Por Valéria Amado
Não faça isso, não se estresse, não amargue a sua existência, porque nada do que você fizer estará bom para muitas pessoas. Mas, o que isso importa? Deixar de se preocupar com o que não vale a pena é ganhar em termos de saúde mental e é, acima de tudo, colocar um fim a estes pensamentos ruminantes que roubam a nossa energia e tranquilidade.
Temos que admitir: essa entrega constante em relação aos outros é quase um ato de reflexo em muitos de nós. É como um tendão psíquico que durante muito tempo cumpriu uma função muito concreta no ser humano: conseguir ser aceito pelo grupo. Porque quem pensa diferente ou age mediante um egoísmo saudável, às vezes acaba isolado do grande rebanho de ovelhas brancas. E isso pode ser traumático para muitas pessoas.
No entanto, por mais irônico que pareça, o que recebemos ao nos entregarmos de forma constante e absoluta aos outros é, na verdade, uma autoestima reduzida e desejos afogados. Porque assim como existem complacentes absolutos, também há muitos predadores sem escrúpulos. Espécimes preparados quase instintivamente para tirar proveito dessas pessoas para as quais a palavra “NÃO” não existe ou está proibida na consciência.
Acredite ou não, a necessidade de nos ajustarmos quase a todo instante às expectativas alheias é também uma forma de autoagressão. Pouco a pouco entramos em uma dinâmica complexa onde descobrimos que estamos sendo manipulados, que dizer “sim” já é um ato de reflexo difícil de controlar. A frustração causa raiva, a raiva causa desconsolo, e o desconsolo causa uma depressão nervosa.
Nada é tão desolador como descobrir que somos o nosso próprio inimigo, só porque não nos atrevemos a praticar o egoísmo saudável. Propomos que você reflita sobre isso.
Cair na obsessão de cumprir cada expectativa do nosso parceiro, família ou chefe acaba com a nossa força mental. Ficamos com poucos recursos emocionais e psicológicos, e inclusive desenvolvemos um tipo de anemia existencial onde o tecido da nossa autoestima é seriamente afetado.
O mais complexo de tudo isso é que este sacrifício de vida nem sempre é recompensado. Nem todo mundo entende de reciprocidade nem aprecia o nosso esforço, mas mesmo assim continuamos investindo neles. Além disso, essa dedicação mental não conhece feriados ou descansos no final da jornada.
A sobrecarga psíquica na qual deriva a pessoa complacente se intensifica ainda mais com os pensamentos obsessivos e com uma miscelânea de diálogos internos dominados pela ideia de que “se eu não fizer isso é possível que…”, “tenho que fazer isso muito bem porque se não estiver perfeito, pode ser que…”.
Temos que ter em mente um aspecto essencial. Este estresse contínuo, com base em que cada vez assumimos mais exigências do que podemos suportar, acaba muitas vezes no ciclo da depressão. Albert Ellis, famoso psicoterapeuta cognitivo, nos lembra que esse sofrimento vital não se deve somente a essas pessoas que nos demandam, que nos exigem perfeição e favores envenenados. Somos nós, com as nossas crenças irracionais, que intensificamos ainda mais um sofrimento que poderia ser evitado.
Uma dessas crenças irracionais é pensar que a aprovação alheia nos valida como pessoas. É possível que nos tenham feito acreditar nisso desde crianças. No entanto, crescer, amadurecer e evoluir é se aproximar um pouco mais de si mesmo para descobrir que a única pessoa que nunca devemos decepcionar somos nós mesmos.
Assim, quanto mais cedo entendermos que, por vezes, o que fizermos não estará bom para muitos, melhor. Conseguiremos ir para a cama com uma consciência tranquila, sem peso algum, sem ansiedades. É um modo sensacional de investir em qualidade de vida.
Não importa que você não tenha um talento especial para contar piadas. Nem que você tenha se recusado a seguir aquela carreira que seus pais sonharam. Também não importa que os seus melhores amigos possam ser contatos nos dedos de uma mão ou que quando você ri, o faça de forma escandalosa. Nada importa enquanto você for VOCÊ em toda a sua essência, VOCÊ em cada palavra dita, em cada ato realizado.
Quando uma pessoa tem a coragem de deixar de lado a complacência, emerge esse ser autêntico, pleno e maravilhoso que todos levamos lá dentro. E quem não gostar que vire as costas. Quem não gostar que vá para o caminho oposto. Porque enquanto houver respeito, vai haver convivência. No entanto, assim como dissemos anteriormente, o primeiro passo é respeitarmos a nós mesmos.
Vamos explicar como você pode conseguir fazer isso.
Como deixar de ser uma pessoa complacente
Uma pessoa complacente é um dos seres mais amáveis que podem existir. Os outros sabem disso, e muitas vezes se aproveitam dela. É exatamente isso que nos ensinam no livro “Egoísmo saudável: como cuidar de si mesmo sem se sentir culpado” de Richard e Rachel Heller, onde, além disso, descrevem o esgotamento mental e também físico ao qual costuma levar este tipo de perfil comportamental.
No início vai ser difícil. Os atos de reflexo não desaparecem assim, do nada. No entanto, tenha em mente este simples conselho: deixe passar alguns minutos entre o pedido de quem está a demandar e a sua resposta, e faça com que esta te faça feliz.
Este será o momento em que você terá deixado de ser um complacente.
Imagem de capa: Shutterstock/Tithi Luadthong
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
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