Por Teresa Paula Marques

Só o psicólogo pode detectar os problemas e delinear estratégias que previnam o insucesso escolar.

É hoje comum que professores, médicos e pais, enviem uma criança ao psicólogo para que este o avalie, sobretudo se existem dificuldades escolares, ou se de algum modo as Atitudes/comportamentos se afastam um pouco da normalidade.

Em regra, o psicólogo começa por ouvir os pais, pois só estes sabem fornecer dados que são muito úteis para construir uma história clínica. Assim, ao longo da primeira sessão, são recolhidas informações (desenvolvimento físico e emocional) que dão sentido a todos os resultados que se obtêm posteriormente na avaliação psicométrica.

Não se pode avaliar ninguém, sem enquadrar devidamente essa avaliação na história pessoal do sujeito avaliado. Além disso, quaisquer interpretações de testes requerem uma longa preparação teórica, que só um psicólogo tem acesso.

Existem, de facto, testes psicotécnicos que todos conhecem e que por vezes efectuam, até por brincadeira. São testes que permitem avaliar, muito superficialmente, factores quer da personalidade, quer da inteligência, mas que não devem ser levados excessivamente a sério.

Avaliar o QI

A noção de quociente intelectual é discutível, já que existem alguns tipos de inteligência, como a tão falada inteligência emocional, que influenciam bastante as performances dos sujeitos. Uma pessoa pode ser muito inteligente, a nível formal, e não conseguir ser bem sucedida a nível profissional devido a uma falha ao nível da inteligência emocional.

Ainda assim, é importante que haja uma avaliação dos factores cognitivos da criança. Existem muitos testes que se aplicam consoante os objectivos e, também, a idade. Os mais conhecidos são a WISC-R e as Matrizes de Raven.

Para além disso, muitas vezes impõe-se que se faça uma avaliação do desenvolvimento. As provas de desenvolvimento permitem-nos avaliar se uma criança se está a desenvolver de uma forma adaptada à sua idade. São testes complexos que podem ser aplicados desde os primeiros meses de vida.

Requerem algum tempo para a sua aplicação e o psicólogo tem que estar muito à vontade com as tarefas da bateria, de forma a conseguir aplicá-la de modo eficaz. Tratando-se de crianças um pouco mais velhinhas, surge a possibilidade, de uma forma simples, conseguirmos saber se estão a desenvolver-se harmoniosamente, através de um simples desenho da figura Humana. Através da análise do desenho chega-se a um valor que a situa numa determinada idade mental e compara-a também com as outras crianças da mesma idade.

Avaliação emocional

Quando existe a necessidade de se despistar problemas de ordem emocional, o psicólogo faz recurso de outro tipo de testes. Os medos nocturnos, os ciúmes dos irmãos mais novos, o sentimento de exclusão familiar, são alguns dos motivos que desencadeiam alguns desequilíbrios emocionais na infância.

Em regra, usa-se o desenho como forma de avaliar o que a criança está a sentir. O “Teste do Desenho da Família” é um instrumento que, embora simples, fornece informações muito úteis ao técnico. Todos os pormenores são devidamente observados, estudados e conjugados com a história pessoal do sujeito.

Outra prova bastante utilizada, é a “Era Uma Vez”, cuja autoria se deve a uma psicóloga portuguesa. Este teste é graficamente muito atraente e tem como tarefa contar histórias. Pretende-se perceber a forma como as crianças reagem a determinadas temáticas que as tocam particularmente.

O medo do abandono, o adoecer, o medo do escuro e os conflitos familiares, são alguns dos temas propostos. Com base nas respostas dadas no teste, o psicólogo pode chegar a algumas conclusões no que respeita à forma como a criança vivência cada uma das situações propostas e a sua capacidade/incapacidade de as ultrapassar.

Avaliação da maturidade escolar

Hoje é muito comum que os pais desejam que os filhos ingressem mais cedo no primeiro ano e que aprendam rapidamente a ler. Esta pressa pode dar maus resultados porque se a criança ainda não atingiu um determinado grau de maturidade intelectual, é difícil a assimilação de determinados conceitos.

Por este motivo, o Ministério da Educação exige que se efectue uma avaliação psicológica. Se a maturidade da criança estiver muito aquém do esperado, tendo em conta a idade cronológica, é benéfico que a criança fique mais um ano na pré-escolar, pois só assim se poderão prevenir o surgimento de problemas como a Dislexia, de entre outros.

Avaliar para encontrar soluções

Quando é pedido um exame psicológico são avaliados vários factores ao mesmo tempo. É que, por exemplo, o facto de uma criança não ter aproveitamento escolar, pode estar relacionado com problemas emocionais e não cognitivos.

Nestes casos, nos testes de Q.I. não existe nenhum valor que remeta para um déficit, portanto o psicólogo vai procurar outras fontes para o problema. Pode ser que um conflito familiar seja o responsável pelos baixos índices de atenção e memória, mas também pode ser um conflito com os colegas ou até com o professor.

Tudo isso tem que ser explorado, quer através dos testes, quer da entrevista. Por fim é apresentado um relatório de avaliação psicológica e são delineadas estratégias para se ultrapassarem as situações de forma positiva.

É importante acentuar que, quanto mais precocemente se detectarem os problemas, mais rapidamente se podem delinear planos para os resolvermos e, só através de um apoio especializado é que tal se torna possível.

Por isso mesmo, se o seu filho teve dificuldades no ano lectivo que passou, pondere a hipótese de o levar ao psicólogo logo no início deste ano escolar, pois só assim estará a prevenir o insucesso.

Teresa Paula Marques é Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Infantil e reside em Lisboa, Portugal.

Teresa Paula Marques

Vivo em Lisboa, mas nasci há 48 anos, no Tramagal (Abrantes). Desde 1992 que me dedico à psicologia, nas suas mais variadas vertentes ...

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