Todas as mulheres que vivem a experiência da maternidade conhecem as dores e as delícias do “ofício”. Criar um filho, afinal, envolve desenvolver uma paciência infinita, ter pouco tempo para si mesma, e ainda carregar – muitas vezes sozinha – a responsabilidade de fazer daquela criança um ser-humano decente, com valores muito bem definidos. Além de tudo isso, ainda é preciso encarar os julgamentos da sociedade, muitas vezes de outras mães. A maternidade não é tarefa das mais fáceis. Mas, se todas nós conhecemos as dificuldades, por que continuamos nos julgando tanto? Por que não podemos simplesmente das as mãos umas às outras e tentar facilitar o processo? A história que iremos te contar hoje fala justamente sobre ter empatia. Sobre olhar para as dificuldades do outro e ser capaz de estender a mão.
O caso aconteceu em agosto do ano passado, quando a gerente de franquias Bertha Melmam Brunchport, de 41 anos, decidiu ir a uma loja de brinquedos na grande São Paulo para trocar os presentes que o filho Luiz, de 8 anos, havia ganhado de aniversário. Ao chegar lá, ela começou a ouvir a voz de uma criança pequena, que chamou sua atenção.
“Eu só conseguia prestar atenção na fala alta de um garotinho. Mais ao fundo da loja, encontrei-o junto à mãe, que se equilibrava entre bolsa, sacolas, carrinho com compras de mercado. O menino devia ter uns 2 anos e queria colo. Ele chorava muito, mas ela tentava convencê-lo de que não conseguiria carregá-lo. Ela tentava pegá-lo, mas ele estava muito irritado. Batia as pernas, se jogava para trás e para frente. O aspecto de cansaço naquela mãe era visível e eu não conseguia desviar o foco deles”, contou Bertha em entrevista à Revista Crescer.
“Na hora eu me lembrei que já havia passado por aquela cena algumas vezes. Quando meu filho era pequeno ele chorava muito, dava trabalho”, contou ela. Cresceu dentro de Bertha naquele momento a vontade de ajudar aquela mãe que vivia uma situação que ela conhecia tão bem. Até que o menino, já bastante irritado, começou a cuspir na mãe a xingá-la. “Aquela foi a gota d´água para mim. Não em relação ao comportamento do menino, mas sim em ver que eu precisava ajudar aquela mãe, que já sem forças, se sentou no chão, largou tudo que estava segurando e, como um bebê assustado, começou a chorar de soluçar. Perguntei se eu podia abraçá-la. Ela aceitou e ficamos ali por alguns minutos”, conta.
De acordo com Bertha, lhe chamava a atenção o número de vezes que a mulher repetia que estava cansada, exausta, que precisava dormir. Além do menino, que aparentava ter uns 2 anos, ela tinha também uma bebê de 3 meses que não dormia bem. E o marido havia ficado em casa para que a mulher pudesse dar uma volta com o mais velho e tentasse arejar a cabeça. “Ela me contou essa história, dizendo que estava fazendo tudo errado. Ela apontava aquela cena e se sentia culpada por ela. Pedia desculpas pelo comportamento do filho, dizia que errou ao educá-lo, que só precisava dormir, estava muito cansada. Eu a ouvia e peguei um lencinho que tinha na bolsa. Limpei seu rosto com cuidado e tentei acalmá-la dizendo que nós erramos tentando acertar. Que estava tudo bem. E ela apertava tão forte a minha mão que até doía.”
Enquanto as mães continuavam sentadas no chão, a vendedora distraía o menino com uma bola. Depois trouxe um copo de água para a mulher. O menino já estava calmo, a mãe não. “De repente, ela respirou bem fundo, se levantou, ergueu a cabeça, nos agradeceu muito e foi embora.
“Havia muita gente na loja. A maioria deles apenas olhava, cochichava e pareciam reprovar aquela mãe. Imagino que entre os comentários, devia ter um ‘Nossa, ai se fosse meu filho!’, ‘Eu já teria feito algo’, ‘Meu filho não se joga no chão, não faz birra…’, Muito se fala em empatia, mas pouco se coloca em prática essa palavra.”
Bertha viu ali uma oportunidade para repensar o impacto das atitudes na vida das outras pessoas, especialmente as mães. “Fiquei pensando: “E se nos ajudássemos mais?”, se em vez de julgamentos tivéssemos sempre uma mão estendida para ajudar?”, diz. Naquele chão, Bertha pôde se ver na outra mãe. E, pelo menos para ela, o dia dois de agosto de 2019 ficará guardado na lembrança. “Sei que a ajudei. Mas no fim das contas fiz um bem danado a mim também. Mal consegui dormir aquela noite pensando no quanto precisamos ser acolhidas. Não importa onde ou como. Só importa nos importarmos”, conclui.
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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de Revista Crescer.
Foto destacada: Reprodução/Facebook.
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