Por Valéria Amado
Não há nada como deixar para trás os “você não pode”, “você não sabe”, “você não merece”. Porque chegar onde os outros disseram que você não chegaria não é apenas uma vitória pessoal: é um ato de justiça perante as mentes retrógradas, os que nunca foram capazes de nos ver com legitimidade, respeito e proximidade.
Algo que todos sabemos é que vivemos em uma sociedade dominada pela comparação, e em especial, por um sistema educativo que nos “etiqueta” de forma prematura. Nas salas de aulas podemos encontrar nas últimas filas os supostos “maus alunos” sobre os quais se profetiza, com maior ou menor hipocrisia, que “nunca chegarão a lado nenhum”. Porque a criança que fica no fundo simplesmente não é apta para o sucesso.
O ensino nos dias de hoje está se convertendo em muitos casos em um ato traumático. Temos bons profissionais, porém o sistema e os meios não os acompanham. Este enfoque homogêneo, massificado e pouco sensível às necessidades das crianças dá um passo real em direção às profecias autocumpridas. Se você fracassou na escola, irá fracassar na vida.
Não obstante, à dimensão educativa se acrescenta outra ainda mais problemática: a dimensão familiar. Em determinadas situações, crescer num ambiente pouco favorecedor, discriminativo ou machista implica que nos transmitam um derrotismo envenenado do qual é muito difícil se defender.
Propomos que você reflita sobre estes aspectos.
Por vezes, o processo de alcançar algo implica, efetivamente, ter que romper com tudo. A mudança estrutural é acompanhada sem dúvida pela transformação interna que nem todo mundo é capaz de fazer. É necessário derrubar modelos educativos, valores familiares incutidos e essas estruturas de pensamentos limitadas que durante algum tempo nos encurralaram nos nossos espaços de infelicidade.
Como dissemos anteriormente, esse não é um processo propriamente fácil, em especial para a mulher. Não podemos esquecer, por exemplo, que na atualidade, nesta era de progresso, são muitas as mulheres que veem negadas as suas aspirações pelo peso desses mecanismos patriarcais que continuam a se impor em muitas famílias.
O interessante livro denominado “Resilience and Triumph: Immigrant Women Tell Their Stories” explica o duro processo em que vivem muitas imigrantes indianas, árabes ou mexicanas ao chegar a outros países. Estas mulheres são um exemplo de luta cotidiana perante a adversidade. Por um lado, devem batalhar para conquistar o seu espaço juntamente com a sua família numa sociedade nova. No entanto, existe outra luta silenciosa, obscura e delicada de que não se costuma falar.
Nos referimos a essas batalhas que se vivem no âmbito privado. Onde o peso do patriarcado continua definindo os espaços das mulheres com os seus pais, cônjuges e famílias de origem. Reivindicar o seu lugar como mulher e, por sua vez, encorajar outras gerações a fazerem o mesmo, é um exemplo de resiliência. São dimensões muito duras das quais ninguém fala.
São rostos e nomes anônimos que todos os dias revelam a sua força, a sua coragem na ânsia por avançar, por chegar a um status de igualdade.
Triunfar na vida não significa ter uma boa conta bancária, nem uma casa grande, nem um carro esportivo, nem acumular coisas para conseguir ainda mais coisas. O melhor triunfo da vida é a liberdade de ser você mesmo e se sentir orgulhoso/a por aquilo que consegue alcançar. Triunfar não está em ganhar sempre, mas sim em não se render para conseguir tocar nessa estrela, nesse sonho, nesse equilíbrio pessoal onde você é capaz de dizer: “estou bem assim, não quero mais nada”.
A dificuldade do triunfo está sem dúvida na estrutura de pensamento que nos transmitiram desde pequenos. A escola que cria etiquetas e discrimina oferece ao mundo pessoas que darão forma a essa profecia autocumprida do “eu não valho nada”, “eu não sou merecedor de alcançar os meus sonhos”. Da mesma forma, a família que “arranca as nossas asas” e nos intoxica com ideias retrógradas e limitantes também irá nos impedir de chegar onde o nosso coração pede.
Estes vínculos limitantes devem ser arrancados o quanto antes e sem anestesia. Não importa a dor que isso irá causar, nem tampouco as consequências que isto pode implicar se com isso conseguirmos ganhar autoridade, autoestima e liberdade. Na verdade, o êxito não depende de fatores como ser mais inteligente, hábil ou extrovertido.
Chegar onde desejamos é uma questão de mentalidade, de um raciocínio progressista em vez de imutável. Nunca se agarre aos “você não sabe”, “você não pode”. A pessoa que é capaz de focalizar os seus mecanismos emocionais e psicológicos no sentido do crescimento irá considerar a adversidade uma oportunidade, um modo de desenvolver novas habilidades.
Porque acreditemos ou não, existe sempre esperança. Nada é inamovível. Não deixemos que as mentes quadradas e os sistemas amordaçantes eliminem os nossos sonhos ou nos tirem a dignidade. Não nos deixemos vencer. Pois o sucesso é apenas uma atitude perante a vida.
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
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