No lugar onde eu morava as pessoas costumavam usar com frequência, a seguinte expressão: “passar reto”.
Esse termo significa não dar atenção a alguém ou alguma coisa que segundo nosso julgamento, não a merece (ao menos, não naquele momento). E vale aqui, uma explicação importante: “passar reto” não é tornar-se insensível a tudo e a todos. Não é ficar indiferente aos problemas alheios. Não é deixar de se importar com os males desse nosso mundo. De forma alguma. É, sobretudo, não investir tempo e energia naquilo que ao final das contas, não será capaz de nos acrescentar nada (ou nada de relevante, pelo menos). É não dar importância aquilo que de fato não tem importância.
Mas o que tem ou não, importância para nós? Quem realmente merece nosso interesse? O que é relevante e deve ter nossa preocupação? O que vale nossa atenção?
Essas perguntas, evidentemente, são difíceis de responder e cada um de nós, mediante nossos conceitos, terá respostas diversas para cada uma delas. Não só porque somos, evidentemente, criaturas únicas, mas também em função do contexto, o tempo e a idade.
O contexto no qual era imprescindível dar uma resposta pode tornar-se irrelevante no futuro. O que ontem detinha nosso interesse pode amanhã, não mais merecê-lo. E sobretudo, a idade. Se essa vier acompanhada de certa maturidade, nos ajudará e muito a separar o joio do trigo.
Em nosso dia-a-dia, somos confrontados com inúmeras situações nas quais precisamos decidir se vale a pena dar ou não importância. No trabalho, em casa, no trânsito, nas redes sociais, na escola, e em outros tantos grupos sociais e locais públicos nos quais estamos inseridos ou frequentamos, nos deparamos com circunstâncias que nos impelem essa decisão.
Será que vale a pena revidar a grosseria daquele motorista mal educado? Será que é necessário responder às ironias daquele colega de trabalho que faz das “alfinetadas” sua função prioritária de todos os dias? Será que devemos permitir que aquele nosso vizinho que nunca nos cumprimenta e parece sempre estar de mal humor, estrague o nosso dia? E nas redes sociais, (aaah, as redes sociais…) será que toda postagem alheia merece meu comentário? E os comentários feitos em minhas postagens, valem minha tréplica?
E já que entramos no campo – às vezes, “minado” – das redes sociais, vale aqui um aparte. A internet deu a vez e voz a muitos de nós (nenhuma novidade, nessa afirmativa não é mesmo?). E, sendo assim, é inteiramente compreensível que a gente queira usar essa ferramenta para esse fim. Então, externar nossos pensamentos e opiniões, tornar-se absolutamente compreensível, eu diria. E não seria nenhum exagero afirmar que, pode até ser bastante salutar esse exercício de expressão. Quem sabe até, um pouco terapêutico…….
Porém, da mesma forma que pode ser positivo, pode ser nocivo e desagradável. Então, será que é necessário se fazer ouvir todo o tempo e sobre tudo o que pensamos? Será que devemos opinar sobre tudo que é postado? E mais, de que forma estamos expondo nossos posicionamentos? De que forma estamos opinando?
Todos esses questionamentos são importantes pela reflexão que nos propicia, nos levando a refletir sobre o que realmente tem relevância em nossas vidas. Talvez assim, paremos de desperdiçar nossas energias com aquilo que é desimportante e por isso, não nos trará benefício algum. Pelo contrário, nos transformará em pessoas irritadas, tensas, mal humoradas, exaltadas.
Então, saber em quais situações, devemos “passar reto”, pode ser de grande importância para a preservação do nosso bem-estar físico e mental. Pois como diz um antigo ditado:
“Às vezes é melhor estar em paz do que estar certo”.
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