A mania da pressa tenta dominar o nosso cotidiano, impondo um ritmo acelerado, que desvai a paciência e a tolerância, elevando a necessidade de cada vez mais ser reconhecido no sentido de ser incluído na comunidade, erguendo um sentimento de insuficiência, de querer resolver tudo rápido, crescendo mais a emoção de desvalia e de agitação interior.
Essa cultura de inquietação está atingindo patamares difíceis de se prever. A civilização moderna nos pressiona para comer, falar, caminhar, trabalhar, dirigir, ou seja, realizar atividades necessárias sempre com ligeireza numa condição que tem origem no compasso alucinante das cidades, lançando uma overdose diária de informações e obrigações que afetam a saúde psíquica de milhões de pessoas.
A doideira da pressa nas grandes cidades levou a Supervia, concessionária do trem metropolitana, do RJ ter autorizado a passagem de um trem sobre o corpo de um homem que tinha sido atropelado na Estação de Madureira, Zona Norte do Rio, que foi identificado com um vendedor ambulante. A empresa admitiu que o trem passou por cima do corpo para não atrasar no horário de pico.
A mania da afobação tem empurrado muita gente para depressões e as eclosões psicossomáticas, entre elas síndrome do pânico e nomofobia que é o medo de ficar sem celular e ao mesmo tempo ao refúgio das práticas de prazer, da drogadição e uma busca delirante de modismos e religiões, resumindo-se numa espécie de busca de salvação que se proliferam a cada dia.
As nossas crianças precisam ser respeitadas no seu tempo lúdico, mas estão sendo atingidas com o pretexto de travar a pressa dos adultos, com uso preocupante da ritalina, tendo como panaceia o desempenho infantil para não perder o seu lugar no mundo competitivo. Quanto mais corre-corre e incerteza a vida traz, mais vigilância será exigida dos adolescentes e das crianças para adaptar-se ao nosso sistema social.
Como se isso tudo não bastasse temos ainda o ritmo estonteante da TV, dos computadores, dos videogames e das redes sociais que oferecem um excesso de estímulos em quantidades absurdas de mensagens e imagens que passam pelo córtex cerebral em milésimos de segundos que não consegue memorizar algum conteúdo prático para vida.
Mas temos escolha para não cair nesse mundo da pressa como canta Almir Sater: “Ando devagar porque já tive pressa, E levo esse sorriso, porque já chorei demais, Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz.”
Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista
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