A Polícia Civil confirmou nesta segunda-feira (6) que a morte de três pessoas da mesma família em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, foi causada por envenenamento por arsênio. O caso ocorreu em 23 de dezembro de 2024, quando um bolo contaminado foi servido durante um café da tarde. A nora da mulher que preparou o alimento, Deise Moura dos Anjos, foi presa temporariamente no domingo (5) por suspeita de triplo homicídio qualificado e tripla tentativa de homicídio.
De acordo com o delegado Marcus Vinícius Veloso, responsável pela investigação, as provas contra Deise são “robustas”. A suspeita está detida no Presídio Estadual Feminino de Torres e responde por triplo homicídio qualificado por motivo fútil e uso de veneno, além de tripla tentativa de homicídio.
A prisão tem prazo de 10 dias, período em que a polícia buscará esclarecer o motivo do crime, como Deise obteve o arsênio e em que momento ele foi adicionado ao bolo. O advogado da suspeita informou que se manifestará “em momento oportuno”.
Segundo Marguet Mittman, diretora do Instituto-Geral de Perícias (IGP), análises confirmaram que a farinha usada na receita do bolo continha alta concentração de arsênio. “Em uma das vítimas, identificamos níveis 350 vezes superiores à dose letal de 35 microgramas”, detalhou Mittman.
O delegado Veloso também destacou que as pessoas que comeram o bolo notaram um gosto estranho, descrito como apimentado e desagradável. A cozinheira, Zeli dos Anjos, interrompeu o consumo após as primeiras reclamações, mas os sintomas de envenenamento já haviam começado.
As três pessoas que morreram foram Neuza Denize Silva dos Anjos, de 62 anos, Maida Berenice Flores da Silva, de 58 anos, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, de 35 anos. Outras duas pessoas que consumiram o bolo, incluindo uma criança de 10 anos, foram hospitalizadas e já receberam alta.
Zeli dos Anjos, que preparou o bolo e ingeriu duas fatias, segue internada em estado estável. Segundo o IGP, ela apresentou a maior concentração de arsênio no sangue.
Sete pessoas da mesma família se reuniram para um café da tarde em Torres. Zeli levou o bolo preparado em sua casa em Arroio do Sal. Após consumir o alimento, cinco pessoas começaram a passar mal, enquanto duas – que não comeram o bolo – não apresentaram sintomas.
As três mortes ocorreram poucas horas após a ingestão. Tatiana e Maida sofreram paradas cardiorrespiratórias, enquanto Neuza teve choque pós-intoxicação alimentar, conforme o hospital.
O arsênio é um elemento químico que pode ocorrer naturalmente ou ser liberado por atividades humanas, dando origem ao arsênico, um veneno amplamente utilizado em pesticidas. Apesar de sua toxicidade, o arsênico é usado de forma controlada em tratamentos contra leucemia, comercializado como Trisenox.
No Brasil, é proibido como raticida, mas sua presença em concentrações tóxicas em alimentos e bebidas já foi registrada em estudos científicos. “Mesmo em locais com alta exposição ambiental ao arsênio, a intoxicação depende de muitos fatores”, explicou André Valle de Bairros, toxicologista da Universidade Federal de Santa Maria.
A Polícia Civil segue investigando se Deise Moura dos Anjos era a responsável pela contaminação e qual seria o motivo do crime.
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