Na verdade a frase não é minha, mas de Osho. Afirmava o guru que a mente é causa de todas as doenças e o coração é fonte de cura. Isso dá o que falar, nos leva a uma grave reflexão, que acabará nos trazendo a quase certeza de que “somos aquilo que pensamos”. Tudo aquilo que projetamos em nosso inconsciente, que arquiva, retorna de alguma forma, proporcionando-nos bem ou mal estar, saúde ou doença, alegria ou tristeza.
É muito comum nos processos de Psicoteria Holística e também de coaching, que fazem parte do meu trabalho, as pessoas trazerem seus desejos e suas dificuldades em poder realiza-los.
Todo mudo quer algo, não sei se existe algum ser humano na Terra que não deseje algo, salvo os que tem desequilíbrio mental. Posso constatar que deseja-se, mais do que nunca, em nossos tempos, a paz e uma vida boa, mas ninguém, de forma alguma quer perder, abrir mão de algo que já tem.
Somos ainda crianças psicológicas, não sabemos perder, lidar com mudanças, acumular frustrações, não estamos preparados para a verdade da vida humana que nada mais é do que a impermanência, ou seja, nada é para sempre.
Durante toda a vida vamos criando vínculos, apegos, colocando nossa energia e nossa emoção em amarras, como família, parceiros, poder, dinheiro, bens materiais, empregos, etc, e onde está apontanda a nossa emoção, ali estará o nosso coração. Então, no caso de perda ou de termos que abrir mão de algo, nos frustramos, deprimimos e portanto adoecemos.
No processo de coaching é muito comum perguntarmos sobre o ponto B do cliente, que nada mais é que sua meta, seu desejo, e muitos tem isso claro, bem definido até. Mas quando são interpelados de o que lhes impede no agora de atingir aquele objetivo, desenrolam um carretel de desculpas e culpas. É a diferença daquilo que chamo de “querer” ou “querer muito”. Todos querem algo, mas poucos querem muito, como entender a diferença?
Imagine a seguinte cena, um exemplo de qualquer cidadão: “homem adulto, com família, mulher e filhos na escola. Possui carro, casa e salário mensal proveniente de um emprego na iniciativa privada, o que lhe dá uma certa segurança e estabilidade econômico financeira. Por outro lado, encontra-se saturado de desafios existenciais, extremamente frustrado com a sua vida na cidade grande, seu trabalho não proporciona mais prazer, ficando cada dia mais deprimido e sente-se doente, com desejo de largar tudo, mudar. Isto vem influenciando no seu comportamento familiar, ficando mais sem paciência e por vezes agredindo verbalmente sua mulher e filhos.
Recentemente viu um anúncio na internet sobre a vida em uma cidade do litoral do estado vizinho, pesquisou muito sobre qualidade de vida, economia do lugar, mercado de trabalho etc. Começou a sonhar com uma mudança, não seria o caso de largar esta vida na cidade grande, levar os filhos e a família para viver na praia, junto a natureza, sem pressões externas de trabalho, colocar um negócio próprio, como seria? Tomou coragem e foi conversar com sua esposa e filhos sobre a ideia, que já estava se tornando um grande sonho, sentir de cada um o que eles achavam.”
Esta é a cena colocada. Agora imagine dois finais. No primeiro a mulher e filhos concordam em largar tudo, acreditam na mudança e também acham que esta é a hora de ter uma vida com mais qualidade e sem pressões que geram desgastes e doenças. Portanto, o marido, mulher e filhos planejam a mudança e a executam, sem maiores dificuldades. Todos neste primeiro final “queriam muito” e realizaram o desejo, mesmo tendo todos diversos vínculos existências, familiares e materiais que os prendiam na cidade grande.
O segundo final é diferente. A família não concorda, todos eles até acham legal em um primeiro momento, mas largar tudo, mudar completamente a vida de todos seria uma completa loucura, ou seja, não compartilharam do desejo, do sonho daquele homem. Mediante este segundo final que se apresenta desafiador, o homem é tomado por uma angústia e ansiedade ainda maiores e vê-se frente a frente com duas opções: ficar, ou largar tudo e ir.
No caso de ele escolher ficar, independente de calcular riscos de perdas, ganhos e benefícios, o que impera na verdade, são os vínculos, as amarras existenciais, que por vezes nos impedem de viver plenamente. Vejamos que não se trata de estar certo ou errado, de abandonar entes queridos, desfazer-se de bens materiais, tudo isto importa e tem significado em nossa vida, mas aqui o que estamos tratando é sobre vontade e ação. Seguindo esta primeira opção, estamos frente a frente com alguém que “quer algo”, mas não quer perder nada. Deseja a mudança, o ganho, mas não está preparado para lidar com as perdas, portanto não irá, desiste, e em consequência, sofre.
Mas, e se ele escolhesse largar tudo e ir, pois não deseja mais ser frustrado e muito menos adoecer e destruir a sua família, como o julgaríamos? Alguém que abandonou egoisticamente aqueles que o amavam para viver um sonho? Ou trata-se de uma pessoa de muita coragem que opta por ser feliz, independente se suas escolhas não foram tão boas para os outros?
A resposta pode ser estas duas ou qualquer outra que vocês que leem este texto quiserem dar. O julgamento é por conta de cada um. A única coisa que sei, é que neste segundo final em específico, a atitude dele foi “querer muito algo”, esta é a grande diferença entre o conceito expresso de “querer” e “querer muito”.
Lembrando que, segundo Osho mesmo dizia, e tantos outros que já trabalham e pesquisam a inteligência emocional, como este que vos escreve, o coração nos dá o caminho a seguir, medido pela razão, a escolha e as amarras, serão sempre por nossa conta.
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