‘Mas você não parece estar deprimido’: Relatos sobre a depressão invisível.

“Não é possível que ele esteja deprimido. Estava todo sorridente ontem à noite.”

“Mas você não parece estar deprimido(a)…”

“Ela é jovem e bonita. Por que teria depressão?”

“Ele tem tudo na vida: um bom emprego, uma família feliz, estabilidade financeira. Não faz sentido ter depressão.”

Existe algum tipo de “cara” para a depressão? Cara de desânimo? De derrota? De quem caiu do caminhão de mudança? Cara do Gato de Botas chantageando o Shrek?

Não é difícil ouvirmos alguém dizer “nossa, mas nem parece que você tem depressão”, como se apenas emoções como tristeza, apatia ou desânimo dessem conta de representar um estado depressivo. Como se expressar alegria fosse um atestado de saúde mental garantida.

É também comum o julgamento sobre quem está sujeito ou não a uma depressão: Aquele(a) que enxergamos como bem-sucedido(a) está “imune” ou “não tem o direito” de ficar deprimido(a). Será que temos real acesso aos medos e angústias do outro? E se esse outro for alguém importante para nós, e estamos perdendo a oportunidade de ajudá-lo a enfrentar uma dificuldade?

Depressão é coisa séria e demanda respeito ao tempo e à singularidade de cada pessoa. Utilizar a palavra sem a delicadeza e a seriedade que ela merece só contribui para banalizarmos o debate urgente que precisamos fazer sobre saúde mental. O estigma e o tabu continuam sempre que não abordamos essas questões com a profundidade que merecem.

O autodiagnóstico ou o diagnóstico superficial de uma depressão também são perigosos, principalmente diante de uma realidade de consultas rápidas e antidepressivos sendo prescritos com uma grande facilidade. Estar triste não é sinônimo de estar deprimido, e a ajuda de um profissional especializado – como psicanalistas, psicólogos e psiquiatras – pode dar novos destinos para uma depressão que paralisa a vida.

As maneiras para se lidar com ela são variadas e devem estar alinhadas com o perfil de cada pessoa. Há quem prefira a análise, e há quem prefira a meditação, por exemplo. O importante é ter em vista que o cuidado com a saúde mental deve ser de longo prazo, e não uma solução rápida que resolva situações pontuais.

Na semana passada, a organização americana Blurt, voltada para a conscientização sobre depressão, fez uma campanha com a hashtag #WhatYouDontSee (#Oquevocênãovê). O objetivo era as pessoas compartilharem depoimentos sobre aquilo que não é visto em uma pessoa deprimida.

“A depressão pode afetar qualquer pessoa, em qualquer momento da vida, independente da idade, do gênero e das circunstâncias pessoais. É uma doença invisível: vendo de fora, você não consegue dizer quem está sofrendo”, alerta a Blurt.

O HuffPost Brasil reuniu alguns desses relatos para exemplificar impressões sobre a depressão tidas por quem sofre por causa dela. Por mais que nunca saibamos os motivos de uma pessoa estar deprimida, respeito e empatia são sempre recomendados.

1. A depressão exige que você tenha um guarda-roupa de máscaras para usar ao longo do dia. Por baixo da máscara tem um mundo desmoronando lentamente – Lisa Sell

2. Meu barbeiro disse que eu deveria pedir ao meu médico um atestado de que estou bem para trabalhar, já que eu pareço normal – Christopher Haigh

3. #OQueVocêNãoVê é a sensação de que eu me sinto constantemente um empecilho, ou um fardo, que sou uma mãe ruim porque estou fazendo um grande esforço. – Coral Jean Halliwell

4. Já se sentiu como se estivesse afogando, mas você olha ao redor e todos estão tendo acesso a bastante ar? – Kelly King

5. #OQueVocêNãoVê são os anos que ela toma de você, as lágrimas, o seu emprego perdido, pessoas te dizendo para superar, a confusão, o julgamento. Me sentindo sozinha. – Emma
6. #OQueVocêNãoVê – o medo de ir ao trabalho, pensando que aquela única coisa que você fizer ou não fizer vai custar seu emprego. – Tina S

7. #OQueVocêNãoVê é quão inútil e sem sentido eu me sinto. Por dentro eu sei que não mereço nada – Allie

8. Por favor não desconsidere o desabafo das pessoas. Se você não sabe como é, ouvir vai te ajudar a entender – Amy Robjohns

9. Você quer escapar do que está te deixando triste, mas o que está te deixando triste é você mesma. Então, o que você faz? – Fátima Lucía

10. #OQueVocêNãoVê A exaustão absoluta de chegar em casa depois de um dia normal do trabalho, em que você disfarça a depressão para o mundo. – Phil Robinson

11. #OQueVocêNãoVê sou eu me sentindo morta por dentro e sem sentir as emoções, mas ainda rindo e fazendo piadas para parecer normal por fora – Sowandarya

12. #OQueVocêNãoVê são as noites de insônia com pensamentos obscuros, ansiedade, choro, tremedeira e a incapacidade de buscar ajuda – Merete Dalby

13. #OQueVocêNãoVê Eles me dizem para “lutar” contra ela, mas não entendem que o simples movimento de ir da cama para o sofá JÁ SOU eu “lutando”. – Halie House

14. #OQueVocêNãoVê é que as pessoas sofrem em silêncio todos os dias. Seja gentil, você não conhece as batalhas das pessoas. Não aja como se soubesse. – Rebecca Collins

15. #OQueVocêNãoVê é a luta, a dor, a exaustão e a tortura absoluta que sua mente provoca. Você é uma concha vazia. – Stephen Le Quesne

16. #OQueVocêNãoVê são as pessoas que se afastaram por não conseguirem compreender ou pelo medo da depressão, e os estigmas que ela traz. – MusicvstheWorld
17. #OQueVocêNãoVê é que, em alguns momentos, nós também não acreditamos em nossa condição… às vezes nos preocupamos de estar fingindo… essa dúvida é uma agonia! – Holly Hughes

18. #OQueVocêNãoVê é quão culpada me sinto mesmo sem ter pedido pra isso acontecer. Me sinto como se devesse ser capaz de controlar a depressão ou escondê-la melhor – Lucie K

19. #OQueVocêNãoVê é quão difícil é, primeiramente, assumir que você está doente, daí buscar ajuda e consegui-la com pessoas que levam a depressão a sério. – Sarah Le Blanc

20. O replay vívido de todos os fracassos e fraquezas que formam sua trilha sonora diária. – D

21. #OQueVocêNãoVê é o efeito incapacitante da depressão e da ansiedade nos seus relacionamentos – especialmente com aqueles que realmente não compreendem – Maugan Ra

22. Pedir ajuda e depois não saber como aceitá-la. – Hannah Stein

TEXTO ORIGINAL DE BRASIL POST

Psicologias do Brasil

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