Por Bela Bordeuax
Numa quinta-feira de verão fui me encontrar com umas amigas em um evento chamado Ladies, Wine & a bit of design. Depois do bate papo voltado para mulheres da indústria criativa, resolvemos pular o vinho e decidimos por umas cervejas. Entre um gole e outro conversávamos sobre o trabalho incrível de cada uma delas, com os quais encho os olhos com as ilustrações, a riqueza tipográfica e a profundidade de uma pesquisadora de tendências. Eu já estava com o peito inflado de tanto orgulho das minhas amigas, até que um assunto surgiu na mesa: E síndrome do impostor, gente?
Nos entreolhamos e falamos juntas: ah aquilo de se achar uma farsa? Que não é boa o bastante?. E a discussão começou a ficar acalorada, todas querendo desabafar sobre esse assunto que até então eu não sabia que corroía por dentro mulheres tão incríveis. Começamos a falar sobre nossas dificuldades até que Cath disse: a minha vida mudou depois daquele texto maravilhoso “É preciso ter a confiança de um homem branco”. E a partir daí, iniciamos uma série desabafos sobre homens que nos cercam e como infelizmente eles acabam minando nossa autoconfiança.
Uns dias depois, estava me preparando para me mudar para Santiago e, como CDO (Chief Design Officer), assumir a postura de porta voz de uma startup em um outro país. Sim, eu estava com a ansiedade e o medo saindo de todos os poros do meu corpo. Então resolvi chamar uma amiga que me inspira muito para conversamos sobre o ecossistema de startups e como é ser mulher nesse meio. Mais uma vez o assunto síndrome do impostor surgiu, e é claro que ela também tinha o mesmo sentimento, mas me disse algo que me deu uma segurança enorme, e era mais ou menos assim:
“Nunca peça desculpas por não saber de algo, ninguém é obrigado a saber de tudo. E essa é a hora que até podemos usar essa síndrome a nosso favor. Eu converso com vários homens e eles sabem tanto de tudo, mas se cobro um pouquinho mais de profundidade, eles podem se perder totalmente, e é muito raro admitirem que não sabem de algo. Eu me pergunto: Pera, até que ponto esse cara sabe mesmo do que está falando e até que ponto é só blá blá blá?”
Congela essa imagem, e vamos voltar para um pequeno flash-back da adolescência: Você com uma camisa larga de banda até que algum homem surge do nada e vem te cobrar se você sabe a história completa da banda, todas as formações e a data de cada álbum. Este é só um dos exemplos com os quais a gente descobre que: Nos cobram provar o que sabemos o tempo todo! Um homem assume uma postura e já se admite que ele sabe de tudo que será dito por ali. (ou vocês acham mesmo que todo homem com camisa de banda lembra da formação dela em 71? pfff).
Todos os dias eu me levanto às 7h, pego um café e tenho a certeza de que terei que provar pra mim mesma e para um tanto de homem que eu trabalhei para estar onde estou e tenho propriedade para dizer as palavras que estou falando. Me dói escrever esse texto. Por mais que eu esteja aqui despejando essas palavras querendo tocar alguma mulher e dizer “Você é foda!”, infelizmente ainda não consigo sentir minhas convicções dentro de mim e realmente acreditar…. Dá-lhe terapia.
Espero que possamos mudar não só a maneira que a sociedade enxerga mulheres em espaços que não foram ‘designados para nós’, como também a forma como nos enxergamos e a confiança que temos em nós mesmas. Vamos firmar o pé e sentarmos à mesa, pois lutamos muito para começar a ocupar os mesmos lugares que eles.
Imagem de capa: Shutterstock/dinkaspell
TEXTO ORIGINAL DE BRASILPOST
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