Meu nome é Khan: a história de um autista

Meu nome é Khan é um filme dirigido pelo diretor Karan Johar que retrata a vida complexa de um autista que precisou lutar contra os preconceitos da sociedade para seguir sua trajetória de vida.

Este filme relata a história de Rizwan Khan, um jovem mulçumano que mora em Mumbai e desde a sua infância apresenta um comportamento diferente das demais crianças de sua idade. Khan não entendia algumas regras e normas sociais, tinha fixação por alguns objetos, contato visual e corporal eram incômodos, sua audição era sensível, o que lhe causava desconforto quando saia à rua e apresentava comportamentos estereotipados repetindo gestos ou falas de outras pessoas.

Khan era uma criança inteligente, aprendia tudo com muita facilidade e tinha uma memória incrível, mas por ser considerado diferente, Khan sofria preconceito na escola e chegou a ser excluído e ridicularizado por outros alunos. Porém, sua mãe, com um amor incondicional, nunca desistiu dele e não enxergava o filho através de suas dificuldades, ela sempre acreditou em seus potenciais e investiu toda sua energia e amor para proporcionar um desenvolvimento que lhe ajudasse em sua autonomia e independência.

A maneira como Khan foi se desenvolvendo pode ser exemplificada através da cena do filme, no qual, ao se deparar com a dificuldade do filho em frequentar a escola regular sua mãe pediu a um velho sábio para ensiná-lo tudo o que sabia e ele então se tornou o seu mentor. Com ele Khan aprendeu matérias da escola, mas por sua facilidade em aprender a manusear aparelhos mecânicos também aprendeu a consertá-los. Sobretudo, a lição mais importantes que Khan aprendeu foi ajudar o próximo com o seu conhecimento e amor.

Durante muitos anos ninguém soube explicar o motivo pelo qual ele agia de maneira diferente, somente quando decidiu se mudar para os Estados Unidos, para morar com seu irmão, sua cunhada que era psicóloga ao observar seu comportamento descobriu que ele era portador da Síndrome de Asperger, ou também chamado Autismo Leve, que é um Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Além dos pontos citados no início deste texto, Khan também apresentava inflexibilidade e rigidez de pensamento, dificuldade para interpretar fatos ou situações abstratas, porém, tinha um bom desempenho em processos que envolviam a memorização e tarefas mecânicas repetitivas.

Fora suas peculiaridades sensoriais, de percepção e de execução de algumas atividades, Khan também não sabia como lidar com suas emoções e sentimentos, e isto fazia com que algumas pessoas pensassem que ele não se importava, o que não era verdade. Situações como esta podem ser vivenciadas com muito sofrimento, uma vez que muitas pessoas autistas tem o entendimento dos fatos, mas sua dificuldade se encontra em como lidar com tais situações, seja no âmbito verbal ou comportamental. Não se sentir entendido e compreendido pelo outro pode gerar muita angústia e até mesmo depressão.

Além disso, não podemos definir o autismo somente pelo seu comportamento estereotipado. Autismo é muito mais do que comportamento, autismo é, sobretudo, uma combinação complexa de processamentos. Vivenciam emoções, frustrações e sentimentos como qualquer pessoa, porém, a percepção destas experiências podem ser vivida de maneira diferente e mais intensa. Suas relações humanas podem ser mais complicadas por apresentarem dificuldade em reconhecer as expressões faciais e na interpretação do que é dito, sua compreensão é, literalmente, ao pé da letra. Em muitas ocasiões para um autista demonstrar tristeza ou alegria de maneira adequada pode ser um desafio, pois perceber o mundo de forma diferente também faz com que suas reações sejam demonstradas de modo peculiar.

Este é um dos motivos que faz com que os autistas sejam alvos de preconceitos e, em muitos momentos, excluídos pela sociedade. Para entendermos o mundo de uma pessoa autista precisamos nos despir de nosso preconceito. É preciso refletir no quanto a nossa incompreensão e intolerância podem afetar diretamente a vida daqueles que apenas percebem e experimentam o mundo por outro viés.

Este filme está disponível no Netflix, convido você a assistir e experimentar por algumas horas como é estar do outro lado, como é sentir tudo com mais intensidade e não ser compreendido por aqueles que sentem e vivem com outra percepção.






Sou Psicóloga especialista em Neuropsicologia pela Faculdade de Medicina da USP e Acompanhante Terapêutica. Amo crianças e seu universo me fascina. Tenho experiência na saúde mental e meu foco é o trabalho com crianças deficientes intelectuais, autistas, síndrome de down e também com desordem psiquiátrica. Acredito ser fundamental a orientação aos pais no cuidado com seus filhos, principalmente quando recebem a notícia do filho ser portador de uma síndrome ou deficiência. A orientação aos pais tem como objetivo proporcionar um olhar e um cuidado diferenciado, mas todos voltados a criarem filhos de maneira saudável para que possam se tornar adultos saudáveis e com o máximo de autonomia e independência possível.