Ela é mãe de cinco crianças, quatro meninos e uma menina. Dentre os cinco, um deles tem o espectro autista. Certa vez, quando perguntada pelo caçula se ela “amaria mais” o irmão que tem autismo, essa mãe encontrou a maneira mais lúdica e emocionante para explicar ao garoto que ama todos com igual intensidade, mas de maneiras diferentes. Confira:
“Vem cá, amigo. Sente-se ao meu lado e deixe-me contar uma história. (…) Era uma vez uma mãe que teve cinco patinhos. Os patinhos nasceram todos em fila – um logo após o outro. Eram quatro garotos e uma menina. Esta mamãe acreditou que seus patinhos seriam muito parecidos, afinal eles nasceram todos juntos e tinham os mesmos olhos e sorrisos. O segundo patinho, no entanto, destacou-se do resto.
O segundo patinho chorava o tempo todo e não dormia bem, Além disso, ele se torcia e contorcia, como se quisesse rastejar para fora de sua própria pele.
Empurrando um enorme carrinho duplo ao longo da calçada, ela reclamou com as amigas pelo fato de que o segundo patinho era muito duro e muito diferente dos outros, mas acreditava que seria apenas uma fase.
No primeiro aniversário dos patinhos, no entanto, ela sentia um buraco no estômago. Algo não estava bem. Algo não estava certo com o segundo patinho, aquele que tinha olhos azuis e cabelos castanhos macios.
Ele não fazia nenhum som, nunca tinha se divertido brincando, como os outros patinhos faziam. Se algo ou alguém fizesse barulho, ele soltava um grito alto e vigoroso que poderia durar horas.
Então a mamãe pato levou o bebê a um médico especial e o médico disse que ele tinha algo chamado Transtorno do Espectro Autista. Isso significa que, pelo resto de sua vida, seu bebê pato ficaria na beira da lagoa, enquanto todos os outros brincavam juntos. Isso significava que ele iria trabalhar mais do que qualquer outro patinho pelas coisas mais simples da vida.
Ainda assim, essa mãe era um pouco boba e ingênua. Ela pensou que ele iria superar todo o choro e o sono. Ela pensou, se ela apenas trabalhasse duro o suficiente e ele trabalhasse duro o suficiente, ele poderia aprender a ser um pato comum. Ele podia aprender a jogar e dar grandes abraços e dormir quando todo mundo dormia. Em outras palavras, ela pensou que ele poderia superar seu autismo. Ela se agarrava à ideia de que, um dia, seus patinhos andariam pelo mesmo caminho.
Quando esse patinho era muito jovem, ele tomava muito do tempo da sua mãe. Seus outros filhos passavam muito tempo esperando. Eles esperaram enquanto o irmãozinho gritava e batia a cabeça e a mãe o segurava nos braços e tentava acalmá-lo. Eles esperaram enquanto ela negociava na mesa de jantar e limpava a comida das paredes. Eles esperaram no shopping, quando ele se recusou a segurar a mão dela, e esperaram enquanto ela explicava, “por que sim! Ele tem autismo!”
Com o passar do tempo, a mamãe pato ingênua percebeu que o autismo era para sempre. E apesar de aprender a se sentar para as refeições e segurar a mão nas lojas, o patinho com autismo ainda tomaria muito do seu tempo. A mamãe pato sente falta dos jogos de basquete, porque o patinho com autismo não consegue lidar com o som da bola quicando no chão do ginásio. Ela deixa concertos de coral e recitais antes do final porque ele fica inquieto e ansioso. Ela assiste jogos de beisebol com metade de sua atenção no turno e a outra metade nele.
Ele tem 15 anos agora, este segundo patinho em uma fila de cinco. Ele só vai usar tênis azuis. Ele limpa seus óculos uma dúzia de vezes por dia. Ele é muito alto. De vez em quando, os outros patinhos batem as asas e reclamam. Eles dizem que seu irmão Jack se safa de tudo, e ela nunca o culpa por nada, e ele nem precisa fazer lição de casa. Dizem que ela o ama mais. Ela, no entanto, não o ama mais do que ama os outros, simplesmente o ama de forma diferente.
Febrilmente, ela deseja poder amá-lo como ama seus outros – alegremente, com abandono impotente. Em vez disso, ela o ama com um olho no relógio, sempre assistindo, assistindo, assistindo. Ela não pode se dar ao luxo de desistir por um único segundo, entende? Constantemente, ela tem que ensinar e ajudar e acalmar esse filhote dela. Isso não significa que ele é o favorito dela. Ela não tem favoritos.
Você vê, pequenino, o amor de uma mamãe é infinito. É maior que o céu. É mais brilhante que o sol. Como as ondas de um oceano, nunca se esgota. Sempre há o suficiente.
O autismo mudou sua família.Isso os mudou, e eles nunca podem voltar a ser quem eles já foram. Ela está tentando fazer o certo. Ela está se esforçando tanto para ensiná-lo a cozinhar e virar uma chave na fechadura e colocar um selo em um envelope, para que um dia, quando ela se for, o resto de seus patinhos não tenham tanta responsabilidade.
Talvez não haja certo. Talvez haja apenas a tentativa. Talvez haja apenas uma vida confusa cheia de erros e mal-entendidos e pequenos passos à frente.
Seus patinhos estão começando o voar agora, um por um. Um adolescente que se dedica a trabalhar nas manhãs ensolaradas de verão. Uma menina cor-de-rosa que atira bolas de basquete nas cestas. Um garoto de cabelos escuros que balança o taco de baseball e corre, de cabeça baixa, chuteiras piscando, para a primeira base. E você, o último patinho.
Seu irmão tinha quatro anos quando você nasceu. Ele tinha quatro anos e havia muito caos, incerteza e estresse. E aí veio você. Um bebê inesperado. Bochechas rosadas e um sorriso há muito esperado. Esperança. Riso. Casa, mais uma vez. Eu não o amo mais do que você. Não pense isso nem por um minuto. Eu amo cada um de vocês no mesmo tanto. Apenas diferente.”
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Inspire More.
Foto destacada: Reprodução/Inspire More.