O que deveria ser apenas um procedimento estético rotineiro terminou com dias de angústia e risco de morte. A consultora comercial Adrielly Silva, de 32 anos, ficou sete dias internada em estado grave — parte desse período na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) — após fazer uma escova progressiva em um salão de beleza em Fortaleza. As informações são do g1.
Segundo Adrielly, o problema teve início no dia 9 de abril, quando decidiu alisar o cabelo após oito anos sem recorrer ao procedimento. “Por eu tá trabalhando viajando, pra facilitar meu dia a dia com o cabelo, resolvi alisar novamente”, contou. A indicação do salão veio de uma amiga, e tudo parecia dentro da normalidade — até os primeiros sintomas.
Durante a aplicação do produto, Adrielly relatou que sentiu uma forte queimação no couro cabeludo. Na etapa da prancha, começou a ter náuseas e vomitou ainda no salão. A princípio, achou que o mal-estar estivesse relacionado à comida que havia ingerido no almoço. Mas, ao chegar em casa, as dores nas costas pioraram. Ela tomou um anti-inflamatório, sem saber que o uso do medicamento agravaria ainda mais sua situação.
Apesar do desconforto, Adrielly viajou a trabalho para São Paulo no dia seguinte. Com as dores se intensificando, sua empresa decidiu antecipar seu retorno a Fortaleza. Ela foi direto do aeroporto para o hospital, onde recebeu o diagnóstico: insuficiência renal grave.
Produto usado na escova progressiva pode ter causado intoxicação
A causa da insuficiência renal foi identificada por um nefrologista ao notar que o couro cabeludo da paciente estava descascando. A relação entre o procedimento capilar e o problema nos rins foi confirmada após exames.
De acordo com o boletim médico, obtido pela TV Verdes Mares, a suspeita é de intoxicação por ácido glioxílico, uma substância química presente em alguns produtos de alisamento capilar. O composto tem sido utilizado como alternativa ao formol, proibido pela Anvisa, mas não possui regulamentação específica da agência reguladora.
“O ácido glioxílico pode parecer seguro por não conter formol, mas isso não é verdade. Ele pode causar complicações graves no trato urinário e até insuficiência renal, como vimos nesse caso”, explicou o urologista Bruno Castelo. “Não é uma alergia. É um efeito adverso, que pode ocorrer com qualquer pessoa. Com a lesão no couro cabeludo, o produto foi absorvido e causou os danos.”
A dermatologista Érika Belizário reforça que o glioxílico, quando aquecido por pranchas e secadores, pode liberar compostos similares ao formol. Ela alerta para sintomas que não devem ser ignorados:
“Se, durante o procedimento, houver queimação intensa, ardor nos olhos, odor forte ou sensação de náusea e dor abdominal, o ideal é parar imediatamente e procurar atendimento médico”, orienta a médica.
Recuperação e acompanhamento
Após sete dias de internação e três sessões de hemodiálise, Adrielly teve alta hospitalar na última segunda-feira (21). Agora, precisará realizar acompanhamento médico para avaliar se os rins voltarão a funcionar normalmente. “Foi um susto grande”, resumiu a consultora.
O caso serve de alerta para os riscos ocultos em procedimentos de beleza aparentemente inofensivos. A recomendação dos especialistas é sempre se informar sobre os produtos utilizados, exigir informações do profissional responsável e prestar atenção aos sinais do corpo durante e após os procedimentos.