SAÚDE MENTAL

Jovem com Transtorno Borderline consegue permissão para receber eutanásia

Alerta de Gatilho: Este texto contém discussões sobre eutanásia e doenças mentais.

A holandesa Aurelia Brouwers ingeriu veneno fornecido por um médico e se deitou para morrer. A eutanásia – morte assistida por um médico – é legalizada na Holanda, e a decisão de Brouwers de deixar esta vidafoi sancionada pelo Estado.

Contudo, o caso se distingue pela ausência de uma condição terminal, que frequentemente fundamenta os pedidos de morte assistida. Aurelia recebeu permissão para encerrar sua própria vida devido a uma doença psiquiátrica.

“Eu tenho 29 anos e escolhi ser voluntariamente submetida à eutanásia. Escolhi isso porque tenho muitos problemas de saúde mental. Sofro de maneira insuportável e sem esperança. Cada suspiro que eu dou é uma tortura…”, contou Aurelia em um documentário da RTL.

A prática da eutanásia é proibida na maioria dos países, mas na Holanda é permitida contanto que o médico esteja certo de que o sofrimento do paciente é “insuportável, sem perspectiva de melhora” e que “não exista alternativa razoável na situação em que se encontra”.

Esses critérios podem ser mais facilmente aplicados em situações como a de um paciente diagnosticado com câncer terminal, sem opções de tratamento e sofrendo intensamente.

Na Holanda, em 2017, a maioria das 6.585 mortes por eutanásia ocorreu em pacientes com sérias enfermidades físicas. Contudo, houve 83 casos em que o procedimento foi realizado devido a sofrimento psiquiátrico, gerando polêmica. Esses casos envolviam indivíduos, como Aurelia, cujas condições, segundo alguns observadores, não eram necessariamente consideradas incuráveis.

“Quando eu tinha 12 anos, sofria de depressão. E quando fui diagnosticada pela primeira vez, me disseram que eu tinha Transtorno de Personalidade Borderline (caracterizado, por exemplo, por mudanças súbitas de humor)”, relatou a jovem.

“Outros diagnósticos se seguiram – transtorno de apego reativo, depressão crônica, eu sou cronicamente suicida, tenho ansiedade, psicoses e ouço vozes.”

Os médicos de Aurelia não estavam dispostos a apoiar seus pedidos de eutanásia. Por isso, ela se dirigiu à Levenseindekliniek, ou Clínica de Fim de Vida, localizada em Haia, na Holanda. Esta clínica representa uma espécie de último recurso para aqueles cujos médicos ou psiquiatras recusaram seus pedidos de eutanásia. No ano passado, a clínica supervisionou 65 das 83 mortes aprovadas por motivos psiquiátricos na Holanda.

Ao longo das suas duas últimas semanas de vida, Aurelia viveu muitos momentos de angústia.

“Eu estou presa no meu próprio corpo, na minha própria cabeça e só quero ser livre”, disse ela. “Eu nunca fui feliz – não conheço o conceito de felicidade.”

A eutanásia de Aurelia Brouwers desencadeou um intenso debate na Holanda, alcançando manchetes em diversos países. Embora ninguém tenha sugerido que o procedimento foi ilegal, muitos questionaram se a legislação de 2002 que permitiu a eutanásia foi concebida para casos como o dela.

A especialista Kin Vanmechelen argumenta que, em alguns casos, quando as pessoas buscam a eutanásia devido a razões psiquiátricas e não são atendidas, elas acabam tirando a própria vida. Em sua opinião, esses casos devem ser considerados equivalentes a doenças terminais.

“Eu tratei pacientes que eu sabia que cometeriam suicídio”, diz a especialista. “Eu sabia. Eles me disseram, eu senti, e pensei, ‘eu não posso te ajudar’.

“[…] Então, ter a eutanásia como alternativa me deixa muito grata por termos uma lei. Os que eu sei que cometerão suicídio são terminais”.

No documentário, Aurelia Brouwers conta que tentou tirar a própria vida “cerca de 20 vezes”. “Fiquei em estado crítico algumas vezes, mas meu coração e pulmões eram muito saudáveis. Os médicos diziam: ‘É um milagre, ela conseguiu’.”

Aurelia Brouwers partiu após tomar o veneno em 26 de janeiro de 2018. “Esta é a bebida”, diz ela. “Eu sei que o gosto é amargo, então vou engolir rápido. E então vou dormir.”

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