Por Litza Mattos
Para tentar fugir do “efeito Google” – tendência de sempre procurar o que deseja na internet porque se esqueceu alguma informação –, o músico Carlos Eduardo Matias diz que tenta fazer exercícios para “forçar” sua memória. “Também procuro usar mais a internet a meu favor, para assistir a vídeos e palestras que me fazem parar para pensar e trazem conhecimento”, conta.
Depois que passou a ficar superconectado por conta do blog Tanakuka, o publicitário Roger Henrique Ferreira percebeu uma piora na sua memória. “É péssima. Muito fraca. O trabalho com a web exige que eu esteja conectado tempo inteiro. Isso já me incomoda um pouco”, reclama.
Nesses casos, a recomendação do diretor do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Ivan Izquierdo, é ler. “A memória só funciona se a estimulamos. E só atrofia e morre se não o fizermos. O melhor exercício é a leitura. Ler muito ajuda a fortalecer a memória. Quanto mais usada, melhor funciona. É o típico exemplo de que a função faz o órgão”, diz.
Izquierdo explica que a memória é feita e armazenada em sinapses (ligações entre neurônios) no sistema nervoso central. Na memória de curta duração, usada para gerenciar a realidade, a parte do cérebro mais utilizada é a do córtex pré-frontal. Mas, quando queremos transformá-la em memória de longo prazo, é preciso transferir essa informação para outra região do cérebro – o lobo temporal.
Para isso acontecer, praticar atividade física, alimentar-se de forma saudável, fazer exercícios de repetição e dormir bem são atitudes fundamentais.
Imediatismo prejudica a própria segurança das fontes de consulta
A falta de paciência para acessar informações online faz com que a segurança dos dispositivos móveis seja prejudicada no imediatismo de nossos hábitos, conforme aponta Fábio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky Lab no Brasil.
“Existe um imediatismo tão grande que, ao baixar aplicativos, por exemplo, as pessoas não leem os termos de uso e acabam se expondo ou abrindo brechas para vírus”, observa. A pesquisa mostra que apenas 30% dos consumidores instalam segurança extra em smartphones.
Os dispositivos móveis ganharam tamanha importância na vida das pessoas que, segundo Assolini, em uma situação de roubo, por exemplo, a vítima não consegue se ver livre do medo de perder dados simplesmente porque não os memorizou. “Isso aumenta a importância das informações que guardamos. O trauma de perder o celular está também associado ao risco de perder nomes, datas e números que não guardamos em outro lugar”, diz.
Parar de usar os aparelhos, porém, não é uma opção viável. Mas, para o analista, a orientação é fazer uma cópia de segurança de todas as informações. “São facilidades que vieram para ficar e não vão embora, mas é preciso proteger os dados contra vírus que possam comprometer o uso do smartphone”, diz. (LM)
Como evitar problemas no aparelho:
Sempre use senhas. A forma mais básica de segurança é também a mais eficiente e evita que informações importantes sejam acessadas.
Cuidado com os apps instalados. Antes de instalar qualquer aplicativo, certifique-se de ler as recomendações e procurar informações na internet.
Crie o hábito de fazer backup. A cópia de segurança pode salvar você caso o smartphone caia numa piscina, seja roubado ou precise formatá-lo.
Mantenha o sistema operacional atualizado. As atualizações do seu iOS ou Android contêm revisões que ajudarão o seu aparelho a permanecer em segurança.
Cuidado onde usa o wireless e o bluetooth. Conexões sem fio públicas não oferecem segurança. Ao se conectar a elas, você passa a estar vulnerável e suscetível a ataques.
Minientrevista – Gislaine Gil – Neuropsicóloga e Autora do livro “Memória: tudo o que você gostaria de saber mas se esqueceu de perguntar”
O acesso a dispositivos digitais está provocando amnésia digital?
Amnésia é a perda de uma informação que em algum momento foi armazenada. Geralmente, quando as pessoas usam esses dispositivos, elas tomam contato com a informação apenas uma única vez. Esse ato está mais ligado à atenção e à execução motora do que à memória. Logo, dizer “dependência digital” seria mais correto.
Essa dependência pode realmente prejudicar a memória?
É fato que a tecnologia faz com que a pessoa não exercite a memória e se sinta prejudicada. Por outro lado, sobra mais espaço na memória para se utilizar com outro conhecimento. A propensão a memorizar algo está intimamente ligada à prioridade e à importância da informação em determinado momento.
Por que, então, 24% dos pesquisados esqueceram a informação? Estamos usando mais a memória de curto prazo?
Se for uma informação relevante apenas para determinado momento, sim. Mas, se a informação tiver um conteúdo emocional e/ou for repetida, ela se torna uma memória de longo prazo.
O esquecimento quase sempre é decorrente de falta de atenção, e não de memória?
Na maioria dos pacientes que vêm aos consultórios, sim. A pessoa que está distraída não se concentra – logo, a informação nem chega a ser armazenada. E só podemos falar que esquecemos se em algum momento a informação foi armazenada na memória.
Estamos mais acomodados por sabermos que temos qualquer informação na palma da mão?
Para algumas pessoas, pode ser que sim; para outras, pode ser necessidade, uma vez que não temos tempo nem “espaço” suficiente para armazenar tanta informação nova em um curto espaço de tempo.
O grande volume de informações pode estar mudando a forma com que gerenciamos a nossa memória?
Sim. Afinal, somos seres adaptáveis. Se precisarmos ter acesso a um número grande de informações e temos um “hardware cerebral limitado”, precisamos de outro local para armazená-las. E é nesse momento que usamos recursos externos.
TEXTO ORIGINAL DE O TEMPO
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