Uma menina de 2 anos chamada Beatriz foi levada ao Hospital Sepaco, em São Paulo, com sintomas de gripe, mas saiu de lá com paralisia cerebral. A mãe da menina, a servidora Eliana Carvalho, 34, afirma que a complicação se deu por um erro médico após de uma intubação malsucedida.
Beatriz nasceu com laringomalácia, uma flacidez na laringe, quadro clínico que requer cuidado redobrado durante a intubação.
O hospital admite que a intubação de bebês com laringomalácia “torna o cenário bem mais complexo e com maiores riscos”. “A despeito do uso de todos os recursos terapêuticos disponíveis, maior criticidade do quadro é esperada neste cenário, o que pode culminar com falta de oxigenação e instabilidades cardiocirculatórias graves”, diz o Sepaco por meio de um comunicado.
A Justiça decidiu em liminar e depois em primeira instância que a Central Nacional Unimed deveria bancar o tratamento domiciliar da criança, no entanto o plano de saúde da menina recorreu.
Na decisão, o juiz Cláudio Salvetti D’Angelo escreveu que Beatriz “vem sofrendo com a negligência” da Unimed. O magistrado apontou uma “recusa injustificada” para fornecer o home care à criança.
“A requerida [Unimed] tem agido com desleixo na prestação de serviços na internação domiciliar”, disse o juiz.
A Unimed alega que “não houve negativa para qualquer atendimento designado pelo plano terapêutico”. Informa também, em nota, “que não comenta decisões judiciais”.
Na internação, a menina foi diagnosticado com bronquiolite — inflamação viral nos bronquíolos que atinge especialmente os bebês. Beatriz ficou em observação na UTI por três dias, respirando com o auxílio de aparelho.
No dia 26 de dezembro, a mãe percebeu que Beatriz, sempre muito ativa, estava apática. Quando comentou a situação com uma médica, ouviu que a criança estava no pico da bronquiolite, mas que começaria a melhorar a partir do dia seguinte.
De acordo com Eliana, o CPAP nasal —aparelho utilizado no auxílio à respiração— foi regulado com pressão 17, “apropriada para o peso dela”. No entanto, a médica recém chegada para o plantão da madrugada aumentou a pressão para 35, causando desconforto na menina, segundo relato da mãe.
Ainda sugundo a mãe, ao alertar a médica sobre a flacidez na laringe da menina, o pai ouviu a seguinte resposta: “Quem sabe da conduta sou eu. Se ela não está bem, vou intubar”.
O pai ligou aflito para Eliana e passou o telefone à médica, que relatou que Beatriz havia “parado por 27 minutos” e que havia “feito tudo o que podia”.
“Ela [a médica] disse: ‘eu tentei intubar, mas no procedimento ela teve uma parada cardíaca’.”
Beatriz deixou o hospital com “encefalopatia crônica não evolutiva”, lesões no sistema nervoso central que deixaram com: hipertensão, perda da visão, perda da sustentação do pescoço, perda de todos os movimentos do corpo, impossibilidade de alimentação oral e ingestão de líquidos.
“Paguei fisioterapeuta e auxiliar de enfermagem do meu bolso. Um dia de medicação foi R$ 1.000 na farmácia, fora o convênio que custa R$ 2 mil por mês.”, diz Eliana.
De acordo com a decisão da Justiça, o plano de saúde é obrigado a oferecer, além de medicamentos, equipe com oito especialistas no home care.
O juiz cita equipamentos “que nunca foram entregues” e falta de “profissional capacitado” para lidar com os aparelhos, obrigando a família a recorrer a “amigos e familiares” para “arcar com os custos”.
O magistrado condenou a Unimed a reembolsar o gasto com médicos, no valor de R$ 5.500, juros de 1% ao mês e correção monetária “até a data do efetivo pagamento”.
“O plano de saúde não quer ter despesas; somente receitas. A conduta foi abusiva, displicente, (…) frustrando expectativa de cuidado.”, escreveu o Juiz Cláudio Salvetti D’Angelo.
A Unimed afirma que o plano “vem cumprindo a decisão nos exatos termos como proferido pelo Poder Judiciário” e “reafirma que o respeito e o cuidado com os beneficiários são a base de suas relações”.
Outra ação judicial exige uma indenização do Hospital Sepaco. “Buscamos uma espécie de pensão mensal vitalícia para o custeio das necessidades da Beatriz porque um dia seus pais podem faltar”, disse Anderson Albuquerque, advogado da família de Beatriz,
“Ainda sonho em ver minha filha voltar a andar, sentar, segurar as coisas e enxergar.”, diz Eliana Carvalho, mãe de Beatriz.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações do UOL.
Imagens: Arquivo Pessoal.