Vivemos, muitas vezes, presos a amarras condicionadas a convenções e normas de comportamento que nos tolhem a liberdade necessária ao bem viver. Acumulamos estresses desnecessários e lamentamos diariamente aquilo que poderíamos fazer ou deveríamos ter feito, com a consciência intranquila, ou seja, acabamos nos sentido de maneira oposta ao que gostaríamos, mesmo após tantas privações e castrações, muitas dela infundadas. É preciso permitir-se!
Permita-se sentir o sabor dos alimentos demoradamente, mastigando e sorvendo cada mistura de gostos, desfrutando o recarregar de energias em todo o prazer que ele encerra. Ouça e aprecie a letra de uma música de que gosta, analisando-a e conscientizando-se da magia que a melodia imprime em seus sentidos.
Permita-se contemplar a natureza, o verde, ou mesmo a rusticidade do concreto à sua volta, sentindo-se parte integrante da paisagem onde transita. Feche os olhos e escute a sonoridade que permeia o silêncio interior, os movimentos voláteis que circundam sua existência na ausência de luz.
Permita-se enxergar o parceiro, sua presença enquanto pessoa, sua importância na caminhada que trilham juntos. Coloque-se no lugar do outro, para que estenda seu campo de visão além de si mesmo e compreenda sua importância como ser constituinte de um todo coletivo.
Permita-se correr riscos, em nome do amor, da amizade, de si mesmo. Esqueça o estabelecido, o hegemônico, tudo aquilo que lhe ensinaram. Arrisque-se e assuma seus erros. Reveja conceitos e atitudes, evoluindo o fluxo de suas ideias e pensamentos, em consonância com o célere movimento da história e da vida.
Permita-se perdoar a si mesmo, redimindo-se dos pecados imaginários que carrega inutilmente nos ombros e que emperram seu caminhar, estagnando sua evolução pessoal. Renda-se e desmorone, cedendo, quando em vez, às suas fraquezas e aos instantes em que elas momentaneamente vencem, para que se afastem fantasmas criados por você mesmo. Levite os sentidos, torne-se mais leve. Ria, gargalhe, na rua, no trabalho, no bar da esquina, onde der vontade.
Permita-se desejar a quem lhe acelera o coração, sem preconceitos, julgamentos, desde que não machuque ninguém pelo caminho. Guie-se, quando preciso, pela atração, pela química, pela libido, acalmando o fogo que não se abranda por meio do sufocamento de desejos. Acorde seus sonhos, traga-os à vida real, compartilhando-os com quem acredita em seu potencial, naquilo que você é.
Permita-se entregar-se à paixão que lhe rouba os sentidos, que lhe incendeia os poros e lhe furta o respirar, nem que seja alguém com quem quebrará a cara, pois assim aprenderá, ainda que dolorosamente, que os instantes de gozo não bastam para preencher os sonhos de uma vida toda.
Permita-se viver, permita-se respirar tranquilamente. Arrepender-se do que nem chegou a ser feito traz tão somente frustração, mas arrepender-se do que se tentou fazer traz coragem e aprendizado. A vida passa rapidamente, mas o tempo gasto com queixas e arrependimentos parece interminável. Não colecione lamentações, eternize momentos especiais e, assim, sempre terá a sensação de que a vida conspira a seu favor. Assim, sempre terá a sensação de que é feliz – e, na verdade, então estará realmente sendo feliz.
Imagem de capa: Olena Andreychuk/shutterstock