A blogueira norte-americana Celeste Erlach, que é mãe de duas crianças, viralizou recentemente ao publicar uma carta destinada ao marido, na qual fala sobre a divisão de tarefas injusta nos cuidados com as crianças. No texto, que foi publicado na página “Breastfeed Mama Talks”, ela diz que seu marido é um ótimo pai, mas que precisa que ele faça além disso. “Sou humana e estou funcionando à base de cinco horas de sono e cansada para caramba. Preciso de você.”, desabafa Erlach.
Confira o texto na íntegra abaixo:
“Querido marido,
Eu. Preciso. De. Mais. Ajuda.
A noite passada foi difícil para você. Pedi para você cuidar do bebê, para que eu pudesse ir dormir um pouco mais cedo. O bebê estava chorando. Gritando, na verdade. Eu podia ouvi-lo do andar de cima e meu estômago deu um nó só com o barulho. Eu me perguntava se deveria descer e aliviá-lo ou apenas fechar a porta para tentar tirar o sono de que eu tanto precisava. Eu escolhi a última opção.
Você entrou no quarto 20 minutos depois, com o bebê ainda chorando freneticamente. Você colocou o bebê no bercinho e suavemente empurrou-o para um pouco mais perto do meu lado da cama, um gesto claro de que você tinha terminado de cuidar dele.
Eu queria gritar com você. Eu queria começar uma briga épica bem naquele momento. Eu tinha olhado o bebê e a criança mais velha o dia inteiro. Eu ia precisar acordar com o bebê para amamentá-lo a madrugada toda. O mínimo que você poderia fazer era segurá-lo por algumas horas no início da noite para que eu pudesse tentar dormir.
Apenas algumas horas de sono precioso. É pedir muito?
Sei que nós dois observamos nossos pais fazerem os típicos papéis de mãe e pai enquanto crescíamos. Nossas duas mães eram as principais cuidadoras e nossos pais não colocavam tanto a mão na massa. Eles eram pais excelentes, mas não era esperado deles que passassem uma quantidade significante de tempo trocando fraldas, alimentando e cuidando das crianças. Nossas mães eram as super-mulheres que mantinham a dinâmica familiar. Cozinhar, limpar e criar as crianças. Qualquer ajuda do pai era bem-vinda, mas inesperada.
Eu nos vejo caindo nessas dinâmicas familiares mais e mais a cada dia. Minha responsabilidade de alimentar a família, manter a casa limpa e cuidar das crianças está presumida, mesmo quando eu volto ao trabalho. Eu me culpo pela maior parte disso também. Abri o precedente de que posso fazer. E, na verdade, eu até quero fazer. Sem querer ofender, mas não tenho certeza de como ficaria uma semana de jantar se você estivesse responsável por isso.
Também vejo minhas amigas e outras mães fazendo tudo isso, e fazendo isso bem. Sei que você também vê. Se elas conseguem dar conta, e se nossas mães fizeram isso tão bem por nós, por que eu não poderia?
Não sei.
Talvez nossos amigos estejam encenando seus papéis em público e passando por dificuldades secretamente. Talvez nossas mães tenham sofrido em silêncio por anos e agora, trinta anos depois, elas simplesmente não se lembram de como foi difícil. Ou talvez, e isso é algo em que penso e pelo qual me culpo todos os dias, eu não seja tão qualificada para o cargo como todo mundo. E por mais que eu me sinta pequena só de pensar nisso, vou dizer: preciso de mais ajuda.
Parte de mim faz com que eu sinta que falhei só de pedir. Quero dizer, você ajuda. Você é um pai maravilhoso e faz um ótimo trabalho com as crianças. Além disso, isso deveria ser fácil para mim, certo? Instinto de maternidade, não?
Mas sou humana e estou funcionando à base de cinco horas de sono e cansada para caramba. Preciso de você.
De manhã, preciso que você arrume nosso filho mais velho para que eu possa cuidar do bebê e preparar os lanches de todos, além de tomar uma xícara de café. E não, arrumar nosso filho não significa plantá-lo de frente para TV. Significa ter certeza de que ele foi ao banheiro, dar a ele algo para comer no café da manhã, ver se ele quer água e arrumar sua mochila para a escola.
À noite, preciso de uma hora para descomprimir na cama, sabendo que nosso filho mais velho está dormindo no seu quarto e que o bebê está sob seus cuidados. Eu sei que é difícil ouvir o bebê chorar. Acredite em mim, eu sei. Mas se eu puder olhar e acalmar o bebê na maior parte do dia, você também consegue fazer isso por uma hora ou duas à noite. Por favor, preciso de você.
Nos finais de semana, preciso de mais intervalos. Preciso de momentos para poder sair de casa sozinha e me sentir como um indivíduo. Mesmo que seja apenas uma volta no quarteirão ou um pulo no supermercado. E, em alguns dias, quando eu marcar aulas de natação e encontros para as crianças brincarem, e quando parecer que está tudo sob controle, preciso que você me ofereça ajuda. Ou que sugira que eu vá deitar enquanto as crianças tiram uma soneca. Ou que tire os pratos da mesa sem que eu precise sugerir isso. Eu preciso de você.
Por último, preciso ouvir que você é grato por tudo que eu faço. Quero saber que você repara quando a roupa está lavada e quando um bom jantar foi preparado. Quero saber que você gosta do fato de eu amamentar o tempo todo e que eu ordenhe o leite no trabalho, quando seria muito mais fácil para mim amamentar o bebê com fórmula. Espero que você note que eu nunca pedi que você ficasse em casa quando tem eventos de network ou atividades esportivas. Como a mãe, é presumido que eu ficarei em casa o tempo todo e estarei sempre disponível para cuidar das crianças quando você estiver fora e eu alimentei essa crença, bem, ficando em casa o tempo todo.
Sei que não é como nossos pais fizeram e odeio ter que pedir. Eu queria poder fazer tudo e fazer com que isso pareça fácil. Eu queria não precisar de créditos por fazer coisas que a maioria das pessoas esperam de uma mãe. Mas estou aqui levantando uma bandeira branca e admitindo que sou apenas humana. Estou dizendo o quanto preciso de você e que, se eu continuar no ritmo em que estou, vou quebrar. E isso machucaria você, as crianças e nossa família.
Porque, vamos encarar os fatos: você precisa de mim também”
***
Destaques Psicologias do Brasil, com informações da Revista Crescer.
Foto de capa: Reprodução/ Facebook.
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