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Mãe tirou a vida de abusador dos filhos e passou 4 anos na prisão: “Nos fez sentir seguros”

Há oito anos, a britânica Sarah Sands tirou a vida do homem que abusou de seus filhos. Na sua primeira entrevista juntos, os três filhos de Sands relataram à BBC News que o idoso havia abusado de todos eles e disseram como sentem atualmente sobre o crime cometido pela mãe.

Foi em uma noite de outono no ano de 2014 que Sarah Sands saiu de seu apartamento no leste de Londres com um capuz sobre a cabeça, carreghando uma faca. Ela caminhou até um bloco de apartamentos vizinho, onde morava Michael Pleasted, de 77 anos. Chegando lá, tirou a vida do idoso, no que ela própria descreve como “um ataque determinado e contínuo”.

O idoso já havia recebido 24 condenações por abusos ao longo de três décadas, mas na óca usava outro nome, Robin Moult. Ele fora preso pelos crimes, mas, quando se mudou para seu novo bairro, ninguém ali — nem mesmo as autoridades locais — sabia sobre o seu passado.

Bradley, o filho mais velho de Sarah, tinha 12 anos na época. Em 2021, ele renunciou ao seu direito ao anonimato para revelar o abuso. E, em entrevista à BBC News, seus irmãos gêmeos mais jovens, Alfie e Reece, fizeram o mesmo. Eles tinham 11 anos quando sua mãe tirou a vida do homem acusado de cometer os abusos.

Atualmente jovens adultos — com 19 e 20 anos de idade — eles lembram do momento em que souberam, quando ainda eram crianças, o que a sua mãe havia feito. Ao lado dela, eles dizem ter sido difícil crescer com a mãe na prisão.

“Eu aplaudi a atitude ela”, conta Bradley à BBC. “Não vou negar isso.”

“Ela realmente fez com que nos sentíssemos mais seguros”, acrescenta Alfie. “Aquilo não diminuiu os pesadelos. Mas nos deu uma sensação de segurança, porque você podia andar pela rua sabendo que ele não iria aparecer de repente na esquina.”

“Ele morava literalmente do outro lado da rua. Eu abria a minha janela e via a casa dele”, relata Bradley.

Reece, que tinha 11 anos na época, diz que “é bom saber que ele não está vivo”. Mas acrescenta: muitas vezes nós acordávamos chorando [e perguntando] ‘onde está a mamãe?'”

Meses antes de cometer o crime, Sarah Sands e sua família haviam se mudado para uma nova casa, também em Silvertown. Ela fez amizade com Pleasted, que vivia sozinho. O idoso era uma figura conhecida na região.

“Eu achava que ele fosse um idoso simpático”, relembra Sarah. “Eu cozinhava para ele, cuidava dele e sempre fazia companhia quando tinha tempo.”

O registro criminal de Michael Pleasted estendeu-se por três décadas, até os anos 1990

A mãe diz que Pleasted se aproximou da família, mas que as verdadeiras intenções dele eram criminosas. Um dia, o idoso convidou os três meninos para visitarem sua casa.

Até que, certa noite, os gêmeos revelaram para a mãe que Pleasted os havia molestado. E, uma semana depois, Bradley, o mais velho, fez o mesmo relato. Pleasted foi preso e acusado pelos crimes cometidos contra os três menores.

O juiz acabou libertando o acusado sob fiança enquanto aguardava o julgamento e disse que ele tinha permissão para voltar para casa. Sarah diz ter ficado surpresa e desesperada.

Na noite em que cometeu o crime, Sarah foi filmada pelo circuito fechado de TV indo para o apartamento de Pleasted. Ela relatou que queria pedir a ele que se declarasse culpado das acusações e poupasse os meninos de comparecer ao tribunal.

Sarah Sands foi filmada no circuito interno de TV saindo do apartamento de Michael Pleasted após o ataque

“Eu percebi que havia cometido um enorme erro. Ele não sentia nenhum tipo de remorso. Ele disse ‘seus filhos estão mentindo’. O mundo inteiro congelou. Eu tinha a faca na minha mão esquerda e lembro que ele tentou arrancá-la de mim”, relembra ela.

A mãe diz que não tinha a intenção de tirar a vida de Pleasted. Horas depois do crime, ela se entregou em uma delegacia. No julgamento, o juiz disse que não acreditar que ela estivesse “pensado racionalmente no que poderia resultar o porte da faca”, mas acrescentou: “tenho certeza de que ela tinha na mente a possibilidade de usá-la”.

Sarah Sands foi condenada a três anos e meio de prisão, no entanto sua sentença acabou sendo estendida para sete anos e meio por ter sido considerada branda demais.

Sem pai e com a mãe presa, os garotos foram morar com a avó.

“Ficávamos todos em um quarto. Não havia privacidade”, diz Bradley à BBC. “Minha avó telefonava para minha mãe na prisão e perguntava se eu podia sair e jogar futebol, ou sair com meus amigos. E, muitas vezes, ela dizia ‘não’.”

Segundo Alfie, ele e os irmãos “perderam muita coisa“. Eles a viam uma vez por mês nas visitas à prisão. “Às vezes, você só quer contar um problema para a sua mãe e não pode”, diz.

“Eles tinham raiva de mim”, acrescenta Sands. “Antes da prisão, éramos tão próximos e, de repente, eu não estava mais lá. Foi horrível para eles.”

Questionada se sentia remorsos por ter posto fim à vida de Michael Pleasted, ela responde: “com certeza”. Ela acrescenta: “eu trago vida para o mundo. Nunca me ocorreu que eu seria culpada de tirar vida do mundo.”

A reconstrução da família

Sarah Sands deixou a prisão em 2018. Seus filhos afirmam que conseguiram reconstruir seu relacionamento com ela desde então.

Sarah Sands e seus filhos (da esquerda para a direita) Alfie, Reece e Bradley

“Ela nos mima bastante”, diz Reece, sorrindo. “É bom, mas nos faz perceber todos os anos que perdemos juntos.”

“Não há nada que vá romper a união da família”, acrescenta Bradley.

Os jvens dizem que, quando eram crianças, se sentiam culpados por terem revelado o abuso.

“Se todos nós tivéssemos ficado de boca fechada, teríamos tido nossa mãe e teríamos ido fazer compras, ido ao cinema, feito o que um menino normal de 12 anos de idade faz”, conta Bradley.

Mas eles dizem que entendem hoje que é importante que as vítimas se manifestem. “É difícil, mas as coisas melhoram um dia”, afirma Reece.

“Você deve denunciar sempre”, acrescenta Alfie. “É melhor falar. Se você não falar, só vai ser pior.”

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Destaques Psicologias do Brasil, comn informações da BBC News Brasil.
Fotos: BBC.

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