O que significa nos dias da nossa modernidade líquida educação? Por que precisamos passar quase 20 anos indo a escola e universidade? Porque somos submetidos a uma montanha de informações? Porque temos que fazer centenas de provas ao longo da vida? Isto se destina a que propósito?
Este é um questionamento filosófico vital para entendermos a nossa existência. A educação nos serve para sermos preparados para a vida ou para o mercado de trabalho? É importante trabalhar e conquistar um lugar ao sol, mas é só pra isso que somos educados?
A vida, na verdade, é muito mais do que escola, família e emprego, é algo único, extraordinário e muito mais profundo, é nela, na vida, neste grande universo que nos tornamos “seres humanos”. Aquele que só trabalha e acumula bens materiais, é talvez o que mais perde o sentido da vida. Vivemos neste grande reino que é a vida, mas somos preparados para entender apenas um pedaço bem pequeno dele.
Nascer, crescer, comer, estudar, trabalhar, acumular, casar, ter filhos, envelhecer, morrer, etc. Não parece uma máquina que segue um processo criado por um sistema e que todo mundo segue sem questionar? Porque precisamos passar por tudo isso? Por que estamos definhando em vida? O que deu errado neste processo criado sabe lá quando?
A vida existe para ser entendida em todo o seu amplo aspecto, com suas belezas, alegrias e também as dores. Será que a função da educação não deveria ser o de desenvolver nossa inteligência? Falo da inteligência como capacidade de pensar com liberdade, livre de medos, de fórmulas, para que possamos descobrir o que é real e o que é fantasia, o que é verdade e o que é o erro. Por que não conseguimos fazer isso?
Por que o sistema em que vivemos tem na sua base o medo, sim, tudo ao nosso redor nosamedronta, temos medo de viver, de sorrir, de sermos mortos, de sofremos violência, de perdermos nosso emprego, nossa honra, nossa família, medo de tudo, só que, não existe inteligência e pensamento livre onde se tem medo. É impostergável a meta de vivermos uma vida sem medos, apenas desta forma poderemos realmente viver e sermos felizes. Como fazer? Qual a fórmula? Não é simples, claro, mas existe um meio, uma saída. Contestar, se indignar, fazer uma revolução pessoal contra tudo, todos os processos estabelecidos, tradição, cultura, religião, família, costumes, tudo.
A inteligência e a criatividade nascem da contestação pela dúvida. Isto é auto descobrimento, não uma cópia, mas recriar, redescobrir, aí sim, poderemos reconceituar a educação e a liberdade.
Copiar, se acostumar, seguir regras, tudo isso é fácil, alguém já fez, porque eu vou tentar diferente só para dar errado e eu me ferrar? Pensando assim criamos a fórmula segura e fácil de existir, ou seja, vamos levando, um dia Deus ajuda e as coisas melhoram. Mas na verdade, esta postura é a postura da apatia, decadência, ruína. Mas cuidado, quando você se rebelar e questionar, estarás sozinho, a partir deste momento você será julgado, perseguido, pois estarás ameaçando o sistema dos falsos robôs-humanos.
Todos seguem o sistema sem questionar porque desejam viver com segurança, mas viver com segurança muito provavelmente signifique viver uma imitação, e só copiamos porque temos medo de falhar.
Criar uma vida mais livre e sem medo é uma tarefa extraordinária e nós precisamos dela. Chega de seguir regras de políticos, advogados, professores, corporações, governos, regras que trazem insegurança, guerras, medo e morte. Estamos vivendo e educando nossos filhos em um mundo de castas, tribos, bandeiras, separatismos e toda a forma de intolerância e brutalidade. Somos convencidos de que precisamos seguir esta estrutura falida, hipócrita e débil de nossa cultura. Isto não traz liberdade e precisamos viver em liberdade, em paz.
E queremos ser livres e viver em paz agora, e não amanhã ou depois. Não podemos e não devemos nos conformar, precisamos permanecer e viver em constante protesto. Só se alcança a verdade através da reflexão, da dúvida, da incerteza.
Não conseguiremos questionar, observar, aprender, se estivermos com medo. Krishnamurti dizia que a função da educação é certamente erradicar, tanto no interior como no exterior, o medo que destrói o pensamento, o relacionamento humano e o amor. Qualquer aspecto realmente revolucionário é criado por uns poucos que veem o que é verdadeiro e desejam viver de acordo com essa percepção; mas descobrir o que é verdadeiro exige libertação da tradição, o que significa libertação de todos os medos.
Imagem da capa: Shutterstock/Rawpixel.com
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