Mentira para a análise do comportamento

Por Mariane Magno

A obra Comportamento Moral de Paula Inez, aborda a mentira em diversos aspectos inclusive na visão da analise do comportamento, é uma obra de fácil compreensão, sua construção é feita a partir das visões de diferentes autores. Inicialmente, é discutida a mentira como um comportamento humano que faz parte do cotidiano, em relatos ela pode aparecer como uma necessidade para o convívio social. A mentira pode ser vista, também, como forma de fuga de problemas, porém, notadamente, em diversos contextos estará associada à imoralidade. Skinner (1971-1977) aponta a mentira como consequência da história de reforçamento nos moldes operantes para ser aprendido, mantido ou modelado, podendo ser usado, também, como método de esquiva de punições. Esses são conteúdos que serão abordados ao longo desta resenha crítica.

Existem inúmeros estudiosos, escritores com idéias diversas sobre a mentira, há aqueles que a defendem como necessidade para uma boa convivência social, além de exercer papel importante nas relações afetivas e na possibilidade de conquistas sociais, tais como DePaulo e Kash (1998). É possível diferenciar dois tipos de mentiras, a “boa” – socialmente aceita, vista como nociva, não prejudica outras pessoas, e a “ruim” – aquela que é usada para tirar vantagens, vista como imoral e que prejudica outras pessoas. Todavia, há aqueles como Smith (1953), Ballone (2006) e Aurélio (2009) que sugerem que a mentira é qualquer comportamento com o único fundamento de dar informações falsas, enganar, privar da verdade e prejudicar o outro.

Segundo a análise do comportamento, analisada por Gomide (2012)- Comportamento Moral, a mentira é um comportamento operante verbal, ou seja, um comportamento aprendido a partir de contingências e reforçadores que os instalam os mantém e os modificam.  A fala em geral é um comportamento operante, pois o ouvinte responde aos estímulos verbais do falante e esse por sua vez comporta-se verbalmente ao estímulo do outro, além de torna-se também ouvinte ao comportamento verbal de outros. A mentira ocorre quando não há uma distinção na correspondência entre o comportamento verbal e comportamento não verbal, o que foi dito e o que foi feito.

A partir disso há dois principais operantes verbais: o mando e o tato. Segundo Skinner (1957) o manto é quando a resposta verbal é emitida sob controle de condições motivacionais específicas, por exemplo: privação ou presença de estimulação aversiva, ou seja, pode ser observada como ordem, pedido, etc. Na mentira o mando pode ser chamado de “Mando Distorcido”, é quando se usa um mando como um reforçador, mas na verdade o reforço real é outro, pois este pode gerar uma consequência aversiva, podendo ser evitada dessa forma. Já o tato é o comportamento verbal que está sob o controle de eventos antecedentes e têm por função cultural “informar” o ouvinte sobre os eventos, objetos, acontecimentos anteriores, tateados, para que ele (o ouvinte) tenha a experiência com o máximo de estímulos dados pelo relato do falante.

A verdade ocorre quando a correspondência entre o que foi dito se aproxima ao máximo do o que foi tateado, sendo esse o “Tato Puro”, quando não há precisão nessa correspondência, o que foi descrito e o evento tateado, seria o mais próximo do conceito de mentira, sendo chamado de “Tato Impuro”, sendo usado como esquiva de estímulos aversivos e contingências punitivas, este comportamento passa a ser mais controlado pelas conseqüências do que por eventos antecedentes.

Observa-se que a mentira apesar de ser um comportamento de certa forma rotineiro, está longe de ser um conceito absoluto e generalista. Podemos encontrar ideias contraditórias de diversos autores e estudiosos sobre este tema. Conclui-se que não há uma relação fixa do real e irreal com verdade ou mentira, pois cada ser humano com a sua subjetividade responde de forma única aos fenômenos, eventos e objetos por ele visto ou sentido. A análise do comportamento nos trás outra visão para este assunto, com outras variáveis de explicações a esse determinado comportamento, não desfazendo dos valores culturais imposto pela sociedade, sendo de suma importância para o conhecimento sobre o comportamento humano, dando mais possibilidades de compreensão sobre a mentira.

Referencia:

  • GOMIDE, Paula, I. C. Comportamento Moral – Uma proposta para o desenvolvimento das virtudes. (2010, 2012).
  • SKINNER, B. F. Comportamento Verbal. (1957)

TEXTO ORIGINAL DE COMPLEXOS PENSAMENTOS

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