo de maneira velada. Isto porque, embora com todos os avanços, tem-se como foco a estigmatização da “deficiência” e da dificuldade da pessoa em se inserir na sociedade e não do acolhimento do indivíduo pela sociedade com suas dificuldades e peculiaridades. Em outras palavras, o deficiente físico precisa se moldar às exigências sociais, o que não caracteriza acolhimento. Apesar das tentativas, dos esforços das leis e do Estatuto do Deficiente Físico, estes avanços não acompanham necessariamente os processos do imaginário popular e das representações sociais enraizadas através dos tempos. Ou seja, conquistas foram feitas no campo ideológico, mas não necessariamente concretizadas na prática; ainda há muito por fazer.
De acordo com o último senso do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2015, 6,2% da população tem algum tipo de deficiência. A partir destes dados, será que nossa sociedade está preparada não somente para promover sua integração mas sua inserção propriamente dita? Em outras palavras, a nossa sociedade está disposta a ter compromisso, apta a acolher, (e não somente suportar) a diversidade?
Apesar de tantas lutas e conquistas, a sociedade ainda precisa desenvolver um acolhimento eficiente, não somente no tocante à inserção social em si, mas principalmente na promoção da conscientização e sensibilidade acerca das potencialidades do deficiente físico. E não vamos ser alienados, os deficientes necessitam sim de demandas especiais, mas eles possuem uma capacidade de superação incrível. Sendo assim, porque focar apenas nas dificuldades?
Precisamos construir um novo paradigma de sociedade mais participativa, com menos estigmas, e isto só será possível quando refletirmos e mudarmos quanto ao nosso conceito de deficiência. Acredito que todos temos nossas dificuldades e desafios. E isto serve para todos. Obviamente que uma pessoa com esclerose múltipla enfrenta mais desafios que um deficiente auditivo. No entanto, o diferente enriquece. E para concluir, somos portadores sim, das nossas características únicas, sejam físicas ou psicológicas, bem como de nossas habilidades, talentos e potencialidades. E porque também não dizer de nossas dificuldades? Sim, temos nossas limitações e isto vale para todos, seja deficiente físico ou não. Somos diferentes na unicidade e a questão a refletir não é adaptação e sim acolhimento. Afinal de contas, somos todos iguais?