COMPORTAMENTO

Mãe cuida de 3 filhos autistas com R$ 212 do Bolsa Família

Você já imaginou ter que criar sozinha três filhos menores que têm a síndrome do espectro autista? Pois essa é a dura realidade da dona de casa Jéssica Renata da Silva. Ela mora de favor em um quintal de uma residência, no Alto José Bonifácio, na Zona Norte do Recife. Sem apoio e condições para trabalhar, diante das dificuldades de relacionamento das crianças, ela vive com R$ 212 do Bolsa Família.

Jéssica é mãe solo e cuida de Carlos Daniel, de 8 anos; Carlos Eduardo, de 5 anos e Davi Lucas, de 3 anos. Eles têm dificuldades de convivência com outras pessoas e são bastante agitados. A dona de casa se separou dos dois ex-companheiros, que são pais dos meninos.

Vivendo em uma situação complicada, a mulher publicou nas redes sociais um vídeo, fazendo um desabafo. A mensagem, que viralizou, resultou em uma audiência pública realizada no Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

Jéssica fez seu pediu socorro em audiência. “A lei diz que eles têm direito a um atendimento multidisciplinar, moradia digna, transporte inclusivo, mas nada disso está acontecendo. Parem de dar desculpas, é o que eu peço. As mães dos autistas estão adoecendo”, afirmou.

De acordo com, o dinheiro do Bolsa Família está longe de sanar todas as dívidas da família. Algumas das despesas são custeadas com a ajuda de amigos, que até chegaram a criar uma campanha para arrecadar fundos e comprar uma casa própria para a mãe e os filhos.

No lugar onde mora, a mulher passa muitas de suas noites vigiando os filhos para que escorpiões e ratos não invadam a casa.

“O mais difícil é que eu não tenho suporte. Sou só eu para fazer tudo com eles. Por passar, às vezes, a noite acordada, tenho que estar bem no outro dia. Isso reflete muito na rotina”, disse a dona de casa.

Os três filhos de Jéssica são funcionais e verbais. Isso significa que o nível do transtorno do espectro autista permite que eles se expressem e formem diálogos, diferente de pessoas com níveis mais severos de autismo. Entretanto, o transtorno exige que eles tenham assistência multidisciplinar, que, segundo a mãe, nunca chegou.

“O neurologista nos encaminhou para fonoaudiólogo, psicólogo, terapia ocupacional… Toda assistência está faltando na rede. É um descaso muito grande”, afirmou.

Jéssica contou, também, que levou os filhos para atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Para ela, o tipo de serviço oferecido não se adequa às necessidades dos autistas.

“O Caps atende a todas as pessoas com deficiência. São cinco crianças em uma sala de atendimento em grupo. A gente precisa de uma assistência dedicada ao autista”, explicou a dona de casa.

Mais problemas

As crianças dependem também de um remédio chamado Risperidona. O medicamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Para ter acesso, no entanto, é preciso ter um laudo de um psiquiatra. Jéssica disse, no entanto, que a resposta da rede de saúde não é compatível com a urgência da família.

“A criança precisa passar por um psiquiatra, para que o médico solicite o pedido do medicamento. Essa consulta eu não consegui ainda. A rede fala que o tempo estimado para a consulta [com o psiquiatra] é cerca de dois anos após a marcação”, disse.

A falta do laudo que deve ser emitido pelo psiquiatra atrapalha também a necessidade do transporte das crianças. “O VEM Livre Acesso [cartão usado para o transporte coletivo no Grande Recife] foi negado por falta desse laudo do psiquiatra. Um problema vai puxando o outro”, afirmou.

Dar entrada no Benefício de Prestação Continuada, para os filhos de Jéssica, também não foi possível. Só o processo do caçula está em andamento no Instituto Nacional do Seguro Social, ainda sem resposta.

Na escola, os problemas são semelhantes. Segundo Jéssica, nenhum dos três meninos tem o auxílio de um apoiador de ensino, direito previsto em lei. Em casa, a mãe tenta “se virar” com livros doados para estimular o aprendizado dos filhos.

Começar a trabalhar fora de casa também é um cenário distante para Jéssica. Ela disse que desce e sobe a escadaria que dá acesso à casa onde vive, até oito vezes, diariamente.

“Ninguém quer olhar três crianças, independentemente do autismo. É uma responsabilidade muito grande. Eles não param hora nenhuma”, disse.

Respostas

Segundo informações da Secretaria de Saúde do Recife, uma equipe esteve na casa de Jéssica e ela foi encaminhada ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Alto do Mandu, na Zona Norte. Ela passará a receber cesta básica e acompanhamento para conseguir o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A prefeitura disse, ainda, que vai estudar se Jéssica poderá ganhar uma casa da prefeitura e que os filhos dela serão encaminhados ao Caps Zaldo Rocha, na Encruzilhada, na Zona Morte, local onde o filho mais novo já foi atendido. Por fim, a gestão disse que o atendimento multidisciplinar foi reorganizado.

Sobre o medicamento necessário para o tratamento dos meninos, a Secretaria de Saúde disse que tem estoque do remédio, mas que ele só é fornecido para crianças com mais de 5 anos, como definido na bula.

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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de G1.
Foto destacada: Reprodução/TV Globo

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