A liberdade não existe atualmente, não sabemos o que ela significa. Achamos que somos livres mas, com uma reflexão mais apurada, todos nós – seja a classe social, cor da pele, profissão, nacionalidade – estamos fazendo algo em nosso pequeno universo para evitar a liberdade.
Ser livre está muito longe de apenas fazer o que queremos, ou romper correntes externas que nos prendem, mas e principalmente, compreender todo o grande problema da dependência. Todos somos dependentes, dos pais, dos professores, dos chefes, dos maridos, das esposas, do emprego, do governo, etc. E este tipo de dependência é fácil de ser compreendido.
Mas existe outro, muito mais profundo, que é preciso ser compreendido para nos tornarmos verdadeiramente livres. A dependência do outro para nossa felicidade. Não fazemos ideia da extraordinária força que existe nesse tipo de dependência. Não se trata apenas de dependência física, a mais limitante, mas a interna, psicológica, e da qual, acreditamos piamente se tratar de felicidade, pois quando na verdade, somos dependentes de alguém desta forma, tornamo-nos escravos.
Se, quando envelhecermos, formos dependentes dos pais, do marido ou esposa, de algum guru, ou até mesmo de uma ideia, aí existirá sempre uma sujeição. Ainda não compreendemos este processo na sua profundidade, embora quando jovens, sempre sonhamos e lutamos por sermos livres.
Sabemos de verdade o que significa amar alguém? Como amar uma árvore, um pássaro, um animal de estimação, a ponto de cuidarmos dele, alimentá-lo, acarinhá-lo, embora não recebamos nada em troca, ele não nos ofereça proteção, nem nos siga ou dependa de nós? Na verdade nós não amamos assim. Porque nosso amor é sempre cercado de ansiedade, ciúme, medo – o que implica que, no íntimo, dependamos do outro, queremos ser amados. Não somente amamos, mas pedimos algo em troca; e já neste pedido quase inconsciente nos tornamos dependentes.
Liberdade e amor andam juntos. O amor não pode nunca ser uma reação. Uma troca. Se eu amo a outrem porque este me ama trata-se de comércio, menos amor. Amar não é pedir algo em troca, nem mesmo sentir que estamos doando algo – e é somente neste amor que poderemos encontrar a verdadeira liberdade.
Precisamos compreender então o problema da liberdade. Precisamos descobrir sozinhos o que significa amar, porque se não amarmos, nunca seremos atentos, e pior, nunca seremos gratos. Mas, o que significa ser atento? Um exemplo é quando vejo uma pessoa com fome e sem recursos e interrompo o que estou fazendo para ajudá-la a comer. Faço isso não porque alguém me pediu, mas porque tenho certeza que este é o mais certo a fazer.
Precisamos estar preocupados com a vida, com o meio ambiente, amar a natureza como um todo, plantar uma árvore e cuidá-la, não poluir um rio, não escravizar ou prender animais, ter sensibilidade e estar receptivo ao extraordinário movimento chamado vida – para tudo isso é preciso ter liberdade; e para sermos livres precisamos amar. Sem amor não há liberdade; ela é apenas uma ideia sem valor. Somente para aqueles que entendem e rompem com a dependência interior e que, portanto, sabem o que é o amor é que pode haver liberdade; e apenas eles formarão uma nova civilização, um mundo melhor.
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