EDUCAÇÃO

Lições valiosas sobre a importância da empatia na escola

Por Amanda Mont’Alvão Veloso

Uma sala de aula com alunos e professores pode ser a faísca de muitas revoluções pessoais, em vez do automático ensino-aprendizado esperado pela sociedade.

Ser uma faísca transformadora da realidade é o grande desafio das escolas, cada vez mais pressionadas a formar alunos que gerem resultado e correspondam à produtividade exigida do mercado de trabalho. Quando o olhar é transferido para o desempenho, dificilmente se consegue focar na pessoa, no indivíduo.

“Você tem que ser o melhor, você tem que passar no vestibular, você tem que responder a uma sociedade e a escola muitas vezes esquece que, para educar, a gente precisa mais do que papel e lápis”, afirma Sônia Ribeiro, líder da Escola Comunitária Luiza Mahin, em um evento sobre empatia promovido pela iniciativa Escolas Transformadoras.

“Como é que a gente pode ser empático se a gente não olha o outro porque a gente não sabe se olhar?”, questiona Wellington Nogueira, fundador do Doutores da Alegria.

Em momentos como o que vivemos, a empatia na educação se torna um elemento crucial: Sem ela, a comunicação e os laços entre professores, alunos e colegas de classe ficam frouxos, sem espaço para a compreensão ou para a solidariedade.

A empatia permite que enxerguemos a perspectiva de outra pessoa – e isso pode ser extremamente benéfico para nossos relacionamentos e ajuda a aliviar nosso estresse.

“Empatia é sentir no lugar do outro, é sentir pelo outro, sentir com ou como o outro”, assinala Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação e professor da Universidade de São Paulo.

“Se o educador não for capaz de se colocar no lugar do educando, dificilmente eles vão criar o vínculo necessário para que o processo de educar se realize”, alerta Helena Singer, diretora nacional de inovação do Sesc.

“Vamos parar com essa história de a educação ficar atrás do mercado de trabalho. É por isso que a empatia desapareceu”, decreta a psicóloga e consultora educacional Rosely Sayão.

Singer lamenta:

“A estrutura escolar não favorece a empatia com o sentimento daquele que é estudante, seja criança, adolescente ou adulto. É perfeitamente possível escolarizar sem empatia e eu acho que essa é uma consequência grave.”

Silvia Lignon Carneiro, fundadora da Escola Transformadora Amigos do Verde e do Instituto Sementes ao Vento, de Porto Alegre (RS), tem um palpite:

“O fato é que a gente está em uma sociedade competitiva muito dura, e durante a vida a gente vai perdendo essa nossa sensibilidade.”

Entre sensibilidades perdidas e dificilmente procuradas, a empatia mostra seu poder na rotina. Ribeiro, de Salvador, lembra do dia em que esqueceu de preparar o lanche para o filho levar para a escola. Ele estuda no mesmo estabelecimento onde ela trabalha. Então ela foi até a sala de aula entregar o suco para o garoto, mas ficou receosa porque apenas ele receberia o lanche, enquanto as demais crianças ficariam olhando. O menino recebeu o suco e o bebeu.

“À noite, a gente conversando, eu disse a ele ‘fiquei com vergonha’. Sem eu sinalizar qual tinha sido a minha vergonha, ele falou ‘eu também’. Aí eu disse, ‘de quê?’. E ele disse ‘do suco’. Eu questionei, ‘do suco?’ ‘Sim, porque quando fui bebendo, eu pensei ‘por que só eu?’.

Foi nessa hora que, emocionada, Ribeiro percebeu que o trabalho da escola estava dando certo. “Uma criança de 5 anos se incomodar como o fato de que, naquele calor de Salvador, só ele está bebendo suco, é empatia.”

O evento reuniu pesquisadores, educadores e jornalistas para discutir sobre o cultivo da empatia nas escolas. O Escolas Transformadoras é uma comunidade global que tem como objetivo identificar, conectar e apoiar escolas com práticas inovadoras e fortalecer a visão de que todos podem ser transformadores da realidade.

Imagem de capa: Shutterstock/Monkey Business Images

TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST

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