Antes do nascimento, o bebê já se insere em uma cultura, a qual começa a falar sobre ele, “o bebê”, dá um nome, e quando ele nasce já está inserido em um mundo de relações. O bebê se percebe desintegrado e a partir dos cuidados de alguém que exerça a função de mãe, pode ir se integrando e desenvolvendo biologicamente e psiquicamente. Dar um nome a criança a introduz num referencial sobre linguagem e relações sociais.
O bebê constrói sua imagem e sua identidade lentamente a partir do modo como é cuidado e interpretado por quem cuida dele. É um ser totalmente dependente que precisa que seus choros e semblantes sejam interpretados por alguém que os entenda, geralmente a mãe. Vai então construindo seu psiquismo, sofisticando sua linguagem e sendo mais independente do outro, contudo o ser humano nunca será totalmente independente. É preciso que alguém invista no bebê, em cuidar dele, o que se torna mais tarde uma chave de acesso ao prazer.
O olhar da mãe possibilita o bebê que enxergue a si mesmo, assim, durante toda a vida o olhar do outro será importante. O que marca no olhar materno é toda a relação que ali se constrói, principalmente no momento da amamentação, assim uma mãe com problemas em exercer essa função de devoção ao bebê, zelo e cuidado, talvez terá um filho com problemas relacionados a imagem.
Na ausência ou excesso de investimento materno, o corpo fica comprometido em seu acesso ao prazer, não sendo atendido quando demanda e isso compromete de algum modo sua percepção de si e construção psíquica de uma imagem corporal.
A imagem do corpo é então resultante de uma série de significações adquiridas durante a vida. Esta imagem é baseada no modo como aprendeu a se ver, fantasias construídas, discursos que ouviu, entre outros modos que o outro o percebeu e agregou a percepção do sujeito. Na adolescência se vive uma intensa preocupação com a imagem corporal, pois há uma serie de mudanças físicas que o psiquismo precisa assimilar, além do despertar do desejo de um outro, buscando então ter uma imagem atraente.
Muitas vezes o sujeito tem uma imagem corporal concebida em gritante desacordo com o que a realidade evidencia, o que mostra que há ali possibilidade de alguma problemática psíquica. Na imagem do corpo estão presentes os afetos, os valores e a história pessoal de cada um. Assim seria uma reconstrução constante a elaboração dessa imagem, a partir de uma série de fatores tanto diários como também já do inconsciente e relações mais primitivas.
Pensar sobre a imagem do corpo remete a questões como autoestima, e essencial para explicar certas patologias como a bulimia, anorexia, entre outros transtornos. Corpo vai além da imagem, mas é também um depositário de memórias e sensações primárias ligadas tanto ao prazer como a dor. Transtornos alimentares remetem a problemáticas nessa relação primária de alimentação boca/seio, então quem sofre destes transtornos apresenta suas dores por esse meio, seja pelo excesso ou ausência alimentar, o que psiquicamente ainda não foi representado, assim como a comida ali não consegue ser digerida.
Imagem de capa: Shutterstock/Irina Bg