Na Dinamarca, ‘vitamina de cultura’ é prescrita para pacientes com depressão

Desde 1º de outubro de 2016, Mikael Odder Nielsen coordena um tratamento para pessoas com depressão, ansiedade e estresse na cidade de Aalborg, na Dinamarca. O programa, que foi batizado de Kulturvitaminer – “vitaminas de cultura” – oferece aos pacientes encontros com profissionais de diversas áreas artísticas que os ajudam a tirar o foco da doença e incentivar a autoconfiança.

Mikael não tem formação profissional em Saúde. Ele é formado em musicologia e já trabalhou durante oito anos com jovens vulneráveis.

“Usei a cultura, e a música em particular, para renovar a energia deles, construir a autoconfiança e fortalecer a abilidade deles em serem mestres de suas próprias vidas”, contou o dinamarquês, em entrevista ao G1.

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Trabalhos manuais fazem parte do projeto de ‘vitamina cultural’ de Aalborg, na Dinamarca — Foto: Divulgação/Kulturvitaminer

A iniciativa já recebeu 260 pacientes, principalmente por indicação de centros de empregabilidade locais, e a ideia é que ele atenda cerca de 100 pessoas por ano.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o estresse e a depressão serão duas das maiores causas de doença no ano 2020. Mais e mais pessoas têm saúde mental precária. Por isso é importante fazer esse trabalho, disse Mikael Nielsen.

No projeto mantido pelo Centro de Saúde Mental do Departamento de Saúde e Cultura de Aarlborg, as atividades do Kulturvitaminer acontecem três vezes por semana durante um período de dez semanas.

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No projeto de ‘vitamina cultural’, pacientes com estresse, depressão ou ansiedade conseguem formas laços e reforçar sua autoconfiança e sentimento de pertencimento — Foto: Divulgação/Kulturvitaminer

“Os cidadãos conhecem guias culturais muito competentes, bem preparados e dedicados que oferecem uma ‘pílula de cultura’ para botar de novo um sorriso no rostos deles, conseguir apoio e fé em si mesmos”, explicou o musicólogo.

Nielsen diz que são oito as atividades principais:

1. Em uma biblioteca, os pacientes fazem leituras coletivas e compartilham de forma aberta seus pensamentos, memórias, ética e moral da história lida. “Não existe resposta errada”, diz o coordenador.

2. O grupo também integra um coral, cantando junto e compartilhando da sensação de estar em comunidade e pertencer a um grupo. Nielsen ressalta que cantar estimula o cérebro a promover dopamina, um antídoto para os hormônios do estresse.

3. As visitas também levam os pacientes ao arquivo histórico da cidade, com passeios pelas ruas e uma introdução à genealogia dos moradores. “Isso lhes dá uma filiação, o sentimento de que pertencem a um lugar.”

4. Escutar música é outra das atividades, usando um app com músicas calmantes que levam as pessoas a “fazer uma pausa, aprofundar a ponderação e as ajudam a pegar no sono”.

5. Um tour de um teatro também está dentro do programa, incluindo subir ao palco, conhecer as coxias e bastidores e acompanhar oficinas por trás dos panos, incluindo uma de linguagem corporal com dois atores.

6. O grupo ainda assiste à experiência de ver uma sinfonia de música clássica ao vivo. “Isso se encaixa com muitas emoções dos participantes”, diz Nielsen. “Aqui, falamos sobre a catarse – um refinamento do cérebro produzido pela arte.”

7. Museu de arte é outro destino do cronograma, incluindo explicações sobre arte moderna, onde o tema é a arte que se vê e o efeito que ela tem nos pacientes, e quais emoções ela desperta.

8. O tratamento não deixa, ainda, de promover a conexão com a natureza, incluindo caminhadas pelas áreas naturais da cidade. Trata-se, segundo o coordenador, de “experimentar a natureza como um espaço livre, onde você não precisa pensar em coisas cotidianas, você pode apenas ser”.

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Uma das ‘pílulas de cultura’ introduzidas no tratamento dinamarquês é visitar os bastidores de uma orquestra de música clássica — Foto: Divulgação/Kulturvitaminer

Resultados

Todas as ações tem a intenção de despertar nos pacientes sentimentos ligados à autoconfiança e ao pertencimento a um grupo, para que eles renovem sua energia de participar da sociedade. Isso ajuda a tirá-los de círculos viciosos como o isolamento, que os faz perderem empregos e amigos, e os afunda ainda mais na solidão e no sentimento de inaptidão.

“Os resultados são promissores”, diz Nielsen. “Muitos deles voltaram a se aproximar novamente do mercado de trabalho e completaram estágios.”
O processo, continua o especialista, “ajuda a remover o foco na doença e, em vez disso, cria novas imagens deles mesmos, de pessoas com habilidades, que conseguem fazer algo de suas vidas”.

Desde 2016, o coordenador do Kulturvitaminer diz que o governo da Dinamarca já investiu o equivalente a mais de R$ 4 milhões em projetos do tipo, dos quais a prefeitura de Aalborg recebeu R$ 1 milhão, além de ter desembolsado o mesmo valor para manter o projeto.

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Destaques Psicologias do Brasil, com informações de G1.
Fotos: Divulgação/Kulturvitaminer.






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