Amigas podem ser a maior fonte de pressão e de preconceito com relação ao envelhecimento feminino.
Já reparou a dificuldade feminina para saber o que se pode (ou não) fazer depois de uma determinada idade?
Devo ou não pintar o cabelo? Posso deixar o cabelo comprido? É ridículo ter franja ou fazer rabo de cavalo? Qual é o comprimento adequado da saia? E o tamanho do biquíni?
Uma arquiteta de 57 anos disse: “Parei de pintar o cabelo. Sofri um verdadeiro massacre das minhas amigas. Dizem que estou parecendo uma velha, que desisti da minha vida sexual, que deixei de ser mulher. Os homens até gostam, me acham diferente. Só as mulheres me criticam”.
Uma professora de 60 anos contou:”Adoro ir à praia. Sempre fui de biquíni. Agora parece que sou uma velha ridícula, caquética, pelancuda, que não obedece à regra de usar maiô ou até mesmo de não ir mais à praia. Recebo muitos olhares de censura e comentários violentos de algumas amigas. Elas parecem policiais perseguindo as mulheres que querem envelhecer naturalmente”.
Ela mostra que as amigas podem ser a maior fonte de pressão e de preconceito com relação ao envelhecimento feminino.
“Todas as minhas amigas já fizeram plástica ou colocaram botox. Minha melhor amiga fez correção nos olhos, colocou botox, preenchimento ao redor dos lábios e ainda operou o nariz. Virou outra pessoa. Cada vez que ela me encontra insiste que eu tenho que fazer plástica, que estou com as pálpebras muito caídas, que vou ficar muito mais jovem. Ver o rosto dela tão plastificado me fez decidir não mexer em nada. Sinceramente, eu me acho mais bonita e mais jovem do que ela”.
Muitas não resistem à pressão e acabam fazendo um dos “tratamentos mágicos”, como uma advogada de 47 anos:”Tenho uma amiga que faz de tudo para parecer mais jovem. Ela me convenceu a fazer um tratamento mágico que prometia rejuvenescer minha pele. Gastei uma fortuna e não teve qualquer resultado. Tem tanta promessa no mercado do tipo “pareça dez anos mais jovem” que nós acabamos fazendo loucuras. Muitas mulheres ficam deformadas”.
Ela pergunta: “Será que não está na hora de parar com essa obsessão pela aparência jovem e aceitar a beleza de todas as fases da vida? Dá vontade de gritar: ‘Por favor, me deixa em paz, basta de tantas cobranças e loucuras. Me deixa ficar velha!'”.
Este artigo foi publicado originalmente na Folha de São Paulo. miriangoldenberg@uol.com.br Mirian Goldenberg é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de “A Bela Velhice” (Editora Record) www.miriangoldenberg.com.br
Imagem de capa meramente ilustrativa
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